A review de Ninja Gaiden: Ragebound foi realizada com uma cópia cedida pela Dotemu
É raro ver um retorno ao passado ser também um salto ousado rumo ao futuro. Ninja Gaiden: Ragebound não é apenas um tributo em forma de plataforma 2D aos jogos clássicos do Nintendinho, é a reinvenção do que significa um “jogo de ninja” em 2025. Sob o comando da The Game Kitchen (de Blasphemous), em parceria com Dotemu e Koei Tecmo, o título estabelece um novo marco para franquias retrô que buscam uma relevância moderna sem trair suas origens.
O Retorno do Clássico

Após mais de três décadas desde que Ninja Gaiden brilhou como side-scroller, seria natural duvidar que aquele espírito ainda tivesse espaço num cenário tão saturado de plataformas de ação retrô que temos hoje. Mas Ninja Gaiden: Ragebound não só entende o que fez os originais serem especiais, ele atualiza essa essência com uma sensibilidade moderna, sem recorrer ao fan service fácil.
O jogo gira em torno de Kenji Mozu, discípulo direto de Ryu Hayabusa, e sua inesperada aliança com Kumori, uma kunoichi do clã rival Black Spider. A trama, embora contida, amarra o passado da franquia a uma nova geração de personagens, servindo como ponto de entrada acessível e, ao mesmo tempo, um presente para os fãs de longa data.
Controle Cirúrgico

Não há plataforma 2D que sobreviva sem controles precisos — e nesse ponto, Ragebound é exemplar. Kenji responde com uma fluidez que transforma o jogador em extensão natural do personagem. O timing dos pulos, dos cortes e dos desvios transmite uma sensação de domínio que poucos jogos conseguem atingir.
Mais do que agilidade, o sistema de rebote (onde se pode usar inimigos, projéteis e kunais como plataformas momentâneas) adiciona uma dança letal ao gameplay. Quando tudo encaixa, o jogador entra num estado de flow hipnotizante, como se estivesse encenando um balé sangrento coreografado por instinto e precisão.
Profundidade Escondida

Apesar de sua apresentação simples, o combate esconde uma complexidade estratégica surpreendente. Inimigos possuem auras de cores distintas, e cada tipo exige armas específicas para serem derrotados de forma eficiente, o que vai exigir leitura rápida e decisões conscientes. O sistema de Hypercharge adiciona ainda mais tensão: o jogador pode sacrificar saúde para carregar ataques ou optar por eliminar alvos específicos para acumular poder, abrindo espaço para abordagens variadas.
Controlar Kenji é como revisitar o jogo clássico com saltos entre paredes, ataques corpo a corpo com katana e uma cadência familiar aos veteranos. Já Kumori representa a ruptura. Sua mecânica à distância com kunais vai além do dano: ela interage com o ambiente, revela plataformas ocultas, ativa mecanismos e é essencial em seções específicas.
Trocar entre eles não parece uma simples mecânica de jogabilidade, mas uma dança entre dois modos de combate. A sinergia é tamanha que, por vezes, o jogador esquece que está alternando personagens e sente que está manipulando um único organismo ninja em duas formas.
Narrativa Sutil, Mas Funcional

A trama se conecta diretamente aos eventos do primeiro Ninja Gaiden, se passando durante a viagem que o protagonista Ryu fez aos Estados Unidos. Então Ragebound respeita o legado sem depender dele.
Os diálogos entre Kenji e Kumori são simples, mas carregam autenticidade e conflito. A tensão entre clãs é palpável, sem cair em clichês ou forçar dramatizações desnecessárias. Essa leveza narrativa permite que a história caminhe ao lado da ação, e isso é exatamente o que te deixa preso no jogo, sempre querendo ver o que vai acontecer a seguir.
Level Design como Instrumento de Maestria

Cada fase de Ragebound é construída como um quebra-cabeça de execução. Há caminhos óbvios e caminhos secretos. Descobrir o trajeto perfeito, misturando saltos e ataques em sequência, se torna um desafio viciante por si só.
Os objetivos extras (como zerar sem morrer, coletar itens escondidos ou executar sequências de morte) não soam como infladores de tempo, mas como incentivadores para rejogar e aperfeiçoar seu personagem. E quem tentar alcançar o Rank S em todas as fases, entende que esse jogo foi feito para ser vencido, não apenas terminado.
Progressão com Propósito

Os upgrades vêm através dos “escaravelhos dourados”, artefatos escondidos que desbloqueiam armas e habilidades extras. Embora o sistema de progressão não seja profundo a ponto de reinventar toda a jogabilidade, ele adiciona camadas úteis sem tirar o foco da ação.
E Sim, Ragebound é difícil, mas nunca injusto. A curva de aprendizado é clara, os checkpoints são generosos e cada erro é uma lição, não um castigo. Jogadores casuais terão acesso a uma experiência bastante satisfatória, enquanto os puristas podem desbloquear o modo difícil e testar seus limites em condições mais complicadas.
Arte, Som e Espírito

Visualmente, o jogo é uma carta de amor ao pixel art clássico, mas sem se prender a limitações antigas. Animações fluem com modernidade, os cenários vibram em movimento e cada frame respira intensidade. A trilha sonora também foge dos clichês orientais: ela mistura sonoridades de tokusatsu com batidas eletrônicas retrô, criando uma identidade sonora distinta que carrega tanto o passado quanto o presente nas costas.
Considerações Finais

Ninja Gaiden: Ragebound vai além da nostalgia. É uma reinvenção de respeito que mistura o clássico com o moderno na medida certa. O game é preciso, desafiador e cheio de estilo. Mais do que um jogo, é uma experiência ninja feita pra quem ama ação e gosta de se desafiar.
Distribuidora: Dotemu, Joystick
Desenvolvedor: The Game Kitchen
Gênero: Ação e plataforma
Disponível para: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One Xbox Series X/S, Nintendo Switch e PC
Data de lançamento inicial: 31de julho de 2025