O Telefone Preto – Crítica

O telefone preto capa 1

“O Telefone Preto” (The Black Phone) investe na simplicidade, com suspense psicológico, desenvolvimento primoroso dos personagens principais e uma ambientação perfeita dos anos 70. O terror também está presente, mas em doses pequenas, deixando o medo mais para a imaginação do espectador.

O diretor Scott Derrickson (O Exorcismo de Emily Rose, A Entidade e Doutor Estranho) tem bastante experiência no gênero e, inclusive, foi desligado de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” por tentar levar o filme mais para esse lado, o do horror. Divergências criativas afloraram e a Marvel optou pela pegada mais pop de Sam Raimi. No entanto, em “O Telefone Preto”, o forte mesmo fica por conta do suspense, na linha dos filmes de cativeiro, onde se trava um embate de astúcia entre o algoz e a vítima. Neste caso, com um toque sobrenatural, o que traz certa originalidade à trama.

O Telefone Preto é baseado em um conto do escritor Joe Hill, filho de ninguém menos que Stephen King, e é possível identificar referências à obra do mestre, com elementos de filmes como “It, a coisa” e “O Iluminado”, entre outros. Hill bebeu na fonte, mas sem exageros, e isto fez bem à história, que vai além e finca um pé na realidade ao retratar a violência na vida de adolescentes do subúrbio de uma cidade do estado do Colorado, em 1978.

Para piorar a situação, Finn, como gosta de ser chamado pelos poucos amigos que tem, ainda vive um inferno na escola, perseguido sem piedade pelos valentões, que o espancam repetidas vezes. O bullying é mostrado de forma nua e crua, sem concessões.  Apesar da aparência frágil, Finn desenvolve uma resistência e força interior que serão muito úteis diante das dificuldades que ele irá encarar pela frente.

(from left) Finney Shaw (Mason Thames) and Gwen Shaw (Madeleine McGraw) in The Black Phone, directed by Scott Derrickson.

O destaque fica por conta de Gwen, interpretada magistralmente por McGraw, com um carisma gigantesco que rouba absolutamente todas as cenas em que ela aparece. Ela está perfeita no papel da jovem sensitiva, que tem visões perturbadoras em seus sonhos, atribuídas por ela a um canal de comunicação direto com o divino. Thames também está muito bem, com uma interpretação mais contida, que combina bem com seu personagem.

Em entrevista, Derrickson afirmou que deu atenção especial ao desenvolvimento desses personagens. Na primeira meia hora do filme, acompanhamos a vida dos dois e, inevitavelmente, nos afeiçoamos a eles. Quando a conexão se estabelece com os protagonistas é que surge o vilão, e aí não tem como ficarmos incólumes ao sofrimento imposto aos irmãos.

 O ótimo Ethan Hawke interpreta o serial killer “O Sequestrador” (tradução do inglês The Grabber), que rapta meninos na vizinhança, com sua identidade escondida por máscaras que representam seus diferentes estados de humor. O ator se valeu muito da expressão corporal e da voz, uma vez que seu rosto quase não aparece. Ele vai do dócil ao demoníaco furioso, com uma boa intepretação, mas que poderia ser mais marcante, dado o grande talento de Hawke, quatro vezes indicado ao Oscar. É um maníaco com um visual bem legal e levemente inspirado no assassino John Wayne Gacy, mas que ainda está longe de se tornar um ícone, ao lado de outros mascarados como Jason (Sexta-feira 13) e Michael Myers (Halloween).

Não demora muito e Finn se torna mais uma vítima do Sequestrador, que o prende em um porão vazio à prova de som, onde tem apenas um colchão velho e o famigerado telefone preto, que segundo o vilão não funciona desde sua infância. Ele ainda ouve o telefone tocar às vezes, mas escolhe ignorar as ligações e encara a situação como apenas fruto de sua cabeça doentia.

Para a sorte do menino, o telefone é real estabelece uma conexão com as vítimas anteriores, que resolvem ajudá-lo a resistir e preparar a vingança. E ele tem uma vantagem em relação aos outros sequestrados. Toda uma vida de agressões o preparou para o seu maior desafio. E enquanto o irmão está às voltas com fantasmas, do lado de fora Gwen usa seus poderes para ajudar a polícia na caça do criminoso.

Será que ela vai localizar o irmão? Finn vai conseguir fugir ou tentará lutar por sua vida?  Os fantasmas terão sua vingança? Para saber a resposta você terá que assistir “O Telefone Preto” e, de preferência, evitar os trailers, que entregam muito da trama, um erro de marketing dos produtores que teriam ganho mais se mantivessem segredo na divulgação.

Uma coisa deve ser dita, se você espera muitos sustos e sangue, talvez O Telefone Preto não seja a melhor opção.  Agora, se você gosta de um bom roteiro, que mantém um ritmo certeiro, com uma ambientação e fotografia incrível em tons sépia, que muitas vezes remetem aos filmes em super oito, suspense psicológico e atores carismáticos, vá assistir à película no cinema. Esse é aquele tipo de filme que ganha muito na sala escura, com a tela grande e bons efeitos de áudio.

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