Persona 3 Reload – Review

persona 3 reload scaled

Persona 3 foi um verdadeiro ponto de virada para esta franquia que, posteriormente, se tornou uma das séries de JRPG mais populares da atualidade. Foi este game que introduziu as principais mecânicas que foram herdadas por Persona 4 e 5, especialmente se tratando de vínculos sociais, que se tornaram um dos fatores mais emblemáticos da franquia. Não é à toa que a Atlus lançou três versões diferentes ao longo dos anos e, não satisfeita, ainda está presenteando os fãs com este remake!

Persona 3 Reload é um remake completo que mistura os principais elementos de todas as versões. Para quem jogou a versão Portable (que seria a mais completa, até então), ainda será uma experiência completamente diferente, já que Reload trouxe mudanças pesadas que deixam o título mais parecido com seus sucessores – em especial Persona 5, que é o mais famoso do conjunto. Chegou o momento de retornarmos ao Colégio Gekkoukan e reencontrar todas as nossas waifus e husbandos.

Um bom ponto de partida

Se você nunca jogou nenhum Persona e se interessa pela franquia, vamos começar pelo mais básico. Assim como o Persona 3 original já servia como um bom ponto de partida, Persona 3 Reload se tornou a melhor opção possível, deixando qualquer um bem preparado para o quarto e quinto título da série. Esta versão recebeu diversas melhorias que tornaram o jogo mais proveitoso para os dias de hoje, então todo tipo de mecânica ultrapassada foi devidamente eliminada.

Neste jogo, controlamos um jovem do ensino médio que pode receber o nome que você quiser, mas que em um consenso geral, chamamos de Makoto Yuki. A história começa quando nos mudamos à um novo alojamento para começar o ano letivo em uma escola nova, o Colégio Gekkoukan. Nesse alojamento, conhecemos vários alunos interessantes e logo descobrimos que todos fazem parte de um programa secreto chamado S.E.E.S. (Specialized Extracurricular Execution Squad).

O objetivo desse grupo é combater um fenômeno chamado Hora Sombria, um período que acontece após a meia-noite de cada dia. Nesse momento, todas as pessoas viram caixões e diversos monstros começam a vagar pelo mundo, além do Colégio Gekkoukan se transformar em uma torre misteriosa conhecida como Tártaro. Como líder desse grupo, devemos explorar as Personas de todos os membros para vencer essas ameaças e descobrir o que está acontecendo.

Esse é apenas um resumo bem resumido de toda a trama do jogo, porque pode acreditar: tem MUITA coisa! Toda a campanha dura um período de 12 meses, do início ao fim do ano letivo. Devemos jogar cada dia desse ano, avançando pelos meses, indo para a escola, fortalecendo nossos relacionamentos e, não menos importante, explorando o Tártaro. A história de Persona 3 Reload ultrapassa facilmente as 60 horas de duração, então não espere um jogo curto e objetivo.

Quem jogou a versão Portable provavelmente sentirá falta da protagonista feminina, que foi introduzida nessa edição pré-remake. Infelizmente, apenas o garoto está disponível no Reload, então todas as mudanças relacionadas também foram removidas – inclusive os S-Links com os personagens masculinos. O epílogo introduzido na versão FES também não está presente, então essas foram as principais baixas em relação ao conteúdo cortado.

Rotina social

Persona 3 Reload tem um grande foco em interações sociais e criação de vínculos, então o jogador deverá balancear sua rotina entre fortalecer laços com os diversos personagens presentes no jogo e explorar o Tártaro em algumas noites. O game dá total liberdade para fazermos tudo do jeito que quisermos, então é importante encontrar um equilíbrio para conseguir tirar máximo proveito de cada elemento e tornar a progressão mais fácil.

Os chamados S-Links, como são conhecidos os vínculos sociais, vão sendo desbloqueados aos poucos e podem chegar até o nível 10. Esses laços são criados com diversos personagens e é totalmente opcional passar ou não seu tempo com eles – mas cada um fortalece um tipo específico de Persona. Sendo assim, ao investirmos em uma pessoa específica, somos recompensados com criaturas mais fortes para batalhar.

Nas outras versões, dependendo das suas escolhas nos diálogos, era possível quebrar um vínculo e perder todo o progresso nele – além das vantagens concedidas às Personas. Em Persona 3 Reload, não existe mais consequências tão drásticas, o que é ótimo! Você ainda pode dar mancada e interromper a progressão em certos momentos, mas basta continuar passando tempo com aquela pessoa para resolver suas diferenças e retomar o progresso.

Considerando que existem diversas personagens que podemos “namorar” neste jogo, o fato de não ser mais possível quebrar laços ajuda muito, já que todos os S-Links de garotas acabam entrando em conflito em algum momento. Dessa forma, você ainda pode namorar com todo mundo da escola e obter as vantagens de todas as Personas possíveis sem estragar seu progresso com as outras pretendentes (mas certifique-se de investir em apenas uma de cada vez, se não o bicho pega).

Além de dar atenção para os outros, você também não deve deixar de investir no seu próprio personagem. Isso inclui uma série de atividades que aumentam seus status sociais (Charme, Coragem e Intelecto), como trabalhar meio-período, cantar no karaokê, jogar no fliperama etc. É essencial evoluir todos eles ao máximo, pois somente assim liberamos os S-Links das personagens principais do jogo (que frequentam nossa party), consequentemente desbloqueando seus respectivos romances e as Personas mais fortes do jogo.

Dito isso, pode se preparar, pois Persona 3 Reload é cheio de conversinhas, interações e coisas que, na maioria das vezes, parecem estar ali só para “encher linguiça”. A história avança em um ritmo muito lento e estabelecer uma rotina dentro do jogo acaba sendo inevitável, então enjoar dele em alguns momentos faz parte (principalmente considerando a extensão da sua campanha).

A boa notícia é que este remake trouxe, pela primeira vez, diálogos totalmente dublados. Agora quase todos os personagens principais têm voz, incluindo os secundários que interagimos nos S-Links, deixando a rotina de conversas menos monótona. É possível jogar com áudio em inglês ou japonês – o elenco de dublagem nipônico ainda é o mesmo das versões originais, enquanto em inglês trouxeram novas vozes. Apesar de ser um jogo “de anime”, é válido reforçar que a dublagem em inglês também está excelente.

Para quem não entende inglês, não precisa ficar triste, pois esse é o primeiro Persona totalmente localizado para o português brasileiro. Não temos dublagem no nosso idioma, mas todos os textos estão traduzidos e bem adaptados – um detalhe que faz toda a diferença em um jogo como esse.

O Tártaro

Quando você não estiver indo para a escola e interagindo com seus amiguinhos, provavelmente estará no Tártaro enfrentando uma porção de Sombras. O Tártaro é a única dungeon presente em Persona 3, consistindo em uma torre “infinita” com mapas gerados aleatoriamente e diversas recompensas.

O Tártaro foi um dos fatores que mais sofreram mudanças neste remake e, junto dele, o combate do jogo. Apesar de ter vários andares à disposição, não podemos explorar tudo de uma vez, já que o game bloqueia o caminho a partir de um certo ponto e nos força a avançar na história para continuar. Sendo assim, a exploração da torre acontece aos poucos.

Esse é o único lugar onde podemos enfrentar inimigos e upar nossos personagens e Personas. Em Reload, os mapas mudam de layout a cada visita, assim como a disposição de baús e inimigos, então cada passagem rende uma “surpresa” diferente. Uma boa notícia é que removeram o status de fadiga das versões anteriores, ou seja, sua party não fica mais cansada após passar muito tempo dentro do Tártaro. Isso dá mais liberdade para o jogador explorar o quanto quiser e organizar melhor sua rotina.

Outra novidade é que agora o Tártaro está repleto de objetos quebráveis que rendem itens aleatórios, incentivando um pouco mais a exploração de cada andar. Os personagens da sua party também passarão grande parte do tempo na torre conversando entre si e trocando alguns diálogos exclusivos, algo que não estava presente nos jogos originais. Isso não muda em nada seu vínculo social, mas pelo menos serve de entretenimento no meio da rotina de exploração e batalhas.

Falando em combate, Persona 3 Reload também tem a sua parcela de mudanças neste quesito – a começar pela mecânica Shift, que seria uma versão adaptada do Baton Pass de Persona 5. Ao causar dano crítico em algum inimigo, podemos escolher qual personagem fará o próximo ataque, aumentando a vantagem e possibilitando explorar todas as fraquezas disponíveis. Outra novidade do remake é a mecânica Theurgy, que funciona como um limit break para cada membro da party; ao realizar ações específicas, uma barrinha vai se enchendo, até ser possível soltar um ataque mais poderoso.

O Shuffle Time também retorna das versões anteriores, mas com uma leve mudança que faz toda a diferença. Ao encerrar um combate, podemos ter a chance de escolher entre uma carta aleatória, o que pode aumentar a recompensa da batalha ou até mesmo garantir Personas novas. Antigamente, esse card era tirado aleatoriamente, mas agora podemos escolher o que ganhar.

Outra adição interessante é a possibilidade de expandir as habilidades dos seus personagens ao passar tempo com eles. Em um certo ponto da história, serão liberadas algumas atividades de lazer no dormitório do S.E.E.S., possibilitando ao protagonista cozinhar, ver TV e fazer outras coisas com seus amigos. Isso não influencia em seus vínculos sociais, mas quanto mais tempo dedicamos a um personagem, maior será a variedade de skills passivas que ele usará em combate.

O que mais tem de novo?

Essas são as principais mudanças de Persona 3 Reload, o que já é bastante coisa e certamente ajuda a tornar este título mais moderno. Contudo, ainda existem outros detalhezinhos que tornam essa experiência ainda mais crocante, como a mudança de interface, por exemplo. Agora a HUD do jogo está bem mais limpa e semelhante à do Persona 5, com os dias e as fases da lua dispostas no cantinho da tela.

Quem é fã de Persona há mais tempo já deve saber como as músicas desta franquia são grudentas. Em Persona 3 Reload, a trilha musical foi totalmente remixada e traz uma versão diferente das faixas que já tínhamos no original. Algumas são bem boas, outras nem tanto, mas é fato que em algum momento você vai acabar enjoando de todas elas, considerando que é um jogo longo e que essas músicas sempre vão tocar nos mesmos ambientes.

Já o visual recebeu uma repaginada que também o deixa mais próximo de Persona 4 e 5, mas sem abrir mão do traço original. O jogo está bem bonito e repleto de detalhes, incluindo até mesmo as sprites que são utilizadas nas caixas de diálogos – as expressões faciais são excelentes! O fato de estar rodando a 60 fps constantes também não deve ser ignorado, já que deixa tudo isso ainda melhor.

Assim como seus “antecessores”, Persona 3 Reload é um grande jogo. É a mais pura essência de Persona na recriação de um dos seus maiores clássicos, sendo um título obrigatório para os fãs e altamente recomendado para os novatos. Infelizmente, nem tudo é perfeito e ele ainda sofre de alguns defeitos que já estavam presentes nos originais – principalmente se tratando do ritmo lento, da repetição excessiva e de se tornar enjoativo várias vezes no decorrer da campanha.

O fato de terem cortado a protagonista feminina e o epílogo também é uma pena, já que desperdiçou a chance desta ser a versão definitiva de Persona 3. Ainda assim, vale a pena investir suas preciosas horas neste simulador de relacionamentos, ensino médio japonês e batalhas sinistras.