A literatura especulativa brasileira acaba de romper uma fronteira inédita. O romance de ficção científica Fortunato Poeira, escrito pela autora e editora Anna Martino, teve seus direitos de publicação adquiridos pela editora iraniana Borj Books. A obra, originalmente lançada no Brasil em janeiro deste ano pela Editora Cachalote, será traduzida para o farsi (persa) e deve chegar às livrarias do Oriente Médio em 2026.
A notícia marca um passo significativo para a internacionalização da ficção científica contemporânea nacional, levando uma narrativa intrinsecamente brasileira para um mercado literário com o qual o Brasil tem poucas trocas culturais diretas.

Para Anna Martino, o contrato de publicação foi inesperado e valida a universalidade dos temas abordados no livro, mesmo aqueles com raízes locais. “Foi uma imensa surpresa ver como a história do Fortunato encontrou um público do outro lado do planeta”, comenta a autora. “O que prova, pelo menos para mim, que o ‘roçapunk’ é um sentimento universal! É algo inimaginável para mim, e mal posso esperar para ver o livro traduzido.”
Novela das 21h no Espaço
Fortunato Poeira se destaca no cenário literário por subverter os tropos clássicos da ficção científica. Em vez de grandes batalhas intergalácticas ou heróis militares, a trama foca na figura do “trecheiro” (trabalhadores braçais itinerantes).
A história se passa entre a Terra e a comunidade Bertha Lutz, localizada em uma estação espacial agrícola. O enredo é desencadeado pela morte de Fortunato, o protagonista ausente. Seu amigo Antônio, um fazendeiro espacial, assume a tarefa de organizar o funeral, mas esbarra em uma burocracia que exige a notificação dos familiares para a cremação.

O que se segue é uma busca que revela o verdadeiro drama da vida de Fortunato, transformando a narrativa em uma disputa pela memória e pelo legado do trabalhador. A própria autora define a obra como uma “mistura de novela das 21h e ficção científica”.
Ao focar na experiência humana, nas angústias do presente e nas relações de trabalho, Fortunato Poeira utiliza o futuro apenas como pano de fundo para discutir realidades tangíveis, uma característica que agora será apresentada aos leitores iranianos através da curadoria da Borj Books.