A review de Death Stranding 2: On the Beach foi realizado com uma cópia do jogo disponibilizada pela PlayStation.
Poucos jogos dividiram tanto as opiniões quanto o primeiro Death Stranding. E ainda assim, Hideo Kojima retorna com uma sequência que abraça ainda mais suas esquisitices e contemplações. Death Stranding 2: On the Beach não é só uma continuação; é uma caminhada mais firme por caminhos já trilhados, mas agora ampliados por novas paisagens, ideias mais ousadas e um senso de propósito que só um autor tão autoral quanto Kojima poderia retratar.
A travessia continua

Hideo Kojima nunca foi adepto do caminho mais curto. O criador japonês caminha por suas próprias trilhas e nelas, o previsível não tem espaço. Death Stranding 2: On the Beach carrega essa assinatura de forma ainda mais visível: é uma continuação que não tenta repetir a fórmula do sucesso, mas repetir seus silêncios. Agora, Sam Porter Bridges deixa as montanhas nevadas dos EUA para atravessar desertos e penhascos na México e na longínqua Austrália, com a mesma missão que lhe foi dada antes: conectar o mundo, um passo de cada vez.
A história se passa onze meses após os eventos do primeiro jogo. Sam vive em paz até ser convocado por Fragile a levar a Rede Quiral do México até o outro lado do globo. A missão não é nada complicada, só um tanto longa, mas estamos falando de Kojima, se antes o mundo estava quebrado, agora ele corre o risco de simplesmente deixar de existir.
Assim como o primeiro, o jogo não entrega ação frenética, e sim uma jornada existencial, guiada por temas filosóficos, espirituais e quase metafísicos, onde nada é simples, e muitas explicações ficarão a cargo da interpretação de quem joga.
Contemplando a caminhada

Poucos jogos entendem tão bem o silêncio quanto Death Stranding, e sua trilha sonora continua sendo um dos principais pilares dessa experiência. As melodias instrumentais surgem discretamente nas caminhadas mais longas, costurando a solidão de Sam com notas suaves, etéreas, quase invisíveis. Em certos momentos, uma simples travessia por um desfiladeiro desértico se transforma em uma poesia visual sobre a fragilidade da existência humana.
É nesse ritmo que o jogo se impõe. Não com grandiosidade explosiva, mas com uma melancolia cuidadosa.
Novos personagens, o mesmo problema

Entre os novos personagens, ninguém chama mais atenção que Neil Vana, uma espécie de Snake pós-apocalíptico. Sua presença é enigmática. Ele não precisa falar muito. A performance é carregada nos olhares, nos gestos contidos, naquilo que não é dito.
Do outro lado do espectro está Higgs. O retorno do vilão traz mais do mesmo: falas teatrais, gestos exagerados e uma aura que tenta flertar com o trágico, mas escorrega no caricato como um otaku querendo escrever um personagem “very crazy” pegando como referência o Coringa de Heath Ledger e o Corvo de Brandon Lee. Com um discurso místico que se perde em camadas de regras e símbolos criados por aquele complexo universo.
História com fôlego de cinema

Kojima continua sendo um narrador ambicioso. A trama se desenrola em ritmo cinematográfico, expandindo o universo da série com fluidez narrativa, bons diálogos e um senso de escala admirável, você fica instigado em explorar mais e fazer mais entregas. A travessia entre o México e a Austrália funciona tanto como jornada física quanto simbólica, reforçando a ideia de reconexão em um mundo ferido.
Mas nem tudo são flores de chiralium. Depois de tantas horas imerso em discussões sobre tempo, humanidade e solidão, o desfecho no final da história escorrega: rápido demais, conveniente demais, hermético demais.
Além disso, parte da equipe de Sam são carismáticos, mas são personagens que surgem e não dizem a que vieram. Talvez sejam arquétipos disfarçados de mistério, que poderiam ser metáforas, mas talvez essa interpretação tenha me faltado.
Entregar nunca foi tão prazeroso

Se o primeiro Death Stranding testava a paciência com suas mecânicas logísticas, On the Beach ajusta a jogabilidade. Organizar a mochila é mais rápido, o menu para receber e selecionar suas entregas está limpo, está mais intuitivo e criar suas rotas funcionam com clareza. É como se o jogador passasse a sentir mais prazer no planejamento do que na execução.
A construção do mundo se beneficia disso. Você pode transformar trilhas em rodovias, cruzar desfiladeiros com tirolesas e erguer pontes sobre abismos, e tudo está muito mais fácil para se criar já que o acesso aos recursos estão mais fáceis. Cada entrega vira um microdesafio estratégico. E quando a DHV Magalhães, uma nave pilotada por ninguém menos que George Miller (sim o diretor de Mad Max), entra em cena, a travessia fica tranquila já que está funciona como um ponto de viagem rápida. Não é sempre que ela aparece, mas quando surge, é como encontrar um oásis de alcatrão no meio do nada… não, calma, essa comparação não foi muito boa.
Combate ainda morno

Se há um ponto em que a jornada tropeça, é no combate. Sim, há novidades: novas armas, abordagens diferentes, táticas mais elaboradas para bases inimigas. Mas no fim, a pancadaria continua sendo o elo mais fraco da corrente em Death Stranding 2.
Sam luta como alguém que carrega o mundo nas costas (ou 300 quilos de caixas) e os confrontos acabam soando mais como interrupções do que clímax. Os inimigos não oferecem real desafio, e os encontros com Mulas e EPs já não assustam como antes. Em resumo: o sistema é funcional, mas longe de ser empolgante.
Reconexão sempre foi o objetivo

No centro de Death Stranding 2 está a ideia de reconectar. Reconectar pessoas, memórias, espaços internos. É um jogo sobre estar longe e querer estar perto. Sobre o peso de uma entrega, o valor do que se carrega e sem muitos spoilers… a dor da perda.
Mesmo com um vilão fraco, combates mornos e um final que parece mais um ponto-e-vírgula do que um ponto final, a jornada de Sam é tocante, imperfeita e humana. E talvez seja isso que Kojima queira dizer desde o início: a beleza não está no destino, mas em cada passo até ele.
Considerações finais

Death Stranding 2: On the Beach entrega (olha o trocadilho) mais firmeza, mais equilíbrio e menos tropeços. A trilha sonora continua sublime, a jogabilidade é uma excelente evolução de seu antecessor, a mesma foi tratada com carinho, e visualmente, o jogo é de tirar o fôlego. Assim como o primeiro, é um convite à contemplação.
Distribuidora: Sony Interactive Entertainment
Desenvolvedor: Kojima Productions
Gênero: Ação e aventura
Disponível para: PlayStation 5
Data de lançamento inicial: 26 de junho de 2025