*Este review foi realizado com uma copia do jogo disponibilizada pela Bandai Namco
Quando a FromSoftware anunciou Elden Ring Nightreign, poucos sabiam ao certo o que esperar. Seria mais uma expansão para o colosso de 2022? Um novo capítulo na jornada do Sinluz? Ou algo completamente diferente? A resposta é uma mescla de tudo isso — e mais. Lançado em 30 de maio de 2025, Nightreign surpreende ao fugir da fórmula consagrada e entregar um spin-off experimental que mescla roguelike, ação cooperativa e o sabor inconfundível do sofrimento tão típico da desenvolvedora.
Ambientado em uma realidade alternativa chamada Limveld, o jogo reconstrói, distorce e reimagina elementos de Elden Ring para criar algo familiar e ao mesmo tempo inédito. Ao invés de jornadas solitárias e mundos abertos, o foco agora está em runs de 45 minutos com três jogadores cooperando para derrotar os temidos Nightlords — chefes únicos que são o ponto alto da experiência.
Uma estrutura implacável com tempo contado
O coração de Elden Ring Nightreign pulsa em ciclos curtos e intensos. Cada partida é dividida em três dias in-game, com o mapa se estreitando à medida que o tempo passa — uma clara inspiração em jogos Battle Royale, porém sob o filtro sombrio da FromSoftware. O objetivo é simples: sobreviver, fortalecer-se e, ao final, confrontar um Nightlord. Simples no papel, brutal na prática.

A urgência que o tempo impõe muda completamente a abordagem tradicional dos jogos Soulslike. Não há espaço para contemplação, exploração livre ou farming metódico. Cada decisão importa. O ritmo é voraz. É o Elden Ring acelerado e comprimido em forma de roguelike.
O mundo de Limveld: familiar, mas corrompido
Limveld, o cenário principal do jogo, é uma versão fragmentada e procedural de Limgrave — a área inicial de Elden Ring. Aqui, a beleza decadente da paisagem original dá lugar a um caos arquitetônico moldado por algoritmos. Torres flutuantes, pontes quebradas e ruínas rearranjadas criam ambientes instáveis, mas coerentes com a estética da série.
A sensação de desorientação é intencional. Ao tornar o mundo imprevisível, o jogo obriga os jogadores a adaptarem suas estratégias a cada novo ciclo. Não há como decorar caminhos ou antecipar armadilhas — tudo é construído para forçar improviso e cooperação tática.
O mundo de Limveld: familiar, mas corrompido
No início de cada run, os jogadores escolhem uma entre seis classes (duas adicionais podem ser desbloqueadas com progresso). Cada uma tem um estilo de combate distinto: o Guardian é um tanque defensivo, o Ironeye foca em dano à distância, o Executor abusa de golpes brutais, e assim por diante.

O destaque está na forma como as builds são formadas dinamicamente. Ao longo das runs, itens, runas e habilidades surgem de maneira aleatória, forçando o jogador a se adaptar. Um Guardian pode acabar com um set focado em dano mágico; um Executor pode priorizar mobilidade. As combinações possíveis são inúmeras e estimulam experimentação constante.
Esse dinamismo transforma cada run em uma experiência diferente, ainda que nem sempre equilibrada. Às vezes, uma build aleatória torna o jogador quase imbatível. Em outras, a falta de sinergia leva à frustração precoce.
Combates contra Nightlords: onde o jogo brilha mais forte
Sem dúvidas, os Nightlords são o ápice de Elden Ring Nightreign. Esses chefes não apenas possuem um design visual deslumbrante e grotesco — como é tradição na FromSoftware —, mas também trazem mecânicas únicas e até comportamentos adaptativos.

O destaque vai para Libra, uma entidade mascarada que tenta negociar com os jogadores antes da batalha. Dependendo das escolhas feitas, ela pode oferecer vantagens, curas temporárias ou reagir com ira devastadora. Esse tipo de complexidade emocional e mecânica é um sopro de inovação, ainda que apenas um punhado de chefes explore esse nível de profundidade. Os combates exigem coordenação total. Não há espaço para heróis solitários, cada jogador precisa entender sua função.
Matchmaking e limitações técnicas: o lado sombrio da experiência
Infelizmente, Elden Ring Nightreign também carrega consigo algumas das dores crônicas da FromSoftware. O matchmaking é limitado: não há suporte a crossplay, nem chat de voz integrado. Isso dificulta jogar com amigos de plataformas diferentes ou coordenar táticas com desconhecidos — o que, em um jogo tão focado na cooperação, é um erro grave.

Além disso, a obrigatoriedade de três jogadores torna a experiência solo praticamente inviável. O balanceamento é duro, implacável, e mesmo os mais habilidosos sentirão que falta algo quando jogam sem companhia.
Ainda que o desempenho gráfico seja consistente — com ambientes atmosféricos, efeitos climáticos de qualidade e chefes imponentes —, pequenos bugs de colisão e travamentos pontuais ainda ocorrem. A trilha sonora, por outro lado, mantém o nível épico que a série exige, elevando a tensão dos combates e a melancolia dos momentos de transição.
Recompensa e repetição: o ciclo do esquecimento
Um dos grandes dilemas de Elden Ring Nightreign está em sua repetitividade estrutural. Apesar das dezenas de builds possíveis e da aleatoriedade das runs, o núcleo do gameplay se repete de maneira previsível após certo tempo: explorar, enfrentar mobs, coletar buffs, sobreviver ao ciclo, enfrentar o chefe.
O jogo não oferece um arco narrativo progressivo robusto. Há recompensas cosméticas e desbloqueio de classes, mas nada que aprofunde o universo ou leve a um clímax grandioso. A ausência de um enredo mais envolvente pode afastar quem espera a densidade narrativa típica da franquia.
Devo comprar?
Elden Ring: Nightreign é uma obra de contraste. Por um lado, mostra a ousadia da FromSoftware em reinventar sua fórmula com mecânicas modernas, ritmo acelerado e foco em cooperação. Por outro, revela as limitações dessa proposta ao ser inflexível com o jogador solo e depender fortemente de matchmaking funcional.
O jogo brilha nos combates, nos chefes, nas possibilidades táticas e na intensidade das runs. Mas tropeça na repetição e na falta de ferramentas sociais adequadas. É um título que exige compromisso — não apenas com o sofrimento habitual, mas com a formação de grupos e estratégias.
Para fãs de Elden Ring que desejam uma abordagem diferente, mais direta e cooperativa, Nightreign é um prato cheio. Para os que preferem exploração, narrativa densa e autonomia, talvez seja melhor aguardar o próximo grande ciclo da Térvore.