Uma Quase Dupla – Crítica

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Quando eu vi o bigode grosso de Cauã Reymond no pôster de Uma Quase Dupla, soube que teria que ver esse filme. Percebam a forma, o volume, a simpatia! Com um bigode desses, não me restavam dúvidas: dali certamente sairia um sucesso.

Errei.

Após um misterioso assassinato acontecer na pacata cidade de Joianópolis, Keyla (Tatá Werneck), uma policial experiente do Rio de Janeiro, é enviada para ajudar no caso. Para isso, ela precisará colaborar com Cláudio (Cauã Da’Porra Reymond), o ingênuo subdelagado da cidade que não está nada acostumado com a violência.

Como o enredo deixa bem claro, Uma Quase Dupla se inspira muito nos clássicos filmes policiais. Toda a ambientação que você espera ver em uma obra do gênero está aqui: da musiquinha de investigação às viaturas preto e brancas. Além, óbvio, da boa e velha premissa de dois policiais antagônicos que se unem em torno de um caso misterioso. Um clássico buddy cop.

Amigo que não pega na genitália do amigo eu nem quero.

O que o enredo não deixa bem claro, porém, é que o filme tá 102% focado na comédia. Até há alguma ação e mistério, mas tais elementos servem meramente para cumprir uma função narrativa. O foco aqui é o humor, opção essa que, por si só, não é nenhum problema! Como Jackie Chan bem sabe, buddy cops são um terreno fértil para boas piadas. Entretanto, para isso ser possível é preciso que haja uma boa dinâmica entre os protagonistas, algo que não acontece em Uma Quase Dupla.

Cauã Reymond até é feliz em sua atuação. Como policial ingênuo, Reymond é uma saudável surpresa no filme, não apenas conseguindo convencer que é um filhinho de mamãe, mas até fazer com que sintamos empatia por ele. Sua ingenuidade, em alguns momentos, chega a dar inveja! É realmente uma pena que sua dupla seja só mais uma daquelas personagens esquisitas da Tatá Werneck.

Se Cláudio é o menino inocente, era para Keyla ser a policial durona, experiente, que serviria para nos trazer de volta à realidade. Isso realçaria ainda mais o rídiculo da personalidade ingênua de Cláudio, tal como o Capitão Holt faz com Peralta em Brooklyn-99. Acontece que, em vez de fazer contraste com o ingênuo subdelegado, Keyla acaba competindo com ele, tentando fazer piada a todo instante com aquele velho jeito freak da Tatá Werneck de ser.

A atuação de Werneck serve, inclusive, para ilustrar o tom de todo o resto do filme: uma comédia assumida e insistente, que está mais preocupada em contar piadas do que criar situações cômicas. Isso até acaba gerando alguns momentos inspirados, mas tratam-se apenas de momentos. Na maior parte do tempo, o filme é uma comédia boba que desperdiça uma excelente reprodução do gênero policial.

Talvez o ponto mais alto do filme seja Daniel Furlan, que entrega aquele humor de Choque de Cultura que felizmente continua firme e forte em seu plano de dominar o mundo. De resto, todos os personagens estão lá apenas para cumprir função, além de fazerem cara de suspeitos quando estão sozinhos sem nenhuma razão aparente.

Como assim é um filme policial e não tem uma perseguição de carro?

Uma Quase Dupla é mais uma comédia pastelão. Um veredito clichê, sim, mas para um filme que usou dele até dizer chega. Algo que não seria um problema se a obra tirasse sarro disso. Entretanto, em vez de usá-lo como um recurso, Uma Quase Dupla usa o clichê por preguiça de pensar em algo melhor. O resultado é uma comédia insistente que desperdiça gênero, elenco e o belo bigode grosso de Cauã Reymond. Uma pena.