*Este review foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Besthesda
A origem de Slayer em um mundo sombrio
Doom: The Dark Ages funciona como uma prequela direta de Doom (2016) e Doom Eternal, mas com uma proposta narrativa inédita: mostrar a origem do lendário Doom Slayer. Aqui, ele é apresentado não como o guerreiro invencível que conhecemos, mas como uma espécie de campeão escravizado pelos Maykrs — as entidades quase divinas já conhecidas dos jogos anteriores. A trama explora como ele se tornou o símbolo da destruição infernal, mergulhando mais na mitologia da franquia.

Apesar de uma campanha mais cinematográfica, com cutscenes e um pouco mais de história, ela ainda não consegue entregar algo totalmente aprofundado com uma narrativa densa, não que seja necessário, mas já que teria mais cutscenes, poderiam ter aprofundado melhor.
Atmosfera e Visual: Um Inferno Gótico Medieval
Visualmente, Doom: The Dark Ages é uma das experiências mais impressionantes da atual geração. A ID Tech Engine atinge um novo patamar, com iluminação volumétrica realista que valoriza os ambientes escuros, repletos de chamas e sombras dinâmicas. O design artístico gótico chama atenção com cenários que parecem saídos de um pesadelo medieval, onde tecnologia distorcida e ruínas antigas coexistem de forma perturbadora.

O ponto alto está na ambientação narrativa medieval gótica, que mistura elementos de ficção científica com temas épicos, quase como se Dark Souls encontrasse Warhammer com a brutalidade típica de Doom. O mundo é uma fusão de castelos, templos antigos, cidades arruinadas e fortalezas demoníacas, todas repletas de runas, mecanismos arcanos e tecnologia distorcida.
A trilha sonora de Andrew Hulshult eleva ainda mais a atmosfera, misturando metais pesados, coros latinos e elementos industriais, criando um clima caótico, sombrio e quase sagrado. Além disso, a interface mais limpa e a HUD menos invasiva reforçam a imersão, permitindo que o jogador se perca nesse mundo violento e visualmente marcante.

Jogabilidade: Nova Era, Nova Brutalidade
jogabilidade de Doom: The Dark Ages mantém o DNA frenético da franquia, mas adota um ritmo mais cadenciado e estratégico. A movimentação continua ágil, mas o tradicional “push-forward combat” focado em manter o jogador sempre em movimento ofensivo agora é equilibrado por momentos que exigem leitura precisa dos inimigos e domínio do tempo de resposta. Uma das principais novidades é o sistema de parry, que permite bloquear ataques com um escudo e contra-atacar com precisão. A mecânica aproxima a experiência de jogos hack and slash modernos.

Entre os destaques está o Shield Saw, um escudo com lâminas giratórias que assume o papel da clássica serra elétrica em diversas situações. Além de defesa, ele pode ser lançado como um bumerangue letal, atravessando inimigos e retornando com violência, exigindo do jogador mira e timing refinados. O arsenal medieval de alta tecnologia é outro elemento marcante. Armas como a maça com propulsão, mangual com cargas elétricas, bestas explosivas de recarga manual e canhões retráteis integrados à armadura ampliam as possibilidades táticas. A icônica escopeta também marca presença, com visual e mecânicas adaptadas à ambientação.
O jogo ainda expande a escala de combate com seções especiais: o jogador pode pilotar o Atlan, um mecha gigantesco que esmaga demônios com facilidade, além de sequências aéreas em um dragão biomecânico, oferecendo variedade e um senso épico de grandeza. Apesar das inovações, The Dark Ages respeita os pilares clássicos da série: arenas com múltiplos inimigos, ritmo intenso, Glory Kills cinematográficas e o uso constante de combate para gerenciamento de recursos como saúde, munição e armadura.

Devo comprar?
Se fosse possível definir Doom: The Dark Ages em uma palavra, essa palavra seria “necessário”. Em meio a uma indústria saturada por RPGs extensos, cheios de sistemas complexos e tramas arrastadas, a nova aposta da id Software entrega exatamente o oposto: ação direta, ritmo intenso e um foco claro no que Doom sempre soube fazer de melhor. É um retorno à essência arcade, sem enrolação, mas com ousadia suficiente para reinventar sua fórmula.
A introdução de novas mecânicas, como o sistema de parry e o arsenal medieval futurista, mostra que a franquia está longe de estagnar. Ainda há tropeços, o enredo, embora promissor em escala e ambientação, continua servindo mais como pano de fundo do que como força narrativa. Mas talvez essa seja justamente a proposta: deixar a história no banco de trás e colocar o jogador, mais uma vez, no centro de um espetáculo visceral. Doom: The Dark Ages é brutal, estiloso e, acima de tudo, fiel às raízes que o tornaram um ícone dos games.