*Este review foi realizado com uma copia disponibilizada pela Capcom
A Capcom volta ao ringue das coletâneas com um movimento ousado. Depois do sucesso da primeira Capcom Fighting Collection, agora é a vez de um mergulho mais profundo — e, em certa medida, mais corajoso — no seu baú de franquias. Capcom Fighting Collection 2 é mais do que um compilado de jogos de luta: é uma carta de amor aos anos de transição, quando o gênero tentava se reinventar, flertando com o 3D, testando misturas de estilos e buscando manter seu domínio cultural em um mundo cada vez mais voltado ao online competitivo.

A coleção reúne oito títulos, e o grande destaque inevitavelmente recai sobre Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001, um dos crossovers mais reverenciados da história dos jogos de luta. Sua presença por si só já justificaria o pacote, graças ao refinamento tático que trouxe com o sistema de “Grooves”, a seleção massiva de personagens e o apuro técnico da época. Mas o verdadeiro mérito da coletânea está em ir além do óbvio. Ela também resgata o primeiro Capcom vs. SNK, mais simples, mas essencial para entender a evolução da parceria Capcom-SNK, além de trazer Street Fighter Alpha 3 Upper — uma versão rara do lendário Alpha 3, com balanceamento aprimorado e personagens adicionais nunca vistos fora dos fliperamas japoneses.

Mas é na diversidade estética e mecânica que a coletânea ganha identidade própria. Power Stone 1 e 2, por exemplo, representam uma vertente única da Capcom: um brawler 3D frenético e acessível, com arenas interativas e um foco maior na diversão caótica do que no duelo técnico. São jogos que brilharam no Dreamcast, mas que acabaram obscurecidos com o declínio do console. Tê-los disponíveis agora, com netcode moderno e suporte total a multiplayer online, é uma pequena vitória da preservação digital.
Já Project Justice — sequência de Rival Schools — é uma das joias mais cult da coletânea. Mistura luta em equipe com narrativa colegial estilizada, animações exageradas e um espírito de anime que permanece absolutamente cativante até hoje. Ao lado dele, Plasma Sword é o lado mais experimental da Capcom nos anos 90: personagens bizarros, armas de energia, narrativa sci-fi exagerada e lutas viscerais em 3D que, mesmo datadas, têm seu charme intacto. São jogos que não ganham os holofotes facilmente, mas dizem muito sobre a ousadia de uma Capcom que não tinha medo de arriscar.

No meio disso tudo está Capcom Fighting Evolution, talvez o elo mais fraco da corrente. Uma tentativa de criar uma “colcha de retalhos” com personagens de diferentes franquias e estilos gráficos distintos, o jogo nunca encontrou uma identidade sólida. Apesar disso, ele carrega valor histórico: representa o fim de uma era para a Capcom, antes da chegada da série Street Fighter IV e do renascimento dos jogos de luta nos anos 2010.
Tecnicamente, a coleção é competente e respeitosa. Todos os jogos foram adaptados com filtros gráficos ajustáveis, possibilidade de salvar o progresso em qualquer momento, modo treino com exibição de hitboxes e, o mais importante, rollback netcode em todos os títulos — garantindo partidas online estáveis e responsivas. Não há crossplay, o que pode decepcionar jogadores com amigos em outras plataformas, mas o matchmaking em si funciona bem. Além disso, a Capcom caprichou na galeria de extras: trilhas sonoras completas, materiais promocionais originais, concept arts e textos históricos ajudam a contextualizar cada título. É um museu digital tão informativo quanto nostálgico.
O que realmente diferencia Capcom Fighting Collection 2, no entanto, é a sua proposta: enquanto a primeira coletânea apostava em uma identidade clara e coesa, esta segunda edição mergulha na variedade. É menos coesa, mas mais rica. Em vez de oferecer um único tipo de experiência, ela propõe uma viagem por diferentes momentos criativos da Capcom — alguns gloriosos, outros esquecidos, mas todos essenciais para entender a trajetória da empresa no gênero.
Para os fãs de longa data, é um reencontro emocionante com jogos que marcaram uma geração. Para os novos jogadores, é uma introdução vibrante a um capítulo da história dos videogames que precisa ser revisitado. Mesmo com uma ou outra escolha questionável no lineup, a Capcom acerta ao não jogar seguro. Capcom Fighting Collection 2 celebra o risco, a variedade e, acima de tudo, a alma do fighting game: ser palco de encontros improváveis, de personagens memoráveis e de sistemas que desafiam tanto os reflexos quanto a criatividade.
Capcom Fighting Collection 2 é uma coletânea essencial não por reunir os jogos mais famosos, mas por resgatar o espírito experimental e audacioso da Capcom. Um tributo honesto, técnico e emocional a uma era de transição.
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