The Last of Us (1º temporada) – Crítica

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*Crítica realizada com a temporada completa disponibilizada pela HBO MAX

The Last of Us nem sequer é uma trilogia, mas já conquistou um espaço de respeito no hall da fama dos videogames, sendo dois dos jogos mais premiados de todos os tempos e, não menos importante, altamente aclamados pela crítica. A franquia pós-apocalíptica idealizada por Neil Druckmann e brilhantemente desenvolvida pela Naughty Dog fez sua fama por trazer uma narrativa cinematográfica, personagens incrivelmente bem construídos e assuntos bastante delicados – mesmo que seja em um contexto de fim do mundo.

Quando a HBO anunciou sua adaptação do primeiro jogo para a televisão, tudo indicava que eles tinham um trabalho bem tranquilo em mãos, tamanha a qualidade cinematográfica da obra. Contudo, não podemos nos esquecer do verdadeiro significado de uma adaptação, que aqui visa transformar um videogame em outro tipo de mídia para um público totalmente novo – tudo isso sem perder a essência do material original. Felizmente, o próprio Neil Druckmann esteve envolvido nessa transição e teve ajuda de Craig Mazin, a mente brilhante por trás da impecável minissérie Chernobyl (também da HBO).

Atualmente, The Last of Us já está com três episódios no ar e se encaminha para o quarto no próximo domingo. A HBO nos deu a oportunidade de assistir a temporada completa de forma antecipada, então esta crítica abordará a obra como um todo – mas sem spoilers, então pode ler sem medo.

Sobrevivendo ao caos

Para quem ainda não conhece The Last of Us ou sequer sabe do que se trata, temos aqui uma realidade onde o mundo foi assolado pela pandemia de um fungo conhecido como Cordyceps. Esse organismo é capaz de infectar pessoas e tomar o controle de seus corpos, praticamente as transformando em zumbis (a ideia é a mesma, só que aqui eles não estão mortos, biologicamente falando).

Dentro dessa realidade, somos apresentados a Joel (Pedro Pascal), um homem de meia idade que perdeu sua filha Sarah (Nico Parker) no começo da pandemia e, nos 20 anos que se seguiram, viveu uma vida amargurada e longe de laços emocionais. Tudo isso muda quando Joel é encarregado de uma missão muito importante: levar uma garota chamada Ellie (Bella Ramsey) para o outro lado do país. Ellie é imune ao fungo e, por conta disso, acaba sendo a última esperança de uma cura para a humanidade. A partir daqui, o resto é história.

Ao longo dos seus nove episódios, a série de The Last of Us conta todos os principais acontecimentos do jogo, então quem jogou não vai ver muitas divergências da narrativa original. Tudo é tão fiel que algumas cenas são retratadas exatamente como no videogame, com as mesmas falas, enquadramentos, transições e todo tipo de detalhezinho. Ainda assim, os showrunners não deixaram de adaptar algumas coisas e trazer uma quantidade considerável de novidades para a série, então achei que o equilíbrio entre as duas coisas foi perfeito.

Logo no primeiro episódio, temos a oportunidade de passar mais tempo com Sarah antes daquele fatídico evento, algo que o jogo não nos proporciona. No segundo, podemos ver como a pandemia se desenrolou em uma outra parte do mundo, mais um ponto de vista inexplorado nos videogames. O terceiro episódio é disparado o mais ousado da série inteira (e também um dos meus preferidos), sendo quase totalmente focado na história de dois personagens que mal conhecemos ao longo do game – e, de brinde, ainda nos proporcionando momentos de arrancar lágrimas.

Os três primeiros episódios já nos mostram que os roteiristas tiveram o cuidado de tornar o conteúdo interessante tanto para quem conhece a história quanto para aqueles que estão acompanhando tudo pela primeira vez. A partir do quarto episódio, achei que as coisas ficam muito paralelas aos acontecimentos do jogo, então infelizmente são poucas as novidades vistas dali em diante.

Foco nos sobreviventes

Apesar de ser uma história pós-apocalíptica, o foco de The Last of Us não é os infectados ou o mundo em ruínas, mas sim os sobreviventes que ainda habitam aquele caos. Esse já é um fator que pode ser visto nos jogos (sendo ainda mais reforçado no segundo título) e aqui foi replicado com perfeição. Existem apenas dois episódios que dão um certo destaque para os infectados e mostram os famosos estaladores que vemos nos games, algo que pode inclusive gerar um certo estranhamento para o telespectador.

The Last of Us está longe de seguir os passos de obras com temática semelhante, como The Walking Dead, que enfia zumbis goela abaixo e os coloca no centro de tudo. Quase todos os episódios colocam pessoas vivas como a verdadeira ameaça daquele mundo e, por vezes, você pode até esquecer que os infectados existem. Essa não é uma mera história de apocalipse, mas sim um conto sobre a jornada de Joel e Ellie, focando em como cada um deles chegou até ali e a importância que um passa a ter para o outro conforme vão enfrentando aquele inferno juntos.

Nada disso seria possível sem a brilhante atuação da dupla Pedro Pascal e Bella Ramsey, com destaque para Bella, cuja performance é digna de prêmios. A química entre os dois é praticamente instantânea e, mesmo sabendo exatamente tudo que vai acontecer, você ainda consegue se emocionar, ficar tenso ou torcer por eles em cada cena. Para quem não conhece a história, talvez seja uma experiência até melhor!

Ao subir os créditos do último episódio, a sensação que fica é a de “quero mais” – e nós de fato teremos, já que a HBO confirmou a segunda temporada. The Last of Us é mais uma obra audiovisual que foge da sina de adaptações ruins de videogames, entregando um material mais do que justo. É fiel até demais ao original e ainda se permite inovar um pouquinho aqui e ali, então é uma série para fã nenhum botar defeito. Já não vejo a hora de ver os acontecimentos do segundo jogo novamente e ter uma experiência tão intensa quanto tive na pele de Ellie e cia.