*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela PlayStation
A Sucker Punch pode ter abandonado franquias icônicas como Sly Cooper e Infamous, mas certamente tem usado muito bem o seu tempo. Em 2020, Ghost of Tsushima levou o PS4 ao seu limite com um dos mais belos jogos da plataforma, redefinindo o que conhecemos como “jogos cinematográficos”. Cinco anos depois, chegou a hora de sua sequência, Ghost of Yotei, fazer o mesmo no PS5.
A continuação se passa 300 anos após a história de Jin Sakai, nos apresentando a uma nova protagonista e uma região inexplorada no primeiro jogo. Apesar de grande parte dos gameplays e do material promocional entregarem a imagem de que é apenas “mais do mesmo”, Ghost of Yotei tem muito mais a oferecer do que aparenta!
Espírito vingativo
Neste jogo assumimos o papel de Atsu, uma mulher que, durante a infância, testemunhou sua família ser assassinada pelos Seis de Yotei – um grupo de foras da lei que acabaram dominando toda a província. Deixada para morrer, a jovem conseguiu enganar a morte e adotou a vingança como a razão do seu viver.

Após passar vários anos longe de sua terra-natal, Atsu aprendeu a arte da guerra e retorna para Ezo – agora muito mais habilidosa e sedenta por sangue. O objetivo do jogo é simples: matar os Seis de Yotei, um por um, até chegar em seu líder, Lorde Saito. Agora sob a persona de uma “onryō” (um espírito vingativo do folclore japonês), cabe a nós livrar o território de Ezo da tirania de Saito.
Um detalhe interessante do jogo é que ele não possui muitas explicações ou longas cutscenes logo de cara. Temos uma cena breve explicando o objetivo de Atsu em sua jornada e já partimos para o gameplay; o restante é contado aos poucos, através de memórias e missões que vão nos apresentando melhor nossa protagonista.
Diferente de Jin Sakai, Atsu não é uma samurai honrada – ela nem sequer recebeu o título formal de Onna-Musha (como eram chamadas as mulheres samurais). A guerreira é uma ronin que não segue nenhum código de conduta – pelo contrário, ela não mede esforços para alcançar seus objetivos! Esse é um detalhe bacana que dá um tom bem diferente ao jogo.

Assim como Jin, ela domina múltiplas armas e é uma mestra do combate. Contudo, iremos acompanhar sua evolução ao longo da campanha, conforme ela é ensinada por diferentes guerreiros. No fim, Atsu acaba sendo uma personagem muito mais humanizada do que Jin, o que por sua vez facilita a criação de um vínculo por parte de quem está jogando.
Explorando Ezo
A abordagem que a Sucker Punch utilizou na exploração de Ezo chama atenção de imediato. Aqui não temos tudo de mão beijada como costumava ser, com ícones de missões e pontos de interesse espalhados pelo mapa. Para descobrir essas coisas, você deve primeiro começar pelo básico: explorar!
Basicamente tudo que fazemos no jogo rende informações importantes. Você conversa com dois NPCs aleatórios na estrada e eles te entregam a localização de uma fonte termal. Derrota um grupo de inimigos e um deles deixa escapar as coordenadas de um dos seus esconderijos. Até mesmo o processo para desbloquear missões principais funcionam dessa forma!

Apesar de serem jogos bem diferentes, não pude deixar de notar uma leve inspiração em Zelda: Breath of the Wild (somente no que diz respeito à exploração). O mapa é enorme e tão bonito que chega a tirar o fôlego, então seria um pecado não explorá-lo adequadamente. Seguindo essa premissa, nos sentimos motivados a cavalgar pelo perímetro sem ficar com aquela sensação de que estamos apenas vagando sem rumo por aí.
Outro detalhe positivo é que, apesar da extensão do mapa, nenhuma das regiões de Ezo chega a ser grande demais. Cada integrante dos Seis de Yotei está escondido em um mapa diferente e, no geral, todas essas regiões não são grandes ao ponto de deixar o gameplay cansativo. Elas também oferecem suas próprias atividades paralelas, mas tudo acaba se encaixando naturalmente dentro do objetivo principal.
Esse é um dos pontos mais altos em relação ao primeiro, que tinha um mapa gigantesco e, por vezes, enfadonho. Explorar Ezo não é apenas legal: é viciante!
Combate
O combate também foi amplamente melhorado, muito por causa das novas armas que Atsu pode empunhar. Para evitar spoilers, vamos nos limitar a citar apenas as katanas duplas, que proporcionam um estilo de luta muito mais rápido e dinâmico.

Assim como no primeiro jogo, cada arma é indicada para um tipo diferente de inimigo, mas você ainda pode usá-las livremente como desejar (ainda que isso dificulte razoavelmente os confrontos). A graça da ação está justamente nisso: decorar as fraquezas de cada oponente (o que também é definido pela sua arma) e trocar o arsenal em tempo real, mostrando toda a sua dominância na batalha.
De início o combate é um tanto limitado, mas conforme vamos liberando novas habilidades e amuletos (que garantem habilidades exclusivas), Atsu acaba se tornando uma verdadeira máquina de matar. Antes mesmo de chegar na metade do jogo, já é possível liberar algumas skills muito apelonas, então esse é um fator que pode tirar um pouco da graça para quem gosta de desafios (mas você sempre poderá aumentar a dificuldade a qualquer momento).
Atsu também não luta sozinha: vez ou outra, ela pode ser agraciada com a ajuda de uma loba que destroça seus inimigos. O animal não aparece sempre, mas é uma aliada valiosa – especialmente porque, caso você seja derrotado em combate, é possível receber uma segunda chance aleatoriamente. Nesses momentos, a loba aparece para salvar Atsu da morte, permitindo que o jogador continue lutando.

Tudo isso dá um dinamismo bem legal para o combate, que dificilmente ficará enjoativo dentro das dezenas de horas do jogo. Já os trechos em stealth seguem a mesma premissa do primeiro, sem grandes segredos: você se infiltra em uma base e mata todo mundo sem ser visto. Mesmo que Atsu seja detectada, ainda é bem fácil contornar a situação, devido as suas incríveis habilidades.
Pormenores
O jogo ainda traz algumas surpresas bem-vindas, como um uso maior do touchpad do Dualsense, controles de movimento e gatilhos táteis. Esses são recursos esquecidos pelos devs a essa altura do campeonato, mas reforça que a Sucker Punch não se limita somente em fazer o básico. É impossível não lembrar de Infamous: Second Son, um jogo que explorou na mesma medida as novidades do PS4 em sua época.
A performance de Ghost of Yotei está ótima tanto em modo performance quanto em modo fidelidade – mas ainda recomendamos jogar no modo performance, já que a diferença será mínima e você ainda poderá curtir todos aqueles gráficos em 60 fps. A trilha musical também segue o padrão de qualidade do primeiro, mas um pouco inferior; achei as músicas desta sequência pouco marcantes, se comparadas com as de Ghost of Tsushima.

Tivemos apenas alguns problemas com bugs que, muito provavelmente, já estarão corrigidos no lançamento. Foram coisas pontuais, em sua maioria durante cutscenes: personagens desaparecendo e, em alguns momentos, Atsu ficando careca! Já durante o gameplay, não houve nada que comprometesse o funcionamento do jogo.
Veredito
Dito isso, podemos resumir que Ghost of Yotei é uma excelente sequência e consegue melhorar quase tudo que se pode esperar de um jogo que já tinha um padrão elevado. Ghost of Tsushima já entregava muito e é por isso que ficamos com o “pé atrás” com este aqui – mas ao dar uma chance, você verá que ele é muito melhor do que podemos esperar.
Para os amantes de cultura japonesa, histórias de samurai e filmes do Kurosawa, esse é mais um jogo para mergulhar de cabeça.