“O Manual do Mago Frugal para Sobrevivência na Inglaterra Medieval” foi o meu primeiro contato com Brandon Sanderson, numa experiência muito gratificante e proporcionada pela Editora Trama, que publicou o segundo livro da coleção Projetos Secretos.
Acredito que muitos fãs concordam e defenderão que eu deveria ter começado com alguma das obras que integram o Cosmere, como é chamado o universo composto pelas obras de Brandon Sanderson, com Mistborn, Elantris, Warbreaker, entre outros, com sagas e eras conectadas. Espero que em breve eu comece a minha jornada por alguma ponta desses mundos, quem sabe por “Tress, a Garota do Mar Esmeralda” ou até mesmo com os próximos lançamentos dessa coleção.
Colocando o leitor na mesma situação do protagonista, O Manual do Mago Frugal para Sobrevivência na Inglaterra Medieval apresenta John West, um personagem misterioso que acorda no que parece ser a Inglaterra Medieval, porém sem nenhuma lembrança sobre quem ele é. Num primeiro momento, sua principal missão será recuperar a memória e entender o que aconteceu, e para isso ele precisará contar com páginas do manual que dá título ao livro. No entanto, aos poucos essa aventura se expande por conta do seu passado, a interação com os demais personagens e sua presença neste mundo.
Ao lado de Sefawynn, uma espécie de feiticeira, e Ealstan, um governante local, vamos aprendendo mais sobre uma jornada que inicialmente parece ser apenas uma viagem no tempo, mas que vai se aprofundando numa ficção científica com dimensões e realidades distintas. Assim como a questão do idioma, que parece ser familiar e ao mesmo tempo possui signos e significados diferentes do que conhecemos. A crença e fé de um povo medievo fazem com que John torne-se um aelv, numa espécie de ser mágico, criado pelo autor exclusivamente para essa narrativa, ao lado de seres como os wight, Woden e Logna, que constróem um panteão mítico e explorado ao longo da história.
Após uma situação inicial, John, Sefawynn e Ealstan parte numa aventura de resgate e tentando evitar a invasão dos Homens da Horda, ao mesmo tempo em que o protagonista descobre mais sobre as memórias perdidas, inclusive sobre sua esposa e seu antigo parceiro. Essa evolução também acontece nos seres dessa versão da Inglaterra, vivendo mentiras e conhecendo sobre um mundo que ainda nem aconteceu para eles, principalmente quando temos a inclusão de Yazad e Thokk, que acrescentam uma camada extra sobre religiosidade e crença, melhorando ainda mais algumas temáticas abordadas pelo autor.
O enredo consegue trabalhar os pontos sobre ficção com a tecnologia ao redor da vida passada (ou atual) do protagonista, com aprimoramentos corporais, uma empresa por trás da viagem feita por ele como parte de um entretenimento, assim como armas e os vilões. Ulric e Quinn surgem como ameaças anacrônica, inclusive com arma laser capaz de fazer com que esse povo medieval rogue aos deuses com medo dessa ameaça desconhecida, assim como o conhecimento acumulado do protagonista sobre essa era ofereça certa vantagem sobre os confrontos históricos enfrentados por ele.
Com muito humor, num nível próximo ao que podemos ver em Douglas Adams, Brandon Sanderson inclui a Mago Frugal Inc de maneira magistral por meio do manual feito pelo mago Cecil G. Bagsworth III, além de trazer detalhes do nosso dia a dia como parte do comportamento de alguns protagonistas como, por exemplo, a mania em avaliar com estrelas. Outros detalhes sobre conectividade, nanotecnologia e habilidades técnicas acabam fazendo parte dessa aventura, ao mesmo tempo em que rivalizam a mitologia baseada em antigas divindades.
Com muitas referências de obras como O Guia do Mochileiro das Galáxias, Dr. Who, De Volta para o Futuro e, principalmente, Westworld, a leitura é fácil e a história é muito agradável, pois o autor consegue misturar fantasia e ficção científica através de uma jornada misteriosa, com recompensas prazerosas a cada entendimento sobre essa dimensão.
A edição brasileira lançada pela Editora Trama é digna de um espaço em sua estante numa edição de luxo, sendo um item obrigatório para os colecionadores de Brandon Sanderson, e uma boa opção para quem gosta de uma ficção com leitura rápida. Com capa dura e 416 páginas, o projeto gráfico também valoriza as ilustrações de Steve Argyle, que pontuam a história como se também estivéssemos lendo um manual, com bônus de elementos visuais que constroem outras pequenas narrativas.