Venom – Crítica

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Em um tempo onde já é gostoso dizer que estamos cansados de filme de herói, Venom, o vilão do Homem-Aranha, ganha um filme próprio. Mas se tal fadiga já não é novidade, também não é nada novo combatê-la com protagonistas moralmente controversos. Deadpool é um bom exemplo de como que os anti-heróis podem dar um frescor ao gênero. Isso, claro, desde que eles sejam, em alguma medida, errados.

Venom parece não ter entendido essa lição.

Verdade seja dita: aqui, Venom só é anti-herói porque alguém resolveu chamá-lo assim. Além de, claro, o fato de que ele come umas cabeças de vez em quando. Mas o ponto é: fora esse pequeno detalhe gastronômico, Venom tem precisamente tudo aquilo que nos cansou em filmes de herói.

O roteiro é raso, recheado de personagens maniqueístas (bonzões ou malvadões), com motivações aleatórias e com a incrível habilidade de conseguir entrar em locais que deveriam estar protegidos. Se é pra fazer a história andar, tanto faz se o lugar deveria ter câmeras, guardas, se estava cercado pela polícia ou se você está traindo sua raça inteira só porque você sofria bullyng no colégio. (Sim, essa é a motivação do simbionte).

Eddie Brock boa praça

Falando no nosso protagonista, nem a brilhante capacidade de atuação de Tom Hardy foi capaz de esconder seu constrangimento ao assumir o papel de Eddie Brock. Nesse filme, inclusive, Eddie se apresenta como um repórter idealista com um forte senso de moral. Tal característica até destoa de sua versão tradicional dos quadrinhos, mas não impressiona. Devo dizer, inclusive, que essa mudança era até esperada.

Eddie vai até ao mercadinho para mostrar que é gente como a gente.

Apresentar um Brock bonzinho não teria o menor problema se essa fosse a proposta do filme. Acontece que não era! Venom se vende como um filme de anti-herói, mas não age como tal. Seus atos e motivações são como as de qualquer outro típico herói do universo Marvel. Ele só come cabeças para justificar o título de “anti”, mas isso não adiciona qualquer peso à história.

Apresentando mais do mesmo

É com um roteiro raso e com um herói chapa branca que o filme vai nos guiando para o típico final onde se arranja qualquer motivo para colocar o destino do planeta inteiro nas mãos do nosso simbionte. Tudo isso com direito a uma sequência “épica” de dois homens-geleca saindo no braço que, sim, é tão ridícula quanto parece.

Convincente, né? Não? Bem, vê-lo em ação é ainda pior.

Apesar de tudo, Venom não é um filme penoso de se assistir. A história é fácil de acompanhar, além de que a relação entre Eddie e o simbionte é, no mínimo, interessante. É uma espécie de bromance que soa bem esquisito no início, é verdade, mas toma forma ao longo do filme. Pode dar certo, se feita com carinho.

Venom é um filme de herói como outro qualquer, mas que se traveste em cores escuras para parecer mais malvadão. Faltou ao simbionte entender a maior lição que Deadpool deixou: não basta se chamar de anti-herói, é preciso agir feito um.

Ou, pelo menos, ter a coragem de falar uns palavrões. Já ajudaria bastante.