Pokémon Scarlet & Violet – Review

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Todo lançamento de uma nova geração de Pokémon é um verdadeiro evento, mas já tem alguns anos que o sucesso dos monstrinhos de bolso está cada vez mais conturbado. É fato que nunca deixou de ser um fenômeno mundial e todo jogo vende muito bem, mas a qualidade dos títulos está cada vez mais duvidosa, algo que já vem acontecendo desde a época do 3DS – mas que ficou ainda mais evidente com os Pokémon lançados no Switch.

Scarlet e Violet nos introduziram à nona geração de Pikachu e cia., prometendo ser um jogo realmente inovador em uma franquia que não ousa mexer na sua fórmula há mais de duas décadas. O que vimos no começo do ano com Pokémon Legends: Arceus foi uma pequena prévia do que estava por vir, mas a verdade é que nenhum de nós estávamos preparados para o que nos foi entregue aqui. Como um grande fã da série, é realmente doloroso dizer que dessa vez temos tantos problemas que é simplesmente impossível relevar, mas também não significa que tudo está perdido.

Uma nova aventura

Primeiramente, não podemos deixar de ignorar todas as qualidades de Pokémon Scarlet e Violet. Apesar de muita gente estar tratando esses títulos como piada ou algo simplesmente injogável, isso não é verdade. A Game Freak realmente deu um pontapé inicial para grandes mudanças na franquia e, apesar de ainda estar longe de ser o ideal, tudo indica que eles estão no caminho certo.

Dessa vez teremos a oportunidade de conhecer a região de Paldea, onde entraremos na pele de um jovem que está prestes a iniciar seus estudos na maior escola do continente (chamada Naranja no Scarlet e Uva no Violet). Esse campus pode ser explorado livremente e você consegue até mesmo assistir aulas lá, mas a graça da coisa está no que eles chamam de “caça ao tesouro”, um programa escolar que incentiva os alunos a partirem em uma jornada pessoal em busca de algo de valor para levarem em suas vidas (isso mesmo, é uma escola que estimula todo mundo a cabular aula).

Essa é a principal cerejinha do bolo nessa geração de Pokémon: pela primeira vez, temos um mapa aberto e totalmente livre para exploração (bem no estilo de Breath of the Wild), onde você não está mais preso a uma campanha linear e tem total liberdade para fazer tudo na ordem que desejar. O jogo gira em torno de três histórias paralelas: se tornar o campeão da Liga Pokémon, encontrar os 5 titãs de Paldea e derrotar todos os chefes do Team Star, a equipe encrenqueira desta região.  

Uma vez que o jogo te introduz a essas três campanhas, é você quem decide para onde ir e o que fazer primeiro. O legal é que cada uma delas te recompensa de formas diferentes e realmente impactantes no gameplay, por exemplo: vencer ginásios facilita a captura de Pokémon mais fortes, como de costume, enquanto derrotar os titãs desbloqueia novas habilidades para Koraidon e Miraidon, o que vai melhorar muito a exploração do mapa.

Falando neles, Koraidon e Miraidon são os lendários da vez e, diferente dos outros jogos, agora eles nos acompanham desde o começo da aventura. A princípio, eles servirão apenas como meio de transporte, se adaptando para uma espécie de moto e permitindo se locomover com mais facilidade pelo mapa. Conforme você derrota os titãs e avança na história, eles vão recuperando habilidades, até estarem prontos para serem utilizados em batalha novamente. É um jeito muito legal de renovar a velha fórmula dos famosos lendários da franquia.

Outro ponto positivo a ser enfatizado é a variedade de atividades envolta a essas três campanhas. Podemos dizer que todo jogo de Pokémon se resumia em andar, capturar monstrinhos e batalhar; aqui ainda é assim, mas também dá para fazer muitas coisas diferentes! A começar pelos ginásios, cada um deles envolve algum tipo de minigame que varia desde empurrar uma semente gigante (é exatamente isso que você leu) até participar de um leilão. São coisas bobas que deixam o jogo mais divertido. Na campanha do Team Star, nós também participamos de um minigame único ao invadir suas bases; tudo isso ajuda a quebrar a repetição massiva do jogo.

Temos que pegar

Como já enfatizado, se você jogou Pokémon Legends: Arceus, já estará mais familiarizado com a estrutura de Scarlet e Violet, mas ainda são jogos bem diferentes. Arceus foi construído no esquema de sandbox, ou seja, os mapas são abertos, mas não são interligados ou funcionam como uma coisa só. Aqui é mundo aberto raiz, por mais que o Switch claramente não dê conta do recado (há controvérsias, obviamente).

As batalhas funcionam da forma clássica, sem a possibilidade de controlar o personagem igual no Arceus – mas você ainda pode controlar a câmera, o que no geral não é grande coisa. Um ponto interessante foi a forma como adaptaram os treinadores que encontramos na estrada, pois não são mais batalhas obrigatórias (iniciadas automaticamente quando você passa na frente deles, como antigamente). Agora você luta com quem quiser e só quando quiser, sendo necessário interagir com eles para iniciar o confronto. Isso sim é revolucionário!

Falando em batalhas, a novidade de Paldea está nas versões Tera dos Pokémon, uma forma em que eles ficam cristalizados e podem assumir novos tipos. Por exemplo: você pode ter um Pikachu que, além do seu tipo original (que é elétrico), também pode assumir um secundário quando se transforma (podendo ser qualquer outro). Até que é algo interessante para trazer reviravoltas nas batalhas, mas não achei tão legal ou útil quanto as transformações dos outros jogos, como as formas Gigantamax ou as Mega Evoluções.

Já o método de capturar os Pokémon segue sendo o mesmo de Arceus, o que é excelente. Não existem mais batalhas aleatórias nem aquela dúvida de qual monstrinho que vai aparecer, pois todos eles ficam soltos no mapa e você pode enfrentar somente aqueles que desejar. Devo dizer que esse provavelmente é o Pokémon mais divertido de se completar a pokédex, porque é muito instigante explorar o mapa e ir encontrando criaturas novas pelo caminho. Eu passava um bom tempo circulando cada região em busca de Pokémon e isso nunca perdeu a graça, nem mesmo após dezenas de horas de jogo.

O mapa é enorme e existem Pokémon em cada pedacinho dele, seja no campo aberto, em cavernas, no mar etc. Você até tem uma noção do que pode encontrar por lá, mas sempre aparece um ou outro que não esperamos, por isso a exploração é o ponto alto de Scarlet e Violet. Isso pode ficar ainda mais divertido quando outros amigos se juntam à sua jornada, pois existe a possibilidade de jogar com até três pessoas. O multiplayer online é bem funcional, mas no geral quem joga sozinho também não perde em nada.

Um mundo quebrado

Dito tudo isso, acho que ficou mais claro que Pokémon Scarlet e Violet realmente é um marco na franquia e abandona parcialmente a mesmice que já saturou seus jogos por tantos anos. Ele renova a fórmula de um jeito muito legal e sem dúvidas é o título mais ousado que Pokémon já viu ao longo de toda sua existência. Contudo, também não dá para ignorar o fato de que provavelmente o jogo foi lançado às pressas e antes de ter sido devidamente finalizado.

Você provavelmente já deve ter visto na internet um grande compilado de bugs hilários que fazem o jogo parecer totalmente quebrado. Não cheguei a presenciar nenhum desses bugs cabeludos, mas seu desempenho realmente está muito problemático e existem falhas técnicas para dar e vender. Há pontos do mapa em que o jogo roda a incríveis 10 ou 15 fps, o que é um completo absurdo. Tudo aqui é extremamente travado, lento e, acima de tudo, MUITO FEIO!

É entristecedor ver como os gráficos de Pokémon foram caindo do Let’s Go até Scarlet e Violet. Os trailers já indicavam que a nona geração não era nenhum colírio para os olhos, mas jogando fica pior ainda. É um show de serrilhados para todos os lados, muitos cenários mal parecem ter texturas e os bugs pioram ainda mais a situação. É muito comum você estar andando por aí e o background começar a piscar, montanhas sumirem e reaparecerem do nada, além de acontecer diversas outras bizarrices que hora são trágicas, hora são cômicas. Se fosse uma coisa ou outra, até daria para fazer vista grossa, mas o jogo está tão quebrado que chega a ser inaceitável o fato de terem decidido lançá-lo nesse estado.

Não vamos confundir as coisas: ele ainda é jogável e muito divertido, mas todos esses bugs e problemas de performance tiram bastante o brilho da experiência. A Game Freak tem um longo caminho pela frente e acredito que ainda vai levar um bom tempo até que tudo isso seja devidamente corrigido – afinal, já se passou mais de uma semana desde o lançamento e não lançaram nem um patchzinho de correção sequer.

De qualquer forma, a experiência que tive com Pokémon Scarlet e Violet foi bem semelhante a que Sonic Frontiers me proporcionou. Ele não chega a ser estranho como o Sonic, mas é cheio de falhas e, ainda assim, consegue ser divertido. No geral, a experiência com o jogo não foi das melhores, mas ele deixa grandes esperanças para o futuro da franquia. Se a Game Freak souber trabalhar com essas novidades e incrementar ainda mais pontos que precisam de mudanças urgentes (como dublar os personagens, investir em gráficos bonitos e animar suas cutscenes igual qualquer outro jogo decente), podemos ter o melhor Pokémon de todos os tempos na décima geração.