Sandman – Crítica

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A longa espera dos fãs de quadrinhos finalmente chegou ao fim. A 1ª temporada de Sandman estreia na Netflix nesta sexta, dia 5, com um total de dez episódios. O Portal do Nerd teve acesso antecipado à série, e já podemos adiantar que vale a maratona do fim de semana.

A série é baseada em uma história em quadrinhos premiada, de autoria do escritor inglês Neil Gaiman, publicada de 1989 a 1996. As 75 edições que formam a obra saíram inicialmente pela DC Comics e depois foram incorporadas pelo selo Vertigo Comics, da mesma editora, dedicado a histórias de temática adulta, com um pé no fantástico e outro no terror.

The Sandman. Tom Sturridge as Dream in episode 101 of The Sandman. Cr. Liam Daniel/Netflix © 2022

O universo de fantasia sombria criado por Gaiman mistura diversas mitologias, magia, terror, o sobrenatural e elementos da cultura pop, com direito, inclusive, à máxima: sexo, drogas e rock and roll. Em entrevistas, o autor já afirmou que muito do visual e da atitude dos personagens foi inspirado na cena musical punk e post-punk dos anos 80. Os textos abordam temas profundos, que vão do existencialismo à crítica social, muitas vezes com as histórias servindo como pano de fundo para reflexões sobre as mazelas dos seres humanos.

Não é à toa que os fãs ficaram alucinados quando foi anunciada a adaptação em formato live action, que contou não só com as bençãos do autor, como com sua participação direta. Ele é produtor executivo e participou dos roteiros em companhia dos escritores David S. Goyer (trilogia Blade e Batmans do Nolan, entre outros) e Allan Heinberg (filme Mulher-Maravilha e várias HQs da Marvel). Outras obras de Neil Gaiman como Deuses Americanos, Good Omens, Coraline e Stardust, já haviam se transformado em séries e filmes.

Sandman (Tom Sturridge), também conhecido como Morpheus, Sonho (Dream) e uma série de outros títulos, é o soberano do reino dos sonhos, denominado “Sonhar”, para onde a humanidade vai quando adormece. Ali ele é responsável não apenas pelos sonhos, mas também pelos pesadelos, que representam o pior da humanidade. Junto com seus seis irmãos, todos com seus reinos e símbolos próprios, formam os Perpétuos, entidades místicas imortais, filhos da Noite e do Tempo, que personificam aspectos da vida mundana como a morte, o desejo, o desespero, a destruição, o delírio e o destino.

The Sandman. Tom Sturridge as Dream in episode 102 of The Sandman. Cr. Courtesy of Netflix © 2022

Um dos pesadelos criado por Morpheus, o Coríntio, ganha destaque nos primeiros arcos das HQs de Gaiman, “Prelúdios e Noturnos” e “A Casa de Bonecas”, adaptados para esta primeira temporada. Rebelde e desafiador, ele começa a visitar o mundo desperto, toma gosto pela podridão humana e se torna um assassino em série renegado, com dentes no lugar de seus olhos, com os quais se alimenta dos globos oculares de suas vítimas, absorvendo seus pensamentos, sentimentos e lembranças.

A série tem início com Sandman no encalço de Coríntio (Boyd Holbrook), no ano de 1916, em Londres.  O objetivo dele é destruir sua criação, que perdeu totalmente o controle. Quando estava prestes a cumprir sua missão e corrigir seu erro, ele é aprisionado por um feiticeiro humano, Roderick Burgess (Charles Dance), o Magus, líder de uma seita ocultista que, na verdade, pretendia capturar a irmã de Morpheus, a Morte, e exigir que ela revivesse seu filho, morto na batalha de Galípoli, quando os ingleses invadiram a Turquia.

Magus prende Sandman no porão de sua mansão e, como o senhor dos sonhos não cede às suas exigências, o mantém ali por mais de 100 anos. O primeiro capítulo, “Sono dos Justos”, mostra o período em que ele fica preso, consegue escapar e descobre que, na sua ausência, seu reino foi destruído e uma doença relacionada à falta de sonhos tomou conta de todo o mundo. Essa enfermidade faz com que as pessoas não consigam dormir e enlouqueçam ou não consigam despertar, permanecendo praticamente em coma. 

Uma vez livre, mas enfraquecido, Sonho precisa recuperar três itens roubados pelos captores, que concentram a essência de seus poderes: uma algibeira com areia, um elmo que permite viajar entre diversas dimensões e um rubi que transforma sonhos em realidade. A temporada acompanha a jornada de Sandman em busca desses pertences, para reconstruir seu reino, restaurar a ordem que foi abalada com seu desaparecimento e, de quebra, ajudar a raça humana, mesmo não sendo tão merecedora assim.

The Sandman. (L to R) Vivienne Acheampong as Lucienne, Sanjeev Bhaskar as Cain, Tom Sturridge as Dream, Asim Chaudhry as Abel in episode 102 of The Sandman. Cr. Courtesy of Netflix © 2022

E essa jornada leva a encontros bem interessantes com personagens como os irmãos Caim (Sanjeev Bhaskar) e Abel (Asim Chaudhry), sonhos inspirados nos personagens bíblicos, com direito a assassinatos recorrentes, que são os zeladores da Casa dos Mistérios e da Casa dos Segredos. Morpheus também conta com a ajuda da exorcista Johanna Constantine (Jenna Coleman), a versão feminina do John Constantine dos quadrinhos, o mago inglês punk, sarcástico e malandro, que já foi interpretado no cinema por Keanu Reeves e teve série da DC, também escrita pelo roteirista David Goyer. Outro encontro muito esperado é a visita de Sandman ao inferno para um tête-à-tête com ninguém menos que Lúcifer, interpretado por Gwendoline Christie (a eterna Brianne of Tarth, de Game of Thrones).

Teremos ainda a aparição de três Perpétuos: Morte (Kirby Howell-Baptiste), Desespero (Donna Preston), e Desejo (Mason Alexander Park). E um fanservice bacana com Mark “Skywalker” Hamil fazendo a voz do personagem Merv Cabeça de Abóbora.

Com apuro técnico, produção e fotografia de primeira, o enredo e roteiro são os pontos altos dos primeiros episódios. Sturridge entrega um protagonista no tom certo, contido e sério, tão grave quanto sua voz, como deve ser o mestre dos sonhos. Os demais atores também estão muito bem caracterizados, com exceção da Constantine de Jenna Coleman, que carece de mais carisma e astúcia. Um toque de sensualidade, à la Game of Thrones das primeiras temporadas, não seria mal. E, definitivamente, faltou uma trilha sonora mais marcante, sem exagero pop, mas com umas músicas legais dos anos 80 e 90.  

Sandman deve atender à expectativa dos fãs antigos, sendo fiel aos quadrinhos, sem também deixar de incorporar os valores da geração atual e angariar novos adeptos, valorizando a diversidade de gênero, raça e orientação sexual, temas que dialogam com a alma da obra de Gaiman. O autor e produtor, ao menos nesses primeiros episódios, cumpriu o prometido, transformando sonhos em realidade, com o perdão do trocadilho. 

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