A Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2025 foi palco de um dos lançamentos mais aguardados da literatura juvenil nacional: “Kaito: Reze por uma boa morte“, de Bruno Crispim, publicado pela editora Alta Books. A obra, que rapidamente se tornou um sucesso de vendas durante o evento, representa uma revolução na forma como a literatura jovem brasileira dialoga com a cultura pop contemporânea.

Bruno Crispim, conhecido por ser finalista do Prêmio Kindle de Literatura com a obra “Da morte sua”, encontrou em “Kaito” a fórmula perfeita para aproximar a estrutura narrativa dos mangás japoneses da literatura jovem brasileira. O resultado é uma narrativa urbana que mescla ação, romance e suspense em doses perfeitamente equilibradas, criando uma atmosfera dinâmica que prende o leitor do primeiro ao último capítulo.
Ambientado em Tóquio, o protagonista Kaito, um jovem mestiço de origem brasileira, se vê no centro de um apocalipse único: bilhões de pessoas retornam dos mortos como ghouls (criaturas do folclore japonês), mas com uma particularidade assustadora: elas se fortalecem ao tirar vidas. Essa premissa já demonstra como Crispim conseguiu incorporar elementos da cultura japonesa de forma orgânica e respeitosa.
A gamificação do fim dos tempos

Um dos aspectos mais inovadores de “Kaito” é sua lógica de “jogo”, como se fosse um sistema de videogame aplicado à narrativa. O ritmo acelerado e os elementos de evolução por combate criam uma experiência de leitura que dialoga diretamente com jovens acostumados tanto com literatura quanto com quadrinhos e cultura digital.
À medida que tenta sobreviver e entender seu papel nesse novo mundo, Kaito se vê dividido entre um romance com a amiga Clara e a prima Ayka. Essa construção do triângulo amoroso não serve apenas como elemento romântico, mas como catalisador para explorar conflitos pessoais e morais em meio à violência do cenário apocalíptico.
Diálogos com a cultura pop

A estrutura de “Kaito” lembra obras consagradas da cultura pop contemporânea, como Percy Jackson e Jogos Vorazes, mas consegue manter sua identidade única ao incorporar elementos específicos da cultura japonesa e brasileira. Os diálogos rápidos e cenas que destacam a transformação dos personagens diante das circunstâncias criam uma narrativa cinematográfica que funciona perfeitamente no formato literário.
Bruno Crispim soube capturar o espírito de uma geração que consome conteúdo transmídia, criando uma obra que pode facilmente transcender o formato original. A linguagem acessível e a estrutura dinâmica fazem de “Kaito” uma ponte perfeita entre diferentes formas de entretenimento jovem.
A mente criativa por trás da originalidade
Bruno Crispim nasceu em Niterói em 1984 e é mestre em Escrita Criativa pela PUC-RS. Sua trajetória literária inclui “O Segundo Caçador” (Ed. EdUfes), romance policial vencedor do Prêmio UFES de Literatura, e “Ascensão” (Ed. Urutau), suspense com trama sobrenatural.
Além de sua produção ficcional, Crispim se destacou com o “Guia do Escritor de Ficção”, onde compartilha conteúdos sobre escrita criativa. É membro do coletivo de ficção especulativa Tapioca Fantástica e professor da LabPUB, demonstrando seu comprometimento não apenas com a criação, mas também com a formação de novos escritores.
Com “Kaito”, Bruno Crispim não apenas entrega uma história envolvente, mas abre caminhos para uma nova forma de fazer literatura jovem no Brasil. A obra representa um marco na incorporação de elementos da cultura pop global à narrativa nacional, provando que é possível criar histórias universais sem perder a identidade brasileira. Para os jovens leitores que cresceram entre mangás, games e literatura, “Kaito” oferece exatamente o que procuravam: uma aventura que fala sua linguagem sem subestimar sua inteligência.