Routine passou tanto tempo no vácuo do espaço que deveria ter sido lançado deformado. Mas não, quando finalmente aterrissa, mais de 13 anos depois de seu anúncio original, o que retornou desse vácuo é um horror sci-fi incrivelmente moderno, elegante e assustador. Um jogo que parece convidar você para uma caminhada “tranquila” pela lua… e, no meio do trajeto, sussurra algo no seu ouvido que te faz virar a cabeça devagar, só para perceber que não tem ninguém ali. Pelo menos, ninguém vivo.
Explorando a base lunar

Em ROUTINE, você não é um herói, não é um soldado, você é um engenheiro, um trabalhador comum jogado dentro de uma base lunar abandonada chamada Union Plaza, onde cada corredor parece amaldiçoado por um século de poeira espacial e segredos armazenados em arquivos que deveriam ter permanecido apagados.
A primeira impressão de ROUTINE é esmagadora: luzes fluorescentes que piscam como olhos cansados, janelas gigantes derramando aquele branco morto do luar, túneis com profundezas tão escuras que você quase jura ver algo se movendo lá dentro. A estética “retro futurista” deixa tudo com aquela cara de tecnologia velha o bastante para falhar no pior momento, mas avançada o suficiente para te lembrar que você está lidando com máquinas… e máquinas têm vontade própria aqui.
Inicialmente o jogo te deixa perdido. O ritmo é lento e confuso, podendo atrapalhar quem busca uma jogabilidade mais direta. Particularmente fiquei quase uma hora perdido naquele ambiente pouco convidativo e claustrofóbico, sem saber o que fazer e como usar o CAT (falerei sobre isso abaixo). É necessário extrema atenção aos detalhes para não ficar perdido.
Conheça o CAT

ROUTINE quase obriga você a tocar em cada botão possível, cada módulo, cada terminal que range. O CAT, seu gadget principal, é praticamente um personagem: uma mistura de arma com câmera lunar, um dispositivo que você precisa ativar, configurar, carregar bateria, abrir portas, salvar o jogo em determinadas partes, apontar e rezar para que funcione. Ele também é sua lanterna, seu scanner, seu mini-arsenal… e também sua prova viva de que nada nesta base foi projetado para facilitar sua sobrevivência.
O grande prazer masoquista de ROUTINE está no encontro com os Type-05, máquinas altas, rígidas, que ficam imóveis como cadáveres mecânicos… até não ficarem mais. Quando eles acordam a única estratégia sensata é correr. O jogo inclusive deixa claro: o CAT não vai te salvar de verdade. Ele só vai atrasar o inevitável.
Se você já jogou Alien Isolation ou Outlast, saiba que é o mesmo sentimento de impotência. E ainda assim, apesar do medo, do pânico e das passadas estrondosas ecoando pelos corredores metálicos, o jogo dá espaço para respiro. Às vezes, até para rir, com a cabine de arcade “Gunshow” no shopping lunar, ou no robô de quatro pernas que solta frases motivacionais que soam mais assustadoras do que inspiradoras.
Além dos monstros de metal

Um dos pontos altos de ROUTINE estão nos puzzles. Eles são inteligentes, lógicos, cheios de bilhetes rabiscados, e-mails desesperados, com dicas escondidas em meio ao caos deixado pela equipe desaparecida. Não são quebra-cabeças absurdos, mas exigem foco… foco que fica cada vez mais difícil de manter quando você jura ouvir passos atrás de você enquanto tenta ler um documento. E sim: o jogo, cruelmente, não pausa quando você abre o menu.
A história, por sua vez, é contada com a sutileza de um filme de Kubrick: poucas palavras, muita sugestão, e um subtexto que você só percebe quando já está tenso demais para absorver tudo.
Routine não tenta ser um épico de 20 horas, e ainda bem. Ele é direto, firme, cheio de personalidade e dono de uma estética tão forte que poderia carregar uma franquia inteira nas costas.
Considerações finais

Routine transforma o desconforto em imersão e arte. Preferindo te assustar no sussurro, no escuro, deixar você preso em corredores silenciosos e permitir que sua própria imaginação faça o trabalho pesado. Com uma atmosfera sufocante, puzzles inteligentes e uma estética retro futurista impecável, o jogo consegue ser moderno e nostálgico ao mesmo tempo. Mesmo com momentos de frustração e um início desorientador, Routine entrega um terror sci-fi imersivo, opressivo e cheio de identidade.
A review de ROUTINE foi realizada com uma cópia cedida pela Raw Fury.
Distribuidora: Raw Fury
Desenvolvedor: Lunar Software
Gênero: Survival horror
Disponível para: PlayStation 5 e PC
Data de lançamento inicial: 4 de dezembro de 2025
