Pokémon Legends: Arceus – Review

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*Este review foi realizado com uma cópia do jogo enviada pela Nintendo.

Já tem mais de 20 anos que a franquia Pokémon parou no tempo. Tanto sua série principal quanto seus spin-offs apresentam essencialmente as mesmas mecânicas e o mesmo raciocínio de sempre – com exceção de Pokémon Snap, mas não estamos falando de um jogo de tirar fotos. Desde o lançamento de X e Y em 2013, os fãs estão praticamente implorando para a Game Freak ousar trazer um título revolucionário, que finalmente começasse a fazer mudanças nessa velha receita de bolo.

Nossas preces finalmente foram atendidas… ou quase isso, mas já é um começo! Pokémon Legends: Arceus já chamou a atenção logo de cara por ser uma espécie de fusão entre duas coisas que qualquer nintendista ama incondicionalmente: Zelda: Breath of the Wild e Pokémon, é claro! Mesclando diversos elementos tradicionais da franquia com novas mecânicas, Legends enfim deu um respiro na velha rotina de vencer ginásios e se tornar o novo campeão, dessa vez nos introduzindo em um mundo antigo repleto de novidades.

Já estive aqui antes

Pokémon Legends: Arceus nos apresenta à região de Hisui, que séculos depois viria a se tornar Sinnoh, onde já tivemos a oportunidade de explorar em Diamond e Pearl e seus respectivos remakes. Aqui controlaremos um adolescente que misteriosamente foi parar no passado, sem mais nem menos. Pela primeira vez na franquia, teremos a oportunidade de conhecer como eram os Pokémon na antiguidade, em tempos onde as pessoas ainda não sabiam direito o que eram essas criaturas e tinham até medo delas.

Poderemos testemunhar a velha rivalidade entre os clãs Diamond e Pearl

Vamos começar pelo assunto mais polêmico: os gráficos. Sim, Legends: Arceus definitivamente é feio e não faz jus a todo o potencial gráfico que o Switch pode alcançar – e inclusive já vimos em outros exclusivos como Breath of the Wild, Super Mario Odyssey e Luigi’s Mansion 3. Poxa vida, até mesmo Pokémon Let’s Go! é consideravelmente mais bonito que este! Porém, também não dá para deixar de ignorar o fato de que Legends se passa em um mundo inspirado no Japão feudal e tenta replicar parte do visual que víamos nas pinturas regionais da época (quem jogou Okami sabe muito bem do que estou falando). Sendo assim, ao que parece o jogo é feio justamente por causa do estilo de arte adotado – o que no final acaba não servindo de consolo, mas é a vida.

É fato que o jogo poderia ser bem mais bonito, não há duvidas disso, mas o conteúdo acaba fazendo valer a pena. Com algumas horas de jogo, a gente nem está mais ligando para os gráficos! Quem é jogador de Pokémon de longa data com certeza vai ficar maluco nisso aqui, pois é a quebra de um tabu de duas décadas. É um Pokémon que traz mudanças realmente relevantes para o gameplay e todo o seu formato, então é praticamente como descobrir um mundo novo.

Agora tem até chefes!

Ao contrário do que todo mundo pensou, Legends: Arceus não traz um mundo totalmente aberto igual Breath of the Wild, mas ainda segue o esquema de sandbox. O mapa não é um só, mas sim dividido em várias áreas abertas que acessamos alternadamente. Seria como se cada mapa fosse uma Wild Area do Sword e Shield, com seus próprios biomas e Pokémon. Dentro de cada um, existem diferentes territórios e cada um tem seus próprios monstrinhos, mas isso muda de acordo com o período do dia. Sendo assim, temos um sistema de caça e captura muito mais dinâmico e extremamente viciante.

Pokémon são assustadores

O maior diferencial de Legends: Arceus é justamente a mudança na dinâmica de captura. Ainda dá para seguir a tradição de batalhar para enfraquecer os Pokémon selvagens e depois capturá-los, mas agora nós temos muito mais opções. Assim como outros jogos já vêm introduzindo aos poucos, aqui não temos batalhas aleatórias e não dá para negar que isso é excelente. Você encontra um Pokémon e tem duas opções: atirar uma pokébola e rezar para capturá-lo ou lutar com ele.

Esse esquema de capturar o Pokémon diretamente do mapa, sem transição de batalhas, é um divisor de águas. Pode parecer fácil demais, mas acredite: não é. Praticamente todo monstrinho vai reagir quando te ver e atacar sem dó nem piedade; ainda existem o que chamamos de Pokémon Alpha, versões mais fortes e agressivas que vão nos dar muito trabalho. Isso nos força a adotar uma abordagem mais stealth, buscando sempre se esconder na grama antes de atirar pokébolas, ou simplesmente continuar no velho esquema de lançar seus Pokémon para enfrentá-los em batalha, para assim enfraquecê-los.

O sistema de montarias é uma delícia

Já o combate continua praticamente o mesmo, salvo alguns detalhezinhos. O jogo ainda é um RPG de turnos, mas agora podemos controlar nosso personagem livremente dentro da batalha e nas primeiras vezes isso é de bugar a cabeça. A mecânica segue a mesma lógica do ADB (Active Dimension Battle), sistema utilizado em RPGs excelentes como Final Fantasy XII e Ni no Kuni. Porém, em suma ainda é a mesma coisa dos outros jogos, onde cada Pokémon tem um turno e você só seleciona qual ataque ele deve usar.

No geral, achei os combates bem mais difíceis, se tratando dos Pokémon selvagens. Ainda existem batalhas contra treinadores, mas são bem escassas e faz todo o sentido, já que nessa época a humanidade ainda não estava familiarizada com os monstrinhos, então existiam pouquíssimos treinadores. Por outro lado, dá para passar bastante sufoco ao enfrentar os selvagens, especialmente porque aqui as vantagens e desvantagens de cada tipo são levadas muito a sério, então não dá para tankar qualquer batalha com um único Pokémon, como era possível fazer nos outros jogos.

Nesse jogo dá para apanhar até de Bidoof

Um detalhe legal é que Legends: Arceus nos dá muito mais liberdade para personalizar o estilo de batalha de cada Pokémon do jeito que quisermos. É super fácil trocar a lista de ataques de cada um e, na área de treino do vilarejo, ainda é possível ensiná-los movimentos que nem sequer são do seu tipo. Nesse vilarejo também podemos personalizar nosso personagem e fazer dezenas de missões secundárias, então é praticamente nossa safe house dentro do jogo.

Temos que pegar

Apesar de Legends trazer uma história bem mais elaborada, com missões principais e secundárias que realmente exploram bem aquele mundinho de Pokémon que tanto amamos, o objetivo principal continua o mesmo: completar a Pokédex. Ainda é uma tarefa opcional (não necessária para a finalização da história) que dá muito trabalho, mas dessa vez temos algumas novidades que deixam as coisas um pouco mais difíceis.

Não existem duas versões de Legends: Arceus, então não tem trocas entre jogadores nem Pokémon exclusivos, mas em compensação não basta apenas capturar um monstrinho de cada para completar sua dex. Como estamos em uma época em que as pessoas ainda estavam fazendo seus primeiros estudos sobre as criaturas, cada entrada na dex exige uma série de objetivos como capturar vários, derrotar vários em combate, evoluir os que for possível e coisas do tipo. Você não é obrigado a fazer tudo, mas precisará completar o suficiente para chegar ao nível 10 de pesquisa, que seria o máximo para cada um. Resumindo: dá trabalho!

Os Pokémon que você captura ficam em um ranchinho no vilarejo

Dito tudo isso, dá para ver que o jogo traz bastante mudanças positivas para a franquia e, quanto mais jogamos e conhecemos a história, mais evidente fica que não se trata de um spin-off. Porém, Pokémon Legends: Arceus poderia ser muito mais e fica nítido que a Game Freak se conteve bastante nas mudanças, trazendo apenas algumas coisinhas mais básicas para ver como seria a recepção dos fãs (algo que eles já são craques em fazer). Quanto mais você joga, mais fatores acabam fazendo falta e simplesmente não existe justificativa válida para eles não estarem ali.

Primeiramente: chega de jogos de Pokémon mudos! Tudo bem, um dia já deu para dizer que não tinha dublagem por causa das limitações dos portáteis, mas agora não dá mais. Legends tem toneladas de textos e precisamos ler tanto que chega a dar sono, então além de deixar o jogo enfadonho, acaba sacrificando o carisma de todos os personagens ali. Não importa o quão eles sejam estilosinhos no visual, ninguém ali tem voz e você provavelmente vai terminar a campanha sem se lembrar da maioria deles. O primeiro jogo de Pokémon que for 100% dublado vai ser algo realmente revolucionário.

Segundo: da mesma forma que o jogo precisa de dublagem, ele também precisa de cenas mais elaboradas. Existem dezenas de sidequests onde colocamos Pokémon em situações inusitadas e seria muito legal ver uma cena com animações de qualidade entre todos interagindo ali. Porém, nós só vemos a tela ficar preta, ouvimos um barulho tosco e a cena volta do mesmo lugar que parou, com todos os bonecos parados, quase sem vida. Repito novamente: não existem mais limitações de portáteis para impedir a Game Freak de caprichar mais, então esse tipo de coisa já se tornou inaceitável.

Pokémon finalmente está tentando voar mais alto!

Por fim, precisamos de uma renovação no combate! São 23 anos no bom e velho combate de turnos e convenhamos que ninguém aguenta mais. É claro que não dá para esperar que a Game Freak lance um jogo de ação com 400 Pokémon lutando entre si com ataques únicos, mas esse é um ponto que precisa mudar urgente. O fato de poder controlar o personagem dentro da batalha já foi uma mudança bem-vinda, então só estamos a um passo de implementar um ADB na franquia e trazer novos ares para os combates dos monstrinhos de bolso.

No geral, Pokémon Legends: Arceus é a melhor entrada da franquia dos últimos anos, sem dúvidas. Mesmo sendo muito tímido nas mudanças, ainda trouxe conteúdo novo o suficiente para renovar algo que já está maçante há muitos anos. Isso mostra que talvez a Game Freak tenha um futuro brilhante para a série, mas será necessário ter mais ousadia para trazer mudanças que causem um impacto realmente revolucionário nessa saga tão amada.