Spiritfarer – Review

Spiritfarer Keyart

Pessoas entram e saem das nossas vidas o tempo todo e não há nada que possamos fazer, é um ciclo natural e muitas vezes inevitável. Porém, esse tipo de perda não pode ser equiparado com a dor de perder alguém na morte, um destino doloroso e selado que um dia todos teremos que enfrentar.

Spiritfarer é um belíssimo jogo que, de uma maneira muito sutil, aborda esse assunto tão pesado que é a morte. A Thunder Lotus Games soube tratar do tema de maneira cuidadosa e empática, mostrando que, por mais horrível que seja, ainda podemos tirar algo bom disso tudo.

O fim é um começo

Nossa protagonista é Stella, uma jovem menina que esbanja vida e alegria. Ela foi escolhida a dedo para ser a nova Spiritfarer, a barqueira responsável por guiar espíritos perdidos para o descanso eterno, assim como realizar seus últimos desejos. O jogo começa com Caronte, o antecessor de Stella, transferindo seus poderes para ela e finalmente partindo para ter o seu merecido descanso.

Spiritfarer surpreende de muitas formas. Trata-se de um jogo que mistura vários gêneros e traz simulação de fazenda, administração de recursos, exploração e até relacionamentos, mas tudo perfeitamente encaixado dentro do contexto.

O trabalho de Stella é encontrar almas perdidas e levá-las para o seu barco. O mundo que exploramos é um tanto enigmático, aparentando ser o mesmo mundo dos vivos; porém, ao que tudo indica, estamos no plano dos mortos, uma espécie de Purgatório. Quando as pessoas morrem, elas ficam presas nesse plano até que o Spiritfarer – ou seja, nós – as encontremos e realizemos seus últimos desejos.

Temos um vasto mapa repleto de ilhas e pontos de interesse para explorar e em todos eles encontramos almas vagando, mas somente algumas poderão ser levadas para o barco. Todas elas estão relacionadas de alguma forma com o passado de Stella e são pessoas que ela conhecia antes de se tornar Spiritfarer, então através delas também conheceremos um pouco mais da nossa protagonista.

Descanse em paz

Uma vez que encontramos novos tripulantes, eles se transformam em algum animal que de algum modo representa a sua personalidade em vida (como se fosse um animal espiritual). Todos eles precisam de atenção diariamente, assim como serem devidamente alimentados com comidas que gostam e receberem um espacinho aconchegante no barco.

Quando você não cumpre esses requisitos, seus tripulantes vão ficando chateados e irritados e não vão colaborar com você. Fazendo tudo direitinho você desbloqueia novas missões que vão ajudá-los a alcançar o seu descanso eterno, além deles ajudarem com as tarefas do barco.

Através de um pequeno gesto, o jogo também mostra como é eficaz o poder de um abraço naqueles que estão sofrendo pelo luto. Quando os bichos estão tristes, Stella pode abraçá-los para elevar seu humor e não tem um único deles que rejeite um abraço. Assim como na vida real, o amor e o afeto são peças chave em nossas vidas.

O barco é customizável e pode ser melhorado e expandido para podermos construir cada vez mais. Aos poucos vamos criando novas estações nele, como uma cozinha, uma tesouraria ou até uma marcenaria. Tudo isso é útil para se obter novos recursos e ainda dá um ofício para seus tripulantes, os mantendo ocupados e felizes.

A única parte ruim dessa jornada é que, com o tempo, as obrigações impostas por esse sistema de simulação tendem a ficar cansativas e muitas vezes teremos que adiar nossa exploração e outras tarefas mais importantes para cozinhar, pescar, plantar ou regar as plantas. Não tem nada de muito complexo nas mecânicas do jogo e tudo isso você faz com o simples apertar de um botão, mas ainda assim se torna repetitivo.

Quanto ao visual, nem tem muito mais que eu possa acrescentar além de enfatizar que este jogo é lindo, quase uma pintura viva. Tudo foi desenhado a mão e possui animações extremamente fluidas que enchem os olhos. A trilha sonora também é tão deliciada quanto o restante do pacote, se alternando com momentos de silêncio e reflexão que todos nós precisamos.

Spiritfarer é uma jornada única e inesquecível. O jogo em si não traz nada de novo, mas consegue se destacar e criar uma identidade própria utilizando todas essas ferramentas já consagradas. Assim como tudo nessa vida, ele também não traz respostas sobre a maldição da morte, mas certamente traz um conforto que ajuda a expandir nossos horizontes.