James Gunn saiu da Marvel após criar uma das trilogias mais divertidas e emocionantes do MCU, Guardiões da Galáxia. O terceiro volume, em especial, foi uma despedida tocante e ambiciosa, consolidando sua habilidade em contar histórias sobre personagens marginalizados com grande humanidade. Mesmo antes de assumir o novo universo da DC, Gunn já havia deixado sua marca com O Esquadrão Suicida e Pacificador. Agora, ao comandar Superman, ele dá o primeiro passo rumo à reconstrução do DCU, e não poderia ter começado de forma melhor.

Superman diverte, emociona e voa alto. É um filme que empolga do início ao fim, lembrando um episódio especial do clássico desenho da Liga da Justiça, com ritmo ágil e envolvente. Mas o mais importante: Gunn estabelece, com segurança e personalidade, o novo tom do universo DC. Diferente da proposta “pseudo-realista” da concorrência, aqui a fantasia e a ficção científica são levadas ao centro da narrativa. O extraordinário já é parte do cotidiano: meta-humanos existem há cerca de 300 anos, e isso molda o comportamento das pessoas, a tecnologia, a política e a filosofia desse mundo. Como nos quadrinhos, essa realidade não precisa de explicação, ela simplesmente é.
David Corenswet entrega um Superman que se aproxima muito da essência dos quadrinhos. Um verdadeiro escoteiro, mas sem parecer forçado ou antiquado. Seu heroísmo é sincero, comovente, e se estende até aos animais. Ele carrega ternura, força e carisma, com isso resgata o espírito clássico do personagem com um novo frescor para o público atual.
Na outra ponta, Nicholas Hoult interpreta um Lex Luthor frio, calculista e movido por ódio puro contra os meta-humanos (especialmente o Homem de Aço). Gunn acerta ao usar a tecnologia avançada desse universo como extensão do intelecto de Lex, tornando-o quase um super-humano em termos de mente. Com olhar cortante e voz carregada de tensão, Hoult constrói um vilão à altura do novo Superman.

Rachel Brosnahan vive uma Lois Lane incisiva, determinada e com forte presença. Ainda que o núcleo jornalístico do Planeta Diário seja o ponto mais fraco do filme (com uma solução de roteiro um tanto absurda), Lois serve como elo entre o público e o impacto real do Superman no mundo. Ela contextualiza o herói aos olhos humanos e traz humanidade ao épico.
Outro destaque vai para o núcleo familiar de Clark Kent. Pruitt Taylor Vince, como Jonathan Kent, aparece pouco, mas protagoniza um dos diálogos mais emocionantes entre pai e filho já vistos no gênero d esuper-herói. É nesse momento que o filme revela seu coração: por trás do deus alienígena, há um homem guiado por valores profundamente humanos.
A trilha sonora presta justa homenagem ao clássico de Richard Donner, eternizado por Christopher Reeve, mas Gunn também insere seu toque pessoal, ainda que comedidamente. O humor e a música têm sua medida exata, contribuindo para o equilíbrio entre reverência e inovação.

No fim das contas, Superman de James Gunn é um reboot que respeita o passado, mas ousa olhar para frente. Ele não tenta copiar a fórmula Marvel; ao contrário, cria sua própria identidade: mais colorida, exagerada, fantástica e coerente com o espírito das HQs. Um filme que nos lembra por que amamos super-heróis, não pelo realismo, mas pela esperança. Se este é o primeiro capítulo do novo DCU, então estamos diante de um futuro promissor e, pessoalmente, mal posso esperar pelo que vem por aí.