A review de Silent Hill F foi realizada com uma cópia cedida pela Konami.
Ambientado no Japão dos anos 1960, Silent Hill F nos leva à pacata cidade de Ebisugaoka, onde a estudante Hinako Shimizu vê sua vida ser consumida por uma névoa misteriosa e por forças que distorcem a realidade. A cidade silenciosa e rural se transforma em um pesadelo, dominada por flores vermelhas que crescem como fungos e uma atmosfera de horror tanto físico quanto psicológico.
Com roteiro escrito pelo renomado Ryukishi07 (sim, esse número faz parte do nome artístico do moço), trilha sonora do lendário Akira Yamaoka e direção artística que mescla beleza e grotesco, o jogo aposta em temas de insegurança, arrependimento, trauma e inevitabilidade.
A nova cara de Silent Hill

Hinako é uma estudante solitária, retraída e apática, incapaz de se conectar verdadeiramente com os colegas, exceto com um amigo chamado Shu. Ao longo da trama, seus segredos familiares e suas inseguranças são revelados em paralelo ao surgimento de horrores em Ebisugaoka.
A narrativa é construída de maneira lenta e envolvente, criando empatia com a protagonista. Mesmo que Hinako não seja um poço de carisma em um primeiro momento, o jogo faz o jogador se importar profundamente com seu destino e até questionar se suas escolhas no Santuário Sombrio, o mundo dos sonhos, são realmente certas.
Quanto ao título “F” do jogo parece referenciar fatal frame, brincadeira. Parece dialogar com o folclore japonês e com o simbolismo das flores: na cultura nipônica, flores estão ligadas à morte e ao renascimento, o que reflete os temas centrais de infecção biológica, tormento psicológico e transformação presentes no enredo.
Ebisugaoka, a nova Silent Hill

A cidade de Ebisugaoka é um dos pontos altos da experiência. De início, transmite a tranquilidade típica de uma vila rural japonesa, mas logo se transforma em um ambiente enevoado, corrompido e claustrofóbico.
O contraste é marcante: ruas cobertas de névoa, casas abandonadas e flores vermelhas invadindo cada espaço geram um sentimento de angústia constante. O pavor é mais intenso em ambientes fechados, onde o jogador nunca sabe quando um inimigo vai surgir. Com o tempo, porém, a familiaridade com os cenários reduz o impacto inicial do medo, algo comum em jogos do gênero.
Sem medo de bater

Embora seja um jogo de terror, Silent Hill F dá espaço para a ação estratégica. O combate lembra um Soulslike no estilo (não na dificuldade), exigindo observar os padrões dos inimigos e escolher o momento certo para atacar e desviar.
Hinako possui três barras principais: Sanidade, ligada à resistência psicológica e ataques especiais, quando esgota, o dano sofrido aumenta; Vigor, controla corrida, ataques e esquivas; e a de vida, mantém a sobrevivência básica da personagem.
Todas essas barras podem ser aprimoradas em Hokora, pequenos santuários que servem tanto para salvar o jogo quanto para evoluir atributos. Esse sistema adiciona uma camada de estratégia à progressão da personagem.
As armas são quebráveis, mas nunca deixam o jogador desamparado. O verdadeiro desafio está no gerenciamento de itens de cura e vigor, que podem ser acessados rapidamente com atalhos sem interromper a ação.
Os bons e velhos puzzles

Os puzzles continuam sendo parte essencial da identidade da franquia. Eles são intuitivos, mas desafiadores, exigindo atenção e leitura frequente do diário. O quebra-cabeça da escola, por exemplo, é notavelmente complexo e pode prender jogadores por horas.
Já os inimigos trazem forte influência do body horror, com corpos distorcidos, contorcionismos e movimentos perturbadores. Apesar do impacto visual, a variedade é limitada. Depois de um tempo, a previsibilidade de seus padrões enfraquece a sensação de perigo.
Dois mundos, duas experiências

A gameplay se divide em dois planos distintos: a cidade de Ebisugaoka enevoada, com exploração livre, combate com criaturas e interação com personagens humanos que cercam Hinako; e o Santuário Sombrio, um mundo dos sonhos mais onírico e ritualístico, onde Hinako é guiada por um misterioso homem com máscara de raposa. Esse espaço mistura puzzles com narrativa psicológica, explorando simbolismos e mecânicas inéditas na franquia.
Essa dualidade mantém a tradição da série, mas também dá margem para inovação. Alguns jogadores, porém, podem estranhar o tom mais ritualístico e espiritual do Santuário, que leva Silent Hill a um território nunca antes explorado.
Trilha sonora e ambientação

A trilha sonora é o ponto mais alto da experiência. As composições de Akira Yamaoka combinam instrumentais com distorções sonoras que causam desconforto e mexem com a sanidade do jogador. Muitas vezes, a música induz paranoia mesmo quando nada acontece na tela, reforçando o terror psicológico.
Os efeitos sonoros seguem a mesma linha, criando tensão em corredores silenciosos, portas rangendo e respirações quase imperceptíveis.
Conexão com a franquia

Silent Hill F não é uma continuação direta dos jogos anteriores. Em vez disso, funciona como uma antologia, preservando elementos chave (névoa, dimensões paralelas, terror psicológico), mas sem referências explícitas à mitologia já estabelecida.
Essa escolha pode frustrar fãs em busca de ligações diretas com a cidade americana de Silent Hill, mas abre espaço para reinvenção. É uma decisão ousada e, no geral, bem-sucedida. Será que um dia podemos ver um Silent Hill se passando na cidade de Paranapiacaba aqui no Brasil?
Considerações finais

Silent Hill F leva a franquia para o Japão rural dos anos 60, misturando folclore e simbolismos orientais em uma experiência ousada que renova a série sem perder sua essência. Apesar de falhas em algumas escolhas narrativas e inimigos pouco variados, o jogo compensa com uma história envolvente, puzzles criativos, clima sufocante e trilha sonora marcante. O resultado é um título perturbador e atmosférico que mantém o DNA de Silent Hill enquanto abre portas para novas possibilidades no futuro da franquia.
Distribuidora: Konami
Desenvolvedor: NeoBards Entertainment
Gênero: Survival horror
Disponível para: PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC
Data de lançamento inicial: 25 de setembro de 2025
