Todo jogo inédito de Pokémon é um turbilhão de emoções. Por mais que essa franquia bilionária esteja pisando na bola nos últimos anos, é fato que, de alguma forma, seus RPGs continuam tendo algo que nos mantém presos a ela – até mesmo nesses períodos de “crise”.
Pokémon Legends: Arceus foi uma surpresa bem-vinda e, graças a isso, o hype para sua sequência, Legends: Z-A, foi considerável. O fato deste ser o primeiro título da série a chegar ao Switch 2 (e possivelmente o último do Switch 1) também o torna especial, então sim: não estamos falando de qualquer Pokémon aqui!
De volta a Kalos
Enquanto Legends: Arceus nos enviava de volta para a Sinnoh do passado, Legends: Z-A nos coloca na Kalos do futuro – mas de um futuro nem tão distante assim. O palco deste jogo se limita à cidade de Lumiose, aquele lugar simpático que foi totalmente inspirado em Paris, a Cidade da Luz da vida real.

Aqui encarnamos um jovem treinador que, por acaso, acaba envolvido com um grupo conhecido como Team MZ. Além de participar da competição local conhecida como Z-A Royale, eles também enfrentam pokémon que estão sofrendo mega evoluções espontaneamente pela cidade – uma ameaça misteriosa que precisa ser investigada.
Nesse contexto, somos soltos por Lumiose com uma porção de objetivos diferentes. Pode-se dizer que o principal deles é chegar ao Rank A do Z-A Royale, que seria a categoria máxima do torneio. Quem chegar no topo tem o direito de pedir o que quiser aos governantes da cidade – e é claro que nosso personagem usará esse desejo para o bem de todos os cidadãos.
Ter Lumiose como palco central desta aventura dá um ar bem diferente ao jogo. Em Legends: Arceus, podíamos explorar várias regiões de Hisui no formato sandbox; aqui, você tem a cidade inteira à sua disposição – mas no fim, o mapa não é muito grande. Ao mesmo tempo que isso é bom, de um ponto de vista prático, também acaba gerando repetição.

Diferente de X e Y, aqui podemos explorar cada rua e beco de Lumiose. Contudo, por mais que existam distritos diferentes, pode-se dizer que tudo ali é muito parecido. Você anda para lá e para cá e, no fim, parece que está sempre no mesmo lugar. O fato do jogo tocar continuamente a mesma música durante a exploração reforça esse sentimento (e por vezes chega a irritar).
A exploração não se limita somente às ruas: também podemos vagar pelos telhados e, em alguns casos, entrar em prédios e estabelecimentos. Existem pokémon selvagens vagando por todos os lados, mas também temos as Wild Areas: pequenas porções do mapa que funcionam como “reservas naturais” para os monstros.
Caçar pokémon na cidade grande traz uma mudança de ares bem “radical” para a franquia – onde grande parte dessa caçada se passava em florestas e ambientes naturais.

Z-A Royale
A grande novidade do jogo está no Z-A Royale, o torneio que toma conta das ruas de Lumiose durante a noite. Quando anoitece, uma pequena área de combate é criada no mapa; ali, vários treinadores entrarão em batalhas continuamente para reunir pontos e, assim, serem promovidos no ranking alfabético: que começa no Z e termina no A.
De início, o jogo parece ter um foco muito grande nisso, mas conforme a história avança, as batalhas por novos ranks assume uma direção muito mais “scriptada”. O Z-A Royale acaba assumindo sua verdadeira proposta somente no pós-game.
Para alguns, batalhar continuamente pode parecer maçante, mas o combate de Legends: Z-A recebeu melhorias em relação ao Arceus. Aqui temos muito mais liberdade de movimentos durante a batalha, deixando tudo com um ar semelhante às lutas de Ni no Kuni: Wrath of the White Witch. Ainda que a mecânica de RPG de turnos tenha sido mantida, tudo é mais “flexível” neste jogo.

Vale ressaltar que a Game Freak continua aprimorando continuamente a dificuldade da franquia. Legends: Z-A oferece um nível de desafio bem estimulante e equilibrado – algo que pode ser observado ao longo de todo o jogo e não apenas nos momentos finais, como aconteceu nas últimas entradas da série.
Aqui não é possível solar todas as batalhas com um único pokémon: você precisa de variedade no seu time e também precisa dominar a mecânica de mega evolução, o grande diferencial da região de Kalos. A boa notícia é que adicionaram muitas mega evoluções neste jogo, então você terá a oportunidade de aprimorar pokémon inimagináveis!
No geral, o sistema de mega evolução funcionou muito melhor neste jogo, se comparado com X e Y, onde foi introduzido. Ele permite criar reviravoltas nas batalhas e ainda dá vida nova para alguns pokémon que nunca tivemos vontade de adicionar ao nosso time. Para as batalhas do modo competitivo online, essas novidades são ainda mais interessantes.

Jogo novo, problemas velhos
Dito isso, chegamos naquela parte que todos já estão carecas de saber. A franquia Pokémon ainda sofre com os mesmos problemas de antes e ninguém sabe ao certo porque a Game Freak se recusa a corrigi-los.
O visual ainda é bem básico (especialmente porque o jogo inteiro se passa dentro de uma única cidade), mas no Switch 2 o desempenho está ótimo. Tudo roda com framerate alto e sem nenhuma queda de performance, como deve ser. Ainda assim, isso não impediu as texturas de varanda dos prédios de virar meme.
Outro ponto negativo de Legends: Z-A é a trilha musical, que parece trazer pouca variedade em relação aos outros jogos. O fato de estarmos presos dentro de Lumiose colabora, pois o jogo insiste em tocar a mesma música até o dia raiar – e depois outra até o fim da noite. A variedade de cenários e ecossistemas certamente colaborava mais com isso.

Como já era de se esperar, o jogo não está localizado em português brasileiro – mais um triste dia para os fãs do Brasil. Isso fica ainda pior pelo fato de termos mais um lançamento sem nenhum tipo de dublagem de voz, com diálogos limitados a caixas de textos. Além de deixar tudo muito enfadonho e tirar bastante da personalidade dos personagens, isso também prejudica os jogadores que não falam outro idioma.
Mesmo com todas essas falhas, Pokémon Legends: Z-A ainda é um jogo muito divertido – para quem é fã de longa data, vai ser difícil não se empolgar com essa nova aventura. O caminho para a Game Freak quebrar esse tabu e entregar jogos com mais qualidade está bem claro, mas aqui as coisas parecem evoluir no mesmo ritmo de franquias de esporte: com extrema lentidão e progresso mínimo a cada novo lançamento.