Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Focus Home Interactive.
A Plague Tale: Innocence nos apresentou a uma Idade Média alternativa onde, ao invés da famosa peste bubônica, a humanidade precisou enfrentar uma doença muito mais mortal – e sobrenatural. Substituindo a pulga dos roedores pelos próprios ratos, aqui somos submetidos a situações de vida ou morte onde o principal objetivo é sobreviver a infindáveis hordas de ratazanas assassinas, que adoram comer carne humana. Amigável, não é?
Três anos depois, A Plague Tale: Requiem dá continuidade à jornada dos irmãos Amicia e Hugo, que continuam em busca de uma cura para a maldição do garoto. Requiem é uma expansão decente do primeiro, apesar do salto não ter sido muito grande. É basicamente uma sequência que visa explorar melhor a nova geração de consoles, mas não vai muito além em trazer novidades dentro do próprio jogo.
Alguém chama a vigilância sanitária
A Plague Tale: Requiem é uma continuação direta de Innocence, então esse não é um daqueles jogos que dá para pular o primeiro e ir direto para o segundo. O foco continua sendo em narrativa, então prestar atenção na história e se apegar àqueles personagens faz parte da experiência (caso contrário, você pode acabar achando o jogo bem chato). De forma resumida e evitando ao máximo qualquer tipo de spoilers, a trama da vez gira em torno dos irmãos em busca de uma ilha milagrosa que aparece nos sonhos de Hugo, esta que, teoricamente, esconde a chave para a cura da Mácula – a maldição que o garoto carrega e que deixa os ratos sedentos por sangue.
Se você jogou o primeiro, vai se sentir em casa, pois é praticamente uma expansão bem longa daquilo que já vimos no anterior. São as mesmas mecânicas de furtividade, criação de itens por alquimia, combate com atiradeira e puzzles que misturam tudo isso em situações diversas, mas que no geral se limitam a apenas duas coisas: fugir de ratos ou fugir de soldados inimigos. A diferença é que, neste jogo, Amicia está com sangue nos olhos e sem receio algum de matar, então contamos com uma variedade maior de armas e truques para atacar inimigos em situações de risco. Contudo, não se engane, pois os recursos ainda são limitados e ela não consegue entrar em confronto direto com outros soldados, então tudo precisa ser friamente calculado.
Nos primeiros capítulos, a narrativa se desenvolve bem e insere pontos interessantes o suficiente para deixar aqueles que jogaram o primeiro curiosos sobre o que está por vir. Porém, quanto mais eu avançava na história, mais sentia que ela estava tomando o mesmo rumo de Innocence e que, no final, estamos jogando “a mesma coisa” em um novo mapa e, vez ou outra, com aliados diferentes. O déjà vu é constante, afinal tudo se resume a fugir de ratos, visitar lugares cheios de gente morta e tentar a sorte contra um punhado de soldados. No final as coisas esquentam novamente, mas fica esse “vácuo” de novidades entre o início e o fim.
Mais bonito, mais mórbido
A maior diferença disparada de A Plague Tale: Requiem está nos gráficos, que deram um salto realmente impactante. O primeiro já era bonito, mas as paisagens deste aqui estão fenomenais e vão arrancar momentos de pura contemplação. Vale lembrar que não estamos falando de um AAA de alto orçamento e sim de um jogo que, apesar de não ser pequeno como um indie, não é grande como os das principais franquias que estamos acostumados. A direção de arte da Asobo está de parabéns!
Contudo, nem tudo são rosas e, para que pudéssemos apreciar essas belas paisagens em seu potencial máximo, os desenvolvedores decidiram sacrificar o modo performance, ou seja: só é possível jogar em 30fps. Para alguns isso pode não ser problema, mas eu fui um dos que entortaram o nariz, afinal não custava nada dar a opção de sacrificar ray tracing e algumas texturas para poder curtir o game a 60fps. Aqui o framerate é constante na maior parte do tempo, com quedas ocasionais durante momentos específicos, mas nada que atrapalhe a experiência. Ainda assim, lançar o jogo limitado aos 30fps em pleno 2022 foi um baita tiro no pé.
Quem for jogar no PS5 ainda poderá curtir as interações exclusivas com os recursos do Dualsense, que poderia ser melhor, mas também não é de se jogar fora. O peso de cada gatilho quando vamos atirar com a atiradeira ou com a balestra é bem legal, além do efeito que sentimos no interior do controle ao pisar em diferentes superfícies (grama, areia etc.). São detalhes simples, mas que deixam a rotina de caminhada do jogo mais interessante.
Falando em “rotina”, se você por acaso não jogou o primeiro e ainda não sabe como A Plague Tale funciona, saiba que não é um título repleto de ação e empolgante do início ao fim. Ele é 100% linear, onde seu único objetivo é andar para frente e enfrentar algumas situações no caminho – tudo isso enquanto escuta os personagens falando incansavelmente (sério, chega a irritar). Como já enfatizado, quase sempre você terá que lidar com enxames de ratos ou soldados; a primeira situação seriam os momentos de puzzles, onde é necessário usar suas armas e a alquimia para interagir com coisas do cenário e sair vivo do lugar; a segunda seriam os trechos stealth, que agora abrem espaço para um gameplay mais agressivo, mas ainda forçando o jogador a permanecer furtivo na maior parte do tempo.
Dentre as novidades, agora temos mais controle sobre os ratos a partir de um ponto do jogo, então controlar as hordas faz parte dos puzzles de alguns trechos e ainda pode ser usado “à vontade”, se a situação permitir. Outra coisa legal que não é uma novidade de mecânica, mas que foi introduzida neste jogo, são as fugas contra “ondas” de ratos. Em certos momentos, haverão tantos ratos na tela que eles formarão uma espécie de “maré”; aqui, a câmera fica na frente de Amicia e nosso objetivo sempre é correr como se não houvesse amanhã (no mesmo estilo daquelas fases em que fugíamos de pedras no Crash Bandicoot). Por mais que os caminhos sejam previsíveis, são trechos bem intensos e legais de jogar.
Dito isso, acho que agora ficou mais fácil de entender que A Plague Tale: Requiem é uma expansão mais bonita e levemente incrementada de Innocence, sem ousar demais, mas ainda entregando uma continuação de qualidade. Quem jogou e curtiu o primeiro certamente vai gostar desse também, mas caso contrário, sua opinião não vai mudar. No fim, fica uma sensação de que ele poderia ter sido bem melhor, mas é fato que essa história ainda não acabou e teremos uma trilogia, então espero que o terceiro traga uma conclusão épica para as desventuras de Amicia e Hugo.