Quando o último Fatal Fury foi lançado, o Brasil ainda não era pentacampeão do mundo, o primeiro filme de Matrix ainda estava nos cinemas e o console mais moderno do momento era o Dreamcast. Pois é, 26 anos se passaram até que os fãs de jogos de luta pudessem ver uma nova entrada na série – então vamos saborear bem essa ocasião.
Fatal Fury: City Of The Wolves resgata um dos maiores clássicos da SNK com um bom toque de modernização no seu gameplay, mas sem abandonar a essência dos antigos. Diferente de Street Fighter e Mortal Kombat, que apresentaram uma evolução mais radical com o passar do tempo, City of the Wolves tenta apenas refinar uma experiência há muito conhecida – e dentro desse minimalismo, ele se sai muito bem!
Gameplay refinado
Quando falamos em novidades, o principal destaque de Fatal Fury: City Of The Wolves está no seu gameplay. Se você chegou a acompanhar a franquia no passado, certamente vai se sentir em casa, mas também terá que ralar um pouco para se adaptar à mecânica de REV – a forma genial que os devs encontraram para balancear o jogo.

A ideia em si não é inédita, mas foi implementada com grande maestria. Em City of The Wolves, todos os personagens possuem seu leque de movimentos básicos, um ataque especial (aqui chamado de Ignition Gear) e ações mais fortes chamadas REV. Em suma, essa adição permite aos lutadores usarem golpes mais fortes e combos devastadores, além de bloquear golpes com uma eficácia acima da média.
Parece bom demais para ser verdade, então é claro que existe uma limitação nisso. Existe uma barra curva na parte de baixo da tela que indica seu nível de REV; sempre que você usar um desses movimentos, ela vai se enchendo. Quando atingir 100%, seu personagem fica praticamente indefeso, sem a possibilidade de continuar apelando. Sua única saída será usar ataques comuns e esperar até que a barra esvazie.
Essa é a forma do jogo de impedir que os viciados de plantão adotem uma postura totalmente apelona em combate. O REV força o jogador a ser estratégico nos combates – você pode muito bem apelar com tudo que tem desde o início e depois lidar com a limitação do superaquecimento, ou mediar seus movimentos a fim de impedir que o personagem chegue ao seu limite.

Devido aos seus diferentes movesets, cada personagem nos dá oportunidades totalmente diferentes de se explorar a mecânica de REV. No fim, é isso que carrega o jogo nas costas e estende seu fator replay por tempo indeterminado – é muito difícil querer parar de jogar!
Singleplayer fraco
Já em relação à variedade de modos, Fatal Fury: City Of The Wolves deixa a desejar. O singleplayer acaba sendo a parte mais fraca do conjunto, já que se prende exclusivamente na repetição sem fim de coisas que se tornam enjoativas com pouco tempo de jogatina.
Todos os modos mais clichês de um jogo de luta estão presentes aqui, incluindo um modo Arcade basicão e uma espécie de campanha chamada Episodes of South Town. Aqui, você escolhe um dos personagens disponíveis e encara uma série de desafios em um mapa estático (para quem já se acostumou com o mundo aberto de Street Fighter 6, isso aqui será um tremendo choque de realidade).
A ideia é passar por vários combates com condições específicas, visando testar suas habilidades ao limite. Na primeira vez pode até ser divertido, mas o processo será o mesmo com qualquer personagem que você escolher. Além disso, existem alguns desafios baseados em sorte que beiram o absurdo e conseguem tirar totalmente a diversão da coisa toda; um deles consegue ser especialmente frustrante: seus ataques não causam nenhum dano e você depende de uma chance mínima e aleatória de acabar com o combate com um único golpe.

No meio dessa falta de conteúdo impactante, temos dois lutadores convidados que certamente vão deixar alguns jogadores confuso: o DJ Salvatore Ganacci e o jogador de futebol Cristiano Ronaldo, que dispensa apresentações. Já é estranho o suficiente tê-los como personagens jogáveis em um jogo de luta, mas a participação do CR7 em City Of The Wolves consegue ser no mínimo bizarra.
Ambos possuem um moveset bacana e condizente com suas ocupações na vida real, mas Ronaldo não parece ter sido cuidadosamente planejado para o jogo, como é o caso de Ganacci. Ele não está disponível em todos os modos e, de alguma forma, não parece se encaixar com o todo. Ainda assim, não dá para negar que dar uma surra em Terry Bogard na pele do CR7 é algo inexplicavelmente prazeroso.
No geral, Fatal Fury: City Of The Wolves foi um comeback perfeitamente decente para a franquia. Obviamente, há vários pontos que poderiam ser melhorados, mas a qualidade do gameplay resgata bem suas principais virtudes – além de renová-las. É um jogo feito para todo amante do gênero de luta, com potencial o bastante para criar uma nova legião de fãs.