O Universo Cinematográfico da Marvel passou quase uma década buscando uma fórmula perfeita para seus novos filmes após Vingadores: Ultimato (2019), que concluiu com maestria um dos arcos mais impressionantes do cinema. Diante de mais erros do que acertos, o UCM pode finalmente ter encontrado o caminho em direção a mais um destino glorioso. Com Thunderbolts*, ao invés de costurar uma linha ambiciosa e expansiva de seus universos, a Marvel recua ligeiramente e concentra suas forças em uma narrativa mais intimista, crua e complexa.
Diferente dos demais filmes do UCM, Thunderbolts* serve como um passo cauteloso e parcialmente sombrio ao mesmo tempo que restaura o antigo brilhantismo da Marvel em adaptar boas histórias. Mesmo que utilizando da mesma fórmula de sempre, o filme ousa em sair da caixinha ao humanizar seus personagens e suas tramas que trazem cargas realmente dramáticas em seu roteiro.
A questão é que Thunderbolts* não é perfeito – longe disso – mas se comparado com o desinteressante Capitão América: Admirável Mundo Novo (2025) e as alegorias nostálgicas com palavras de baixo calão de Deadpool & Wolverine (2024), o filme pode facilmente ser comparado como um oasis no deserto.

Apesar de ser divertido assitir alguns anti-heróis desajustados trabalhando juntos, Thunderbolts* também é reflexivo e profundo de uma maneira que nenhum outro filme do UCM conseguiu ser. O filme se sustenta em uma abordagem mais pungente ao abordar com sensibilidade questões como instabilidade mental e autoestima à medida que o caos se instala.
Essa façanha não somente traz um frescor ao UCM como também implementa um novo ritmo promissor e necessário que os novos filmes de heróis estavam precisando. É uma reinterpretação mais humana do heroísmo que remodela o futuro do UCM e aproxima, de forma mais natural, o espectador da obra.
Na verdade, chega a ser brilhante como decidiram explorar e introduzir a saúde mental sob o disfarce de vilania. É irônico pensar que um grupo de personagens com a estética de pancadaria pudessem se unir a um propósito por apenas compartilharem das mesmas dores e traumas. No fim, essa união nada convencional vai te fazer sorrir, mas pode emocionar também.

Parte desse trabalho se dá ao elenco que faz um trabalho absolutamente limpo e decente. O destaque fica com Florence Pugh, que dá vida a Yelena Bolova e retorna como a nova Viúva Negra, é a âncora de Thunderbolts*. Diferente do que foi visto no filme da Viúva Negra (2021), sua personagem está machucada e assombrada pela culpa de seu passado, e Pugh consegue extrair esses sentimentos de forma orgânica, capturando todo um arco emocional até em seus momentos de silêncio.
David Harbour também retorna como Guardião Vermelho e seu personagem finalmente serve, não somente como alívio cômico, mas também ganha mais profundidade em sua história. O ator novamente sustenta com êxito toda a loucura e exagero do anti-herói em tela, ele com certeza rouba a cena em diversos momentos.
Nessa mesma medida, Wyatt Russell, o Agente Americano da série
Falcão e o Soldado Invernal está tão envolvente como sempre. Por outro lado, Hannah John-Kamen que assumiu o papel de Ava Starr, A Fantasma, tem aparições sutis e pouco explorados no filme.
O estreante da Marvel, o ator Lewis Pullman completa o elenco como Robert Reynalds, um homem nada comum que tenta se encontrar na equipe, e também faz um trabalho de atuação realmente impressionante com o seu personagem curioso e misterioso – para não revelar muito.

Como pontapé para a construção de um novo tipo de Vingadores, a equipe de Thunderbolts* se escala como uma entrada sólida e poderosa, estruturados através de um começo, meio e fim satisfatórios. A ideia pode parecer mais frágil de início, mas a medida que a história vai ascendendo ela se revela como uma produção honesta, com atuações grandiosas e um humor mordaz.
Sendo assim, o filme simplesmente não se limita ao lançar seus personagens em cenários caóticos e explosivos, como os força a lidarem com seus os seus piores medos. O humor, embora presente como de praxe, é carregado por piadas mais pontuais e sorrateiras, então não chega aos níveis de outros filmes do UCM, como Guardiões da Galáxia ou Deadpool, mas ainda lembra que estamos assistindo algo da Marvel.
Renovado, divertido e empolgante na medida certa, Thunderbolts* é também uma história de superação e reconciliação. Lembra um pouco de The Boys, só que mais contido e sombrio. É a representação mais sincera sobre um grupo desorganizado de heróis caídos que lutam contra suas prórpias vulnerabilidades. Definitivamente, é um filme diferente de tudo que a Marvel tentou fazer nos últimos anos, só que agora é notavelmente melhor, mas ainda não impecável.
Uma das melhores sensações que existem no mundo é poder sair da sala de cinema com um sorriso e até lágrimas secas pelo rosto, e Thunderbolts* definitivamente consegue fazer isso. Pode se dizer que o Universo Cinematográfico da Marvel finalmente poderá respirar tranquilamente após uma longa sequência desastrosa em seus recentes e últimos projetos para as telonas.
Thunderbolts* estreia em 30 de abril nos cinemas brasileiros.