A review de The Precinct foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Kwalee.
The Precinct é, antes de tudo, uma carta de amor aos clássicos policiais dos anos 80, aqueles filmes de vingança, perseguições e moralidade ambígua, embalados por trilhas de sintetizador e iluminados por letreiros de neon. A ambientação é tão característica que parece mesmo ter saído de uma fita VHS esquecida numa locadora de bairro, descoberta por acaso e restaurada com as tecnologias de 2025. Vestimos a farda de Nick Cordell Jr., um jovem policial que tenta se encontrar entre o peso do legado familiar e a imoralidade que domina Averno City, uma metrópole fictícia que transpira decadência e perigo.
Atmosfera e estética: a força do visual

Um dos maiores acertos do jogo é a sua atmosfera. Assim que o jogador assume o controle, é lançado diretamente nas ruas escuras e úmidas de Averno City, onde a chuva é quase constante e o neon pinta os becos e fachadas com tons vibrantes e frios. A estética retrô não é apenas um adereço superficial; ela está no DNA do jogo e permeia cada detalhe do cenário, evocando lembranças dos fliperamas e dos filmes B dos anos 80.
Apesar dessa forte inspiração nostálgica, The Precinct traz o equilíbrio entre o clássico e o contemporâneo, transportando o jogador para um mundo familiar, mas sempre com um toque de novidade e personalidade própria.
Uma narrativa clássica, mas que poderia ir além

No centro da experiência está Nick Cordell Jr., filho de um policial assassinado em serviço, que carrega não só o distintivo, mas também o peso das cicatrizes familiares. A história é pautada por motivações clássicas: vingança, justiça e o desejo de limpar as ruas. Não há grandes surpresas aqui, e o enredo segue os clichês típicos do gênero policial, mas isso não necessariamente é um problema, é parte do charme, afinal.
Contudo, o problema está no modo como a narrativa é entregue. Pois ela peca pela simplicidade excessiva. A trama se desenvolve através de desenhos estáticos, com pouca ou absolutamente nenhuma expressividade ou variação, o que esvazia o impacto emocional de momentos que deveriam ser mais intensos. Não há animações faciais ou mudanças visuais durante os diálogos, salve algumas poucas exceções, o que torna a experiência um tanto fria. A dublagem, felizmente, compensa parte dessa limitação, trazendo personalidade aos personagens e adicionando alguma carga dramática às cenas cruciais.
Variedade dentro da simplicidade

Em termos de jogabilidade, The Precinct busca oferecer uma experiência mais ampla do que um simples shooter. O jogador pode optar por abordagens furtivas, desativando câmeras e evitando confrontos, ou seguir por um caminho mais direto, com tiroteios intensos e perseguições explosivas pelas ruas de Averno. Essa liberdade de escolha é um dos pontos positivos do jogo, permitindo que cada patrulha tenha um ritmo próprio.
Além do combate, a investigação também tem seu espaço: coletar pistas, interrogar suspeitos e montar casos que afetam o desenrolar da narrativa são atividades que ajudam a quebrar a monotonia das missões. Porém, mesmo com toda essa variedade aparente, a execução de cada sistema é relativamente simples. De modo geral, o jogo entrega o básico, sem grandes inovações ou profundidade, mas cumpre bem o seu papel.
Os tiras chegaram

Sem dúvida, o maior destaque de The Precinct está nas perseguições de carro. A física é bem calibrada, equilibrando realismo e um estilo arcade que torna cada fuga ou perseguição uma sequência intensa e emocionante. A sensação de velocidade é palpável, e manobrar pelas curvas fechadas, evitando colisões e buscando atalhos entre os becos da cidade, cria momentos de pura adrenalina.
Dirigir em Averno exige não só habilidade, mas também coragem pois cada colisão ou derrapagem é um lembrete de que o caos está sempre à espreita. É nesse aspecto que o jogo realmente brilha, criando experiências divertidas.
Fazendo baculejo

Do ponto de vista gráfico, The Precinct não faz feio, o design da cidade reforça a sensação de decadência: ruas escuras, arquitetura brutalista e um contraste constante entre luz e sombra criam um cenário denso e opressivo, onde o crime parece sempre um passo à frente da lei. A estética é coesa e reforça a ideia de que Averno City não é apenas um pano de fundo, mas um personagem por si só, um organismo vivo e imoral que engole quem tenta enfrentá-lo.
A trilha sonora, embalada por sintetizadores densos e atmosferas eletrônicas, cumpre bem seu papel ao reforçar o clima oitentista. Contudo, em cenas de perseguição, acaba pecando pela monotonia, sem a energia ou a variação necessárias para manter a tensão sempre no alto.
O mais divertido é fazer uma revista nos NPCs, pois pequenas abordagens rotineiras podem rapidamente escalar para perseguições perigosas ou tiroteios intensos. Revistar um suspeito qualquer pode revelar uma arma ilegal ou um carregamento de drogas, e até uma simples sirene pedindo para um carro encostar pode acabar em uma fuga desesperada pelas ruas da cidade. Esse elemento imprevisível adiciona uma camada extra de diversão à experiência.
Considerações finais

The Precinct tenta evocar o charme dos clássicos filmes de tiras dos anos 80, não pretende revolucionar o gênero, mas também não decepciona. No fim das contas, o jogo é sobre patrulhar as ruas, enfrentar o crime e curtir a vibe de Averno City, sabendo que, por mais que você tente, a cidade sempre será maior do que o policial que quer salvá-la.
Distribuidora: Kwalee
Desenvolvedor: Fallen Tree Games Ltd
Gênero: Ação
Disponível para: PlayStation 5, Xbox Series X / S e PCs.
Data de lançamento inicial: 13 de maio de 2025