A review de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater foi realizada com uma cópia cedida pela Konami
Quando Metal Gear Solid 3 foi lançado em 2004, muita gente torceu o nariz para a ideia de um jogo ambientado quase todo em uma selva. Até então, florestas em videogames eram sinônimo de cenários repetitivos e sem graça. Mas Kojima surpreendeu e transformou aquele ambiente em um dos pontos altos da franquia. Agora, com Metal Gear Solid Delta: Snake Eater, a promessa é modernizar essa experiência… mas com tanto cuidado em não mexer no legado do criador que o jogo acaba soando tímido demais, quase como um remaster de luxo.
Bem-vindo à selva

O amor de Kojima pelo cinema sempre foi a alma da série, e aqui não é diferente. O enredo bebe diretamente dos filmes de espionagem da Guerra Fria dos anos 60, misturando intriga política com drama humano em uma narrativa conduzida como um longa-metragem. As cutscenes continuam carregadas de estilo, os flashbacks usam filtros e ângulos que remetem a produções antigas e até os clichês dos filmes B (vilões caricatos, armas absurdas e duelos de personalidade) marcam presença. Tudo isso mantém o DNA cinematográfico que fez Snake Eater ser tão marcante.

Dentro desse cenário cheio de inspirações criado pelo Kojima, a trama central (caso você tenha caído de paraquedas, igual o Snake no início do jogo, e não conhece a história de Metal Gear Solid 3) envolve a missão de impedir a União Soviética de produzir o Shagohod, uma arma nuclear capaz de alterar o equilíbrio da Guerra Fria. O enredo equilibra intriga política e drama humano, trazendo personagens marcantes como o sádico Coronel Volgin, um jovem Revolver Ocelot e a complexa The Boss, cuja presença carrega o peso emocional da história.
Entretanto, neste “remake” a fidelidade quase absoluta ao original gera um pouco de controvérsias, porque apesar do salto gráfico impressionante, com texturas e iluminação ultrarrealistas, as vozes, movimentos e até os ângulos de câmera permanecem idênticos. Essa escolha, vista por alguns como respeito ao material clássico, pode soar a outros como falta de ousadia, ou preguiça fazendo questionar se chamar o jogo de remake foi só uma saída mercadológica para cobrar mais caro.
Memórias de 20 anos atrás

Esse “respeito absoluto” ao material original não é só nas cutscenes, porque boa parte da jogabilidade também ficou presa ao passado. O sistema de camuflagem ainda diverte, e a caça de animais continua sendo parte da experiência, mas nada foi expandido. A sobrevivência poderia ter sido levada a outro nível com as tecnologias atuais, mas a Konami preferiu entregar praticamente a mesma coisa, só que mais bonita. O máximo de novidade é um atalho para trocar camuflagem.
E quando o jogo insiste em ser idêntico, ressuscita também seus defeitos. A inteligência artificial dos inimigos ainda é inconsistente: às vezes eles não percebem Snake nem a um metro de distância, outras vezes basta um passo em falso para ser detectado. Os loadings constantes entre áreas, que eram comuns em 2004, hoje quebram a imersão. Até o sistema de cobertura atrapalha, já que Snake se cola a qualquer superfície, mas não atira dali. O CQC, tão inovador no passado, aqui parece datado e mal polido, principalmente se comparado a Metal Gear Solid V.
Nem tudo é velho

Se algo pode ser elogiado na jogabilidade do remake é a atualização dos controles para um padrão mais atual. Assim que você inicia a campanha ele oferece duas escolhas de jogabilidade. O “Estilo Original” oferece uma câmera com perspectiva em cima da cabeça, e a mira é feita com a visão em primeira pessoa; mesmo sendo o estilo original ainda é menos complicado que o original, mas é desconfortante jogar e não ter um bom panorama do cenário por conta da câmera.
O outro estilo de jogo é o “Estilo Novo”, focado nos controles modernos de jogos de ação. A câmera é em terceira pessoa, dando mais mobilidade. Foi a que usei durante a maior parte do jogo e nem recomendo usar o estilo original, exceto por algum tipo de prova de auto-afirmação.
Os Kerotans estão de volta, os sapos estão espalhados pelas fases e agora com os Ga-ko, patos de borracha que você deve encontrar em locais bem inusitados. Eu realmente não lembro desses patos no original.
O que retornou também são os mini-games de pegar os macacos, assim como no original você desbloqueará itens ao terminar as capturas em tempo.
“I give my life… not for honor, but for youuuu!”

Se tem um aspecto que continua intocável e memorável, além da história, é a trilha sonora. Composta por Harry Gregson-Williams, ela é um espetáculo à parte. Misturando orquestra, eletrônica e até instrumentos acústicos, a OST recria a atmosfera da Guerra Fria com um ar de blockbuster de Hollywood. Do suspense na selva às batalhas explosivas, cada faixa ajuda a dar peso à narrativa.
O destaque absoluto, claro, é o tema “Snake Eater”. Uma homenagem direta às aberturas dos filmes de James Bond, que até hoje arrepia e dá aquele clima de espionagem retrô único. Aqui ele foi recriado com todo o cuidado, e continua sendo um dos momentos mais marcantes da série.
A trilha de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater não só acompanha a jornada, como se sustenta sozinha fora do jogo, algo que poucos games conseguem. É uma daquelas obras que mostram como a música pode transformar uma boa história em uma experiência cinematográfica inesquecível.
Considerações finais

Metal Gear Solid Delta: Snake Eater joga no seguro. Não traz grandes novidades que façam valer o título de remake, mas mantém intacto o legado de Kojima, deixando o jogo praticamente igual ao original. A única mudança real e significativa é a jogabilidade mais moderna de Snake, enquanto todo o resto permanece como antes.
Distribuidora: Konami
Desenvolvedor: Konami
Gênero: Ação
Disponível para: PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC
Data de lançamento inicial: 28 de agosto de 2025
