Resident Evil 4 (Remake) – Review

resident evil 4 remake

*Este review foi realizado com uma copia disponibilizada pela Capcom

Quando a Capcom anunciou que o remake de Resident Evil 4 era uma realidade, assumo que entortei o nariz. Para mim, apenas a trilogia antiga do PS1 precisava ser recriada em novos moldes, algo que fizeram com maestria no segundo jogo (e no terceiro nem tanto). Sempre achei que a quarta entrada da franquia ainda era muito “recente” para receber o mesmo tratamento, além de ter envelhecido muito bem. Felizmente, eu estava errado!

Quase 20 anos após seu lançamento original (que a princípio nunca deveria ter saído do GameCube), Resident Evil 4 está de volta de cara nova e quem diria que o tempo faria tão bem para ele! É fato que a primeira versão de 2005 não é perfeita, mas seus defeitos nunca tiraram seu brilho. O trabalho da Capcom aqui foi simplesmente eliminar essas imperfeições e fazer deste o melhor Resident Evil já feito – e falo isso sem nenhum exagero.

O forasteiro voltou

Resident Evil é inegavelmente uma das maiores franquias da história dos videogames e sua quarta entrada na série principal foi um divisor de águas. A partir daqui, o terror começou a ser gradualmente substituído pela ação, a câmera fixa foi eliminada e a ameaça dos zumbis virou história. Graças a sua quebra de exclusividade, ele se tornou um dos jogos mais populares do PlayStation 2 e é por isso que, até hoje, é muito fácil encontrar fãs das desventuras de Leon e companhia.

O remake é fiel até demais ao original e felizmente não cometeram o mesmo erro do terceiro, em que cortaram praticamente metade do jogo. Caso você tenha vivido embaixo de uma pedra nos últimos 18 anos e nunca tenha jogado RE4, neste título retomamos o controle de Leon S. Kennedy, o azarado policial que protagonizou o apocalipse de Raccoon City, eventos que se desenrolam no segundo jogo.

Agora mais maduro e trabalhando como um agente secreto do governo norte-americano, o galã é enviado para a Espanha a fim de encontrar Ashley, a filha desaparecida do presidente. O problema é que ele também vai se deparar com um culto maligno que gira em torno de um parasita chamado La Plaga, capaz de transformar humanos em abominações. Sem muitas opções, cabe ao herói sobreviver ao inferno e salvar a vida dessa moça que marcou uma geração com seus gritinhos histéricos.

Neste remake, a Capcom basicamente manteve uns 80% do jogo original e acrescentou mais coisas à história, então o enredo está mais rico, os personagens interagem mais entre si e temos uma nova construção em torno do grande vilão: Osmund Saddler, o líder da seita Los Iluminados. É muito legal ver novas interações entre Leon e Ashley, assim como um papel maior de Luis Serra dentro do enredo, mas o destaque foi a forma como fizeram Saddler se tornar um antagonista realmente perigoso e ameaçador – algo que só vemos em jogos de primeira, como é o caso do Sephiroth de Final Fantasy VII.

No original, nos deparávamos com o vilão algumas vezes antes do inevitável confronto final, mas aqui ele só aparece através de visões, então sua participação está muito mais condizente com uma grande e intimidadora figura maléfica. As demais mudanças são mais discretas, trocando apenas alguns detalhes, a ordem que as coisas acontecem ou diálogos. No geral, a história segue sendo exatamente a mesma, só que muito mais crocante e gratificante nas pequenas coisas.

Leon Wick

Quanto ao gameplay e a estrutura do jogo, temos mudanças consideráveis. A campanha ainda segue a mesma sequência do original e é dividida em três etapas: vilarejo, castelo e base militar. Você ainda vai visitar os mesmos locais da versão de 2005, porém eles mudaram algumas coisas de lugar e retiraram as partes mais descartáveis. O castelo foi a parcela que mais senti diferenças, mas sem deixar de incluir todas as principais localidades de antes, então está tudo lindo e maravilhoso.

Graças ao poder gráfico da RE Engine, a ambientação está de cair o queixo, então mesmo reconhecendo aqueles lugares, é como visitá-los pela primeira vez. O fator terror também foi bastante incrementado aqui, então não espere que será uma jornada “tranquila” como foi com o original. Assim como no remake de RE2, andar por salas escuras, corredores apertados e ambientes silenciosos não é tão fácil de lidar quanto parece, então se prepare para sentir aquele famigerado friozinho na barriga na maior parte do tempo.

As maiores “perdas” do original estão relacionadas aos Quick Time Events, aquelas cenas onde deveríamos apertar botões rapidamente para não morrer. Não existe mais QTEs no jogo (salvo alguns momentos isolados do combate), então no remake você não precisará mais fugir de pedras gigantes, correr de uma estátua colossal do Salazar ou desviar de lasers em um corredor apertado. A gente acaba sentindo falta por causa da nostalgia, mas convenhamos que essas cenas eram um tanto exageradas (e no mínimo ridículas). Não combinaria com a atmosfera mais séria e sombria desta versão.

Já se tratando do combate, temos aqui a melhor parte das novidades. RE4 Remake consagrou Leon como o John Wick do universo de Resident Evil, pois o cara está simplesmente invencível. Além da possibilidade de andar e mirar ao mesmo tempo (o que por si só já é grande coisa neste título), foi adicionado mecânicas de stealth e os ataques com a faca foram aprimorados em um nível absurdo.

A faca já era uma grande aliada de Leon no original, mas aqui as coisas estão ainda melhores (e mais complicadas também). A boa notícia é que existem dois tipos diferentes de ataques com faca, além de podermos usá-las para finalizar inimigos ou matá-los furtivamente. A má notícia é que, assim como nos remakes anteriores, as facas quebram e é possível ficar sem caso você não administre direito.

Felizmente, o foco de RE4 não está na sobrevivência e sim na ação, então os recursos não são escassos como nos anteriores. Dependendo das suas habilidades no controle, dificilmente você ficará sem munição ou facas, então está tudo sob controle.  

A redenção de Ashley

Ashley sempre foi uma pedra no nosso sapato no jogo original, pois a menina era completamente tapada, se arriscava o tempo inteiro e ainda não calava a boca em momentos de tensão. Além de se preocupar com nossa própria barra de HP, também era necessário curar a garota para evitar que ela morresse, ou seja: você tinha que gastar seus próprios suprimentos para mantê-la viva.

Tudo isso virou história, pois pelo visto os devs fizeram questão de redimir a personagem neste remake. Ainda precisamos protegê-la, mas agora ela não tem mais barra de vida (caso seja atingida, basta levantá-la para resolver o problema) e se dá ao trabalho de correr para escapar dos inimigos. No geral, as hordas de ganados, cultistas e militares acabam focando muito em Leon e esquecem da Ashley, então está bem mais fácil garantir a proteção dela nos trechos em que estão juntos.

A personalidade dela também mudou, então não temos mais aquela garota mimada e indefesa de antes. No geral, todos os personagens aqui estão muito mais corajosos do que jamais foram, mas sem abandonar seu lado humano, então finalmente temos um enredo que não gira em torno de figuras que replicam estereótipos mega exagerados. A única exceção é o mercador, que continua sendo o mesmo sujeito bizarro de antes – só que agora muito mais tagarela (sério, chega a ser irritante).

Falando em mercador, outra novidade do remake é o estande de tiro, que foi totalmente atualizado e traz bônus inéditos. Ao invés de atirar em ganados de papelão e ser recompensado em dinheiro, agora Leon deve acertar piratas e recebe fichas como pagamento. Essas podem ser trocadas em uma máquina de gacha que te recompensará com algum chaveiro aleatório, cada um representando um modelo 3D dos personagens do jogo original. Esses chaveiros podem ser equipados na maleta e garantem bônus exclusivos no gameplay, então colecioná-los acaba sendo algo inesperadamente viciante!

Agora o mercador também é responsável por espalhar diversas sidequests pelo jogo, que em sua maioria envolvem apenas destruir alguns itens, matar inimigos específicos ou encontrar medalhões escondidos no mapa. Quando finalizadas, somos recompensados com espinélios (aqueles minérios que achávamos por toda parte no original), que podem ser usados para comprar itens exclusivos na loja. Resumidamente, o jogo oferece bem mais atividades paralelas do que antes, estimulando muito a exploração de cada cantinho do mapa.

O melhor Resident Evil?

O trabalho da Capcom com o remake de Resident Evil 2 foi excepcional, mas para mim (que já tinha o quarto jogo como preferido, diga-se de passagem), o novo RE4 se tornou facilmente a melhor releitura de um título antigo e, talvez, até o melhor jogo da franquia! Para quem gosta muito do original, é impossível não ficar emocionado com cada coisinha que foi reconstruída aqui, pois como enfatizei no início deste review, tudo que fizeram neste remake foi elevar o material de 2005 à perfeição!

Com uma história mais rica e madura, um gameplay infinitamente superior e uma ambientação de arrepiar os cabelinhos da nuca, Resident Evil 4 Remake conseguiu repetir o feito do original e se tornar uma nova obra-prima na franquia. Até mesmo quem não gosta da versão de 2005 deveria dar uma chance, principalmente se for fã do remake do segundo – ou até mesmo do terceiro, nunca se sabe.

Era para ser somente mais um remake, mas RE4 conseguiu se elevar ao nível de um dos principais lançamentos de 2023! Mais um título obrigatório para jogar este ano – e estamos apenas em março! Que bela época para se estar vivo.