Após anos de expectativas e turbulências internas, Battlefield 6 finalmente chega como o reencontro da franquia com suas próprias raízes — e, ao mesmo tempo, uma reinvenção ousada do que significa estar em uma guerra moderna. Desenvolvido por um coletivo de estúdios da EA — DICE, Criterion, Motive e Ripple Effect — o jogo entrega um espetáculo técnico que combina o retorno da campanha cinematográfica que sempre definiu o coração da série.
O retorno do modo Campanha
Em Battlefield 6, o mundo de 2027 vive o colapso geopolítico de uma era. A OTAN, já foi símbolo de unidade e estabilidade global, se dissolve em meio a desconfianças, crises econômicas e guerras por procuração. O vazio de poder é ocupado pela Pax Armata, uma corporação militar privada gigantesca, equipada com a mais alta tecnologia e financiada por ex-membros da própria aliança. O resultado é um cenário de caos global, onde a lealdade é um luxo e a sobrevivência, uma questão de pragmatismo.

Com isso surge o Dagger 13, um esquadrão de elite dos fuzileiros navais dos EUA formado por personagens memoráveis. Haz Carter, o líder experiente e carismático, serve como âncora emocional do grupo — um homem dividido entre o dever e a culpa. Dylan Murphy, engenheiro habilidoso, é o cérebro tático; enquanto Simone “Gecko” Espina representa a ousadia e a precisão, com sua postura de franco-atiradora. Cliff Lopez, médico de campo e suporte essencial, carrega o peso emocional da equipe; e Lucas Hemlock, misterioso agente da CIA, injeta uma aura de espionagem e paranoia no enredo.
A narrativa, dividida em nove missões, alterna entre operações de infiltração e combates em larga escala. A direção de arte e o ritmo das missões revelam um cuidado cinematográfico que a franquia sempre teve em suas campanhas. As transições entre cenas jogáveis e cutscenes às vezes não são fluidas e não se encaixam, mas é detalhe que não interfere no caminhar da campanha. Há claros sinais de Battlefield 3 na forma como o jogo conduz sua ação, mas agora com maior ênfase em narrativa e emoção.

O roteiro não tenta reinventar o gênero, mas resgata o peso do soldado no meio da catástrofe. O pelotão Dagger 13 não é uma caricatura de heróis; é um grupo de pessoas quebradas, tentando fazer a coisa certa num mundo que já perdeu qualquer noção de “lado certo”. Entre alguns flashbacks podemos jogar com cada membro do pelotão e saber mais sobre eles.
Jogabilidade e combate
No centro de tudo está o novo Sistema de Combate Cinestésico, que redefine a sensação física de estar em combate. O movimento é mais natural e responsivo, com o jogador podendo deslizar, pular e se jogar no chão de forma fluida. A mecânica Arrastar e Reanimar é uma das mais marcantes — permitir retirar um aliado ferido debaixo de fogo cruzado e salvá-lo depois muda completamente a dinâmica dentro do jogo. Detalhes, como Rolamento de Combate e Montagem de Armas, tornam a movimentação e o uso de cobertura muito mais estratégicos, enquanto o recuo das armas foi retrabalhado para ser mais previsível, mas também mais desafiador.

Cada confronto se torna uma dança entre posicionamento, tempo de reação e coordenação de equipe. O jogo recompensa precisão e tática, e o sistema de ordens de pelotão, que permite comandar aliados da IA na campanha, adiciona um elemento tático bem-vindo. Mandar Carter lançar granadas, Murphy destruir blindados ou Gecko marcar inimigos cria um senso de liderança genuíno e reforça a importância de trabalhar como unidade.
O corpo e a alma de Battlefield
Se a campanha é o coração narrativo, o multiplayer é o corpo e a alma da experiência. Battlefield 6 retorna às origens com os modos clássicos — Conquista, Ruptura e Investida — agora mais polidos e com mapas gigantescos que exploram todo o potencial da nova geração. O novo modo Escalada merece destaque: uma variação de guerra territorial que reduz progressivamente os objetivos, comprimindo o campo de batalha até uma luta desesperada nos momentos finais.

Os mapas são impressionantes tanto em escala quanto em variedade. O Vale de Mirak oferece combates amplos com tanques e jatos cruzando o céu; o Cerco do Cairo entrega ação urbana tensa e claustrofóbica; Ponte de Manhattan e Empire State traduzem a verticalidade de Nova York em arenas de pura adrenalina; e o retorno de Operação Fogo Cruzado é um presente nostálgico para veteranos da franquia. Cada cenário é projetado para favorecer múltiplas abordagens — seja a agressividade de um tanque ou a precisão de um franco-atirador.
A coerência tática dos combates é o que mais impressiona. As classes se complementam, os veículos voltam a ter peso estratégico real e a destruição pode virar o rumo da partida. O trabalho em equipe, algo que muitas vezes se perdeu em shooters recentes, aqui é recompensado de forma significativa. Battlefield 6 não é um jogo para o jogador solitário; é uma experiência de cooperação e coordenação, onde a vitória depende tanto da comunicação quanto da pontaria.

O sistema de classes é outro ponto alto. As quatro especializações — Assalto, Engenharia, Suporte e Reconhecimento — voltam com suas identidades reforçadas, mas com liberdade moderna de customização. Jogar como Assalto é sentir o poder bruto da linha de frente; como Engenheiro, controlar o destino dos veículos; como Suporte, sustentar a equipe; e como Reconhecimento, dominar o campo à distância. A personalização de armas, habilidades e caminhos de treinamento torna cada soldado único, e o sistema de progressão incentiva o jogo coletivo, recompensando quem age pelo objetivo, e não apenas pelas eliminações.

A Destruição Tática, marca registrada de Battlefield, nunca esteve tão detalhada. Cada parede, janela ou teto reage de forma realista ao sofrer qualquer dano, e o impacto visual e sonoro é de tirar o fôlego. Mais do que um efeito, a destruição é uma ferramenta de estratégia: abrir uma brecha para um ataque lateral ou soterrar inimigos com um teto faz parte do DNA Battlefield
Desempenho e tecnologia
Graficamente, Battlefield 6 é uma vitrine técnica. Os efeitos de destruição, a iluminação e o realismo criam uma atmosfera imersiva que se destaca até entre os maiores jogos da geração. No PlayStation 5 e Xbox Series X, o modo de desempenho ultrapassa os 80 FPS, mantendo fluidez mesmo em batalhas massivas. Já o modo qualidade prioriza fidelidade visual, com texturas de altíssima resolução e tenta entregar FPS estáveis.

O áudio merece menção especial: o som direcional é absurdamente preciso, e cada explosão, passo ou ricochete contribui para a sensação de imersão. É uma experiência sensorial completa — e quando o caos toma conta, o campo de batalha soa como uma sinfonia de destruição.
Em termos de estabilidade, o novo Javelin Anticheat mostra que a EA aprendeu com os erros do passado. O sistema trabalha em nível de kernel, prevenindo trapaças antes que causem impacto no servidor. É uma mudança fundamental para preservar a integridade do multiplayer, e até agora, demonstra eficiência.
A acessibilidade também recebe atenção, com legendas ajustáveis, filtros visuais, modos de contraste e opções para reduzir fadiga motora. São detalhes que tornam o jogo mais inclusivo, algo cada vez mais importante em grandes produções.
O retorno triunfal de Battlefield
Battlefield 6 é o renascimento que a franquia precisava. A campanha solo cinematográfica retorna, enquanto o multiplayer reencontra sua essência com destruição, cooperação e o caos em larga escala que só Battlefield sabe oferecer. Com o gênero saturado de repetições, Battlefield 6 se ergue como o verdadeiro espetáculo da guerra moderna — brutal, belo e implacável. Um lembrete de que, quando a EA acerta, o campo de batalha pertence a ela.
*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela EA