*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela PlayStation
Lost Soul Aside é um daqueles jogos que carregam uma aura especial antes mesmo do lançamento. Nascido como projeto solo de Yang Bing em 2016, a ideia chamou tanta atenção que a Sony decidiu dar suporte e montar uma pequena equipe para ajudar a transformar o sonho em realidade. A expectativa era alta: um RPG de ação com combates estilizados, visual impactante e inspiração em títulos consagrados como Devil May Cry e Final Fantasy. Mas, ao colocar as mãos no produto final, fica claro que a jornada criativa não alcançou a consistência necessária para sustentar tudo o que prometia.

Campanha
Na trama, acompanhamos Kazer, um jovem espadachim que se une a uma criatura chamada Arena para enfrentar uma guerra devastadora em um mundo de fantasia sombria. A proposta parece rica em possibilidades, mas na prática a narrativa sofre com problemas sérios: personagens sem carisma, diálogos rasos e uma construção de mundo pouco explorada. A história soa desconexa, sem desenvolvimento suficiente para manter o interesse ao longo da campanha.

Esse contraste é ainda mais evidente quando lembramos da inspiração em títulos como Final Fantasy XV e Devil May Cry, que combinam ação frenética com tramas mais elaboradas. Lost Soul Aside até tenta seguir esse caminho, mas não consegue dar peso emocional às jornadas pessoais ou à própria guerra que deveria ser o motor narrativo.
Jogabilidade: ação veloz, mas desequilibrada
O ponto forte de Lost Soul Aside está no combate, que busca misturar hack and slash com elementos de RPG. O protagonista utiliza golpes rápidos, combos estilosos e a habilidade de se fundir com a criatura Arena para liberar ataques mais fortes. O ritmo lembra muito o estilo ágil de Devil May Cry, com batalhas que visualmente impressionam.

Porém, o entusiasmo esbarra em problemas técnicos e de design. A câmera frequentemente atrapalha a visão durante combates contra múltiplos inimigos, e a curva de aprendizado é mal equilibrada: alguns momentos se tornam frustrantes não pela dificuldade em si, mas pela falta de polimento no sistema de colisão e na resposta dos comandos. Além disso, a variedade de inimigos é limitada, e a repetição se torna cansativa logo de cara, enfraquecendo a experiência de progressão.
Outro problema é a exploração. O jogo tenta oferecer cenários amplos, mas que acabam parecendo vazios e mal aproveitados. Isso prejudica a imersão e reforça a sensação de que o título não conseguiu entregar um mundo vivo, algo esperado de um RPG de ação de 2025.
Um visual bonito, mas cheio de tropeços
Graficamente, Lost Soul Aside mantém parte do impacto visual que conquistou jogadores anos atrás. Os efeitos de partículas, os combos estilizados e algumas animações são chamativos. Contudo, o resultado final está aquém do esperado para um jogo que passou quase uma década em desenvolvimento.

Problemas de performance são frequentes, especialmente em consoles. Quedas de taxa de quadros, bugs visuais e travamentos ocasionais prejudicam a fluidez da ação, que deveria ser justamente o ponto alto do jogo. Além disso, a direção de arte carece de identidade própria, com cenários e designs de personagens que parecem uma mistura genérica de influências de Final Fantasy e outros JRPGs, sem nada marcante para diferenciá-los.
O peso da expectativa
É impossível analisar Lost Soul Aside sem levar em conta sua história de desenvolvimento. O projeto começou com um único desenvolvedor, ganhou destaque mundial e, graças ao suporte da Sony, se transformou em uma promessa de blockbuster vindo da China. O problema é que essa expectativa criou um fardo enorme.
O jogo até mostra lampejos de criatividade, mas a falta de profundidade narrativa, os problemas técnicos e a repetição mecânica deixam claro que ele não atingiu o nível de qualidade que se esperava após tantos anos de produção. Para muitos, Lost Soul Aside acabou simbolizando mais o desafio de transformar um sonho independente em um produto comercial de grande escala do que uma experiência realmente memorável.
Devo comprar?
Lost Soul Aside é um título que impressiona em sua origem e pela coragem de Yang Bing em iniciar o projeto praticamente sozinho. Mas, ao chegar ao mercado, a obra não conseguiu entregar um pacote consistente. Apesar do combate estiloso e de alguns momentos visualmente interessantes, a história fraca, os problemas técnicos e a sensação de um produto inacabado pesaram contra a experiência.
É um jogo que desperta curiosidade pelo contexto de desenvolvimento, mas dificilmente será lembrado como um marco do gênero. Para quem acompanha o cenário de produções chinesas, Lost Soul Aside serve como um lembrete: talento e ambição são fundamentais, mas sem uma execução sólida e bem estruturada, até os projetos mais promissores podem se perder no caminho.