The Callisto Protocol – Review

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Dos mesmos criadores de Dead Space, The Callisto Protocol busca reviver as raízes do “survival horror no espaço” que foram tão bem introduzidas no início da sétima geração de consoles. Em nenhum momento os devs esconderam que essa é uma tentativa descarada de criar um novo Dead Space dentro de uma IP inédita, tanto que desde os primeiros gameplays revelados, estava nítido que o jogo era bem parecido com sua maior inspiração – para não dizer igual. Dito isso, temos aqui um legítimo sucessor espiritual desta franquia que está prestes a receber um grande remake do seu primeiro título (o que me faz questionar o timing desse lançamento).

The Callisto Protocol é bem clichê, mas é um daqueles clichês bons. A história não cativa, as motivações pessoais do protagonista e até da trama em si são totalmente simplórias e no final tudo gira em torno de uma única proposta: sobreviva ao inferno. Aqui estaremos encarcerados em uma prisão espacial repleta de criaturas horrendas, prontas para nos matar das formas mais brutais possíveis, mas isso não quer dizer que não poderemos nos defender. Prepare-se para mutilar muito!

Em cana no espaço

Se passando no ano de 2320, aqui entramos no papel de Jacob, um mero entregador que foi encarregado de levar uma carga até Callisto, uma lua morta localizada em Júpiter. Como o trabalhador honesto não tem um dia de paz, a nave sofre um ataque de uma figura misteriosa e acaba caindo na superfície do planeta, fazendo Jacob ser confundido com um invasor e encarcerado em uma prisão de segurança máxima. É aqui que o verdadeiro inferno toma forma.

Devido a um misterioso vírus que assolou a prisão, Jacob consegue escapar da sua cela, mas apenas para se deparar com um completo caos. Os prisioneiros, guardas e praticamente todos os humanos presentes ali começam a se transformar em monstros sanguinários, então além da missão de escapar, também temos um objetivo ainda mais importante: sobreviver. Ao longo dessa jornada teremos o auxílio de aliados que vão aparecendo aqui e ali, mas no final somos só nós por nós mesmos.

A história de Callisto Protocol não é grande coisa e, na maior parte do jogo, é praticamente inexistente! Após essa introdução, que é toda contada ao longo do tutorial, o game tira totalmente o foco do enredo e parece que nosso único objetivo ali é lutar pela sobrevivência. Não chega a fugir da proposta, mas senti falta de uma trama mais elaborada e que prenda do início ao fim. Somente próximo do final que as coisas começam a ser explicadas e, no fim, é tudo tão clichê que a espera acaba não valendo a pena.

A falta de um enredo de peso acaba até desperdiçando uma das maiores virtudes do jogo: seu visual, com destaque para os personagens. A Sony auxiliou o estúdio responsável a fazer as capturas faciais e de movimentos, então temos aqui expressões de cair o queixo e uma movimentação incrivelmente fluida. Assistir a uma cutscene é praticamente como ver um filme, algo que seria muito melhor aproveitado com uma história caprichada – não que a intenção de deixar todas as revelações para o final tenha sido ruim, mas poderiam ter trabalhado melhor com essa parte do mistério.

Os gráficos também fazem jus à tecnologia utilizada e a direção de arte é impecável. Essa prisão é um lugar realmente apavorante, com toda a escassa iluminação sendo utilizada da maneira certa: iluminando pontos de interesse, mas sem sacrificar o medo que o ambiente provoca.

Rip and tear

A jogabilidade de The Callisto Protocol é praticamente idêntica à de Dead Space, só que aprimorada com uma tecnologia mais moderna. Toda a HUD é brilhantemente distribuída no corpo do personagem, então a tela não é nada poluída e, através de Jacob, conseguimos acompanhar tudo de mais importante. Já o combate também é bem parecido, incluindo armas corpo-a-corpo, trabucos e um poderzinho de gravidade, que permite puxar e arremessar inimigos.

Contudo, não se anime, pois você não vai dispor de tudo isso logo de cara. As primeiras horas de jogo são bem frustrantes, principalmente porque o mapeamento de botões é bizarro. Já começa errado quando precisamos apertar R2 para ataques leves e R1 para golpes pesados, o que já vai totalmente na contramão da maioria dos jogos, mas a pior parte está na esquiva. Você precisa utilizar o analógico esquerdo para escapar dos golpes inimigos, apontando a direção que deseja “dar um passinho”. Ao apertar para trás, Jacob bloqueia, perdendo um pouco de vida, mas ainda mantendo um certo controle da situação.

Sem armamento pesado e a destreza necessária para esquivar com o analógico, você vai morrer muito no começo, bastando apenas uns três golpes para ser dilacerado de uma forma bem desagradável. É bem óbvio que os devs decidiram mapear os botões de uma forma não convencional para que o jogador sinta medo dos monstros o tempo inteiro, o que por sua vez leva ao desespero e, a partir daí, uma sequência de erros. Entretanto, logo o medo passa e o que sobra é apenas frustração. Ao menos isso vai diminuindo conforme vamos liberando mais recursos.

A variedade de monstros não é muito grande, mas é satisfatória o bastante para causar um mini infarto com frequência. O visual deles é bem maneiro, mas o maior destaque fica nos sons que eles reproduzem, que acaba roubando toda a cena do fator “terror”. As criaturas costumam usar os dutos de ventilação para chegar até você, então por vezes você só escutará elas se locomovendo e fazendo um barulho desesperador, até que finalmente possa encontrá-las (o que geralmente acontece com um susto). Com o tempo, elas vão ficando mais fortes e resistentes, então o desespero é maior.

A campanha não é longa, durando entre 10 e 12 horas e, nesse tempo, digamos que apenas metade sustenta o clima de terror intenso. Quando se acostumar, a ação acaba roubando a cena e você não vai ter mais medo dos monstros, já que contará com um arsenal grande o suficiente para acabar com eles – mas lembre-se que a munição é limitada. A partir daí, The Callisto Protocol perde muito do seu brilho, mas consegue se sustentar como um jogo decente até o final.

Para quem é fã de Dead Space, o sucesso é praticamente garantido. O jogo entrega tudo que este clássico moderno já oferecia, só que com uma tecnologia mais digna dos consoles atuais. Já tem até DLC anunciado, incluindo um pacote extra de mortes para Jacob, o que é completamente aleatório e desnecessário, mas é o que há. The Callisto Protocol sem dúvidas é um grande jogo, mas os fãs de survival horror mais exigentes podem acabar se decepcionando, dependendo do nível das expectativas.