Review: Need for Speed – Payback

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Need for Speed está de volta, tentando reconquistar todos os fãs que foram abandonando a franquia com o passar dos anos. É fato que há muito tempo não é lançado um novo game que realmente agrade a grande maioria, como foi o caso do primeiro Most Wanted, lançado há 12 anos atrás, esse que foi o último título realmente aclamado da série. A franquia passou por altos e baixos tentando atrair novos jogadores com diferentes características a cada jogo lançado: cenas em live action, mundo aberto, perseguições policiais intensas, e por aí vai. Enfim, parece que finalmente resolveram misturar tudo que foi mais bem aceito nos últimos jogos e criar um novo, que mais uma vez carrega a responsabilidade de trazer a ascensão de Need for Speed de volta.

Need for Speed: Payback foi anunciado pouco antes da E3 deste ano, prometendo renovar a série com um enredo cinematográfico, gráficos ultra realistas e momentos mais do que emocionantes ao longo da campanha. Enquanto muitos já entortaram o nariz logo de cara, outros resolveram dar uma chance para o título, que em partes parecia promissor. Será que a EA enfim conseguiu acertar dessa vez?

Um jogo baseado no filme que é baseado no jogo

Logo de cara, nos primeiros trailers e gameplays, muitos já alegaram que Payback estava copiando a mundialmente famosa franquia de filmes Velozes e Furiosos, que se mantém forte até hoje batendo recordes de bilheteria. Como o nome do jogo já sugere, a história da vez gira em torno de vingança. Neste jogo, controlaremos não só um personagem, mas três: o piloto de rachas Tyler Morgan, o especialista em drifts Sean McAlister e a pilota de fuga Jess, que ao lado do mecânico Rav ganham a vida com corridas ilegais. O jogo começa quando o grupo, em parceria com Lina Navarro, que faz parte de uma organização chamada A Casa, essa que domina os rachas de Fortune Valley (cidade fictícia onde se passa o jogo), planejam roubar um carro de luxo de um poderoso magnata chamado Marcus Weir, conhecido como O Apostador. O plano funciona, mas com Tyler sendo traído por Lina e perdendo tudo, e é isso que motiva o grupo a unir suas forças para derrubar A Casa e obter sua doce vingança.

O jogo oferece pistas em vários ambientes diferentes

Não é surpresa para ninguém que Need for Speed sempre teve inspiração em Velozes e Furiosos, desde o lançamento do primeiro Underground, mas essa inspiração fica apenas nas missões especiais do jogo, pois o enredo de Payback foi totalmente baseado no filme da franquia, lançado em 2014. O filme pode não ter sido grande coisa e passado batido por muitos, mas quem assistiu e for jogar o Payback notará semelhanças absurdas na personalidade dos personagens, em suas motivações e até em como a história se desenrola. Não que isso ajude a manter o jogo interessante, pois o enredo além de ser clichê é muito pobre e dificilmente te manterá atento aos acontecimentos da história. Os personagens também não ajudam, todos são estereotipados ao extremo e nenhum deles é carismático o bastante para ganhar a nossa simpatia. Você simplesmente jogará o game pelas corridas, e só.

Cada personagem é especialista em um tipo de atividade: Tyler se encarrega dos rachas, Sean das corridas off-road (como é chamado as corridas em Rally no jogo) e Jess fica a cargo das fugas policiais. Cada um possui seu próprio catálogo de carros, pois os carros são divididos em categorias, e essas limitam o uso daquele carro apenas para um tipo de evento. Existem um total de cinco categorias: corrida, drift, arrancada, off-road e fuga. Todos os carros, independente da categoria, são totalmente customizáveis e a grande maioria só pode ser acessada após o término do jogo.

Sean é o especialista em drifts do grupo

Seu objetivo na campanha é vencer todas as gangues de carros existentes em Fortune Valley, para que assim eles se unam ao grupo de Tyler na luta contra A Casa. Cada gangue tem sua especialidade, como rachas, drifts, corridas off-road, e por aí vai; cada personagem se encarrega de uma gangue com base nas sua especialidade, onde vencendo toda uma série de corridas daquela facção, podemos enfrentar seu líder no final. Este jogo conta com um sistema de apostas em cada evento, onde um desafio nos é dado (como terminar a corrida em um certo tempo, não bater em nada, etc) e caso aceitamos e completamos esse objetivo, ganhamos um dinheiro a mais no final da corrida, porém caso você falhe, perderá uma parte da sua recompensa. Cada série de missões dessas também acrescentam detalhes à história, onde diálogos acontecem durante as corridas, porém infelizmente o jogo não possui dublagem em português, se limitando apenas às legendas, e fica meio difícil prestar atenção na legenda enquanto você dirige em velocidades absurdas.

A cada 3 gangues vencidas, liberamos uma missão especial da história, essas que são a melhor coisa deste jogo, mas que infelizmente são escassas e muito rápidas. Nelas controlamos os três personagens em momentos diferentes, e mesmo com todo aquele lance cinematográfico que foge totalmente da realidade, elas são muito intensas e divertidas de se jogar. Vencer as gangues também nos garante pistas de carros abandonados, que estão de volta nesse game, porém de uma maneira muito mais trabalhosa e maçante de encontra-los.

O que em outros jogos era necessário apenas encontra-los no mapa, aqui você terá o dobro de trabalho, pois será necessário encontrar a carcaça do carro, e depois mais quatro peças adicionais que estão espalhadas em pontos distintos do mapa. Além de ter que encontrar onde a peça está, elas ainda ficam em lugares que só são acessíveis por meio de saltos, e se tudo isso não consumisse tempo o bastante, você ainda terá que encontrar a rampa que te permitirá saltar para aquele ponto. Encontrando tudo, o mecânico Rav pode reconstruir o carro para você, mas deixar ele esteticamente bonito e tunado fica por sua conta. Procurar esses carros é uma atividade realmente maçante, mas ao menos são poucos carros e é recompensador no final, pois eles são os carros com maior capacidade customizável do jogo, atingindo levels altíssimos e status muito elevados. Você não leu errado, o carro realmente possui level.

Um RPG de corrida?

As missões especiais são o verdadeiro destaque do jogo

Elementos de RPG estão na moda já faz algum tempo dentre os AAA do mercado, mas só podemos notar o quão longe isso chegou quando um jogo de corrida decide aderir ao sistema. Em Payback, os carros possuem level, alguns podendo chegar até o level 399, e isso é definido pelo seus status. Quando vencemos corridas, ganhamos Speed Cards, cartas que aprimoram nossos atributos e garantem vantagens adicionais a diversos componentes do carro. O que definirá o level do seu carro será apenas o atributo “Cavalos”, quanto mais cavalos, maior será o level dele, e o restante acaba sendo só algo complementar. Os cards não são obtidos exclusivamente nas corridas, mas também podem ser comprados em lojas de peças, que tem seu estoque de cards renovados periodicamente.

Aqui entra uma falha grave desse jogo, que custou e ainda vai custar o interesse de muitos jogadores. As corridas do game possuem level, onde o jogo te recomenda estar em um certo nível antes de encarar aqueles corredores, o que faz todo o sentido já que o game possui esses elementos de RPG. O problema mesmo é que entre uma corrida e outra, o salto de level é muito grande, e vencer uma corrida com os status abaixo do recomendado é um desafio que em certos casos pode beirar o impossível. Mesmo que você esteja jogando no fácil (o jogo possui seleção de dificuldade), que diminui consideravelmente a IA dos oponentes, você ainda conseguirá perder a corrida caso seu level esteja muito abaixo do recomendado, o que é bem frequente.

Com essa situação em mãos, você tem duas opções: comprar cards novos para o seu carro ou repetir corridas para farmar dinheiro e cards. Os cards disponíveis na loja são aleatórios e renovados a cada 10 minutos, e não menos importante, também são muito caros e acabam com seu dinheiro em um piscar de olhos. Caso você opte por repetir corridas, além disso tomar muito do seu tempo, o card que você ganha no final também é aleatório e pode ser pior do que os que você já tem equipado, ou seja, seu esforço pode ser em vão. Com base nisso a EA lançou uma alternativa pra quem não quer ficar perdendo tanto tempo assim: loot boxes, que te dão mais dinheiro e mais peças para trocar por cards.

O fato do game conter loot boxes revoltou muitos jogadores, que alegaram que a EA estava lançando mais um jogo pay-to-win, assim como foi com Star Wars: Battlefront II, também lançado recentemente. Comprar essas caixas poupa muitas horas de repetição e grind dentro do jogo, e depois de muitas críticas, a EA lançou uma atualização reduzindo o tempo de espera de renovação dos cards nas lojas e aumentando a quantia de dinheiro obtida nas corridas. O que antes levava 30 minutos foi reduzido para 10, e as quantias recebidas nas vitórias, assim como das apostas, também foram aumentadas. Mas como tudo tem um porém, as corridas finais exigem carros com level acima de 300, o que te obrigará a comprar um dos carros de luxo do jogo, que custam muito dinheiro, e ainda exigirá que você compre cards para o mesmo, ou seja, uma quantia absurda de dinheiro será necessária. Como você terá que fazer isso para todos os personagens, você precisará de muito dinheiro, e isso acabará te obrigando a ficar grindando nas corridas novamente, por muito mais tempo do que você imagina.

Ainda é possível obter loot boxes de graça, apenas upando seu nível de reputação. Quando vencemos corridas, além de ganharmos dinheiro e cards, também ganhamos pontos de reputação, esses que nos presenteiam com uma loot box a cada level avançado. Também recebemos reputação cumprindo objetivos paralelos nas ruas, como passar por radares de velocidade, manter acelerações constantes, e a lista continua. A reputação obtida nesses eventos só faz a diferença quando ganhamos 3 estrelas nesses desafios, o que exigirá um carro realmente potente, e aí entramos no paradoxo anterior novamente. A quantia recebida desses pontos também foi aumentada por uma atualização, mas ainda assim não pense que você ganhará uma chuva de loot boxes. Se não quer pagar, vai ter que jogar, e muito.

Fortune Valley: uma terra para corredores

O jogo segue o padrão sandbox, porém felizmente o mapa é do tamanho ideal para um jogo de corrida. Ele não é muito grande, é dividido em distritos e possui colecionáveis bem distribuídos, como fichas de cassino e outdoors para destruirmos. O game possui ambientes variados e caprichados, desde cidades até cânions, onde a única coisa que realmente chega a incomodar são as paredes invisíveis cercando as estradas, limitando muito nossos caminhos e nos obrigando a encontrar o único trajeto disponível para determinados locais. De uma forma geral, a ambientação e o visual são muito agradáveis, assim como os gráficos do jogo que não só impressiona nos cenários mas também na representação dos carros, trazendo diversas marcas famosas de carros de luxo para dentro do game.

Não existe nada mais prazeroso do que destruir um carro em slow motion nesse jogo

Uma característica que não é nova mas que deu um ar bem intenso para as perseguições policiais é o slow motion, que é ativado quando destruímos um carro inimigo. Nesse momento, podemos ver em câmera lenta o carro capotando e sendo destroçado, lembrando os bons e velhos tempos de quando a série Burnout estava no auge. Em compensação, nosso carro é praticamente indestrutível, e levará muitas pancadas para começarmos a ver algum dano na sua lataria, um detalhe que deixou o jogo artificial demais, mas não chega a ser um problema considerando que Need for Speed sempre foi um game arcade ao extremo. A física do jogo também é bem maluca, principalmente nas corridas, onde muitas vezes conseguimos capotar carros em batidas absurdas sem nem mesmo sair da pista, e em outros momentos nosso carro capota ao menor contato, fazendo com que o jogo reposicione nosso veículo e atrase o nosso progresso.

A respeito da trilha sonora, a rádio do jogo não possui uma vasta variedade de músicas, onde a grande maioria segue a onda da série Forza Horizon, com foco no Electropop. Pela playlist do game conter poucas músicas, muitas vezes teremos a impressão de que sempre estamos ouvindo a mesma faixa. Ainda assim, não podemos deixar de citar a presença do rap nacional no jogo, onde dentre as faixas presentes, temos a música Raplord do grupo brasileiro Haikaiss. Para aqueles que não se interessaram tanto pela campanha ou enjoaram de ficar grindando corridas para ganhar dinheiro, o game ainda conta com um modo online, onde você enfrenta outros jogadores em circuitos da campanha. Esse modo online não acrescenta muita novidade se comparado com o  single-player e é totalmente descartável nesse game, mas é uma opção válida pra quem curte multiplayer.

Need for Speed: Payback falhou em tentar reconquistar a glória da franquia, e mais uma vez, não foi agora que a série voltará ao topo como um dos principais jogos de corrida da atualidade. O jogo tem tudo que faz a marca ser o que ela é: rachas, perseguições policiais e um gameplay bem arcade, mas ele ainda continua pouco ousado e clichê demais, adicionando pouco peso para a saga. Talvez a EA precise repensar um pouco sua postura com respeito as microtransações, que também prejudicou a imagem desse jogo, e deixar um pouco a franquia na geladeira. Quem sabe, em um futuro nem tão distante, ela possa voltar com força total e nos proporcionar essa necessidade de velocidade novamente.