Nós – Crítica

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Depois de apreciar o longa “Corra”, que se trata de uma obra tão inteligente e sensível, produzido pelo ator e diretor Jordan Peele (primeiro negro a ganhar o Oscar na categoria de melhor roteiro original), criei uma alta expectativa em relação à sua nova obra: NÓS. No entanto, ao assistí-la, me frustrei por alguns motivos. Sendo o principal o próprio roteiro.

O filme conta a estória de uma criança que se distancia de seus pais em um parque de diversões e se perde em um labirinto de espelhos. Após essa experiência, ela volta pra casa carregando o trauma desse momento angustiante que viveu. Os anos se passam, e essa criança, hoje uma mulher casada e com dois filhos, volta a este mesmo ambiente para passar uns dias de férias com sua família. Mas as coisas não saem conforme o esperado. Uma visita não aguardada transforma todo aquele momento de prazer em um verdadeiro terror.

A atriz Lupita Nyong’o, em sua brilhante performance como mãe de família, te faz entender, por meio de pequenas reações, um pouco mais do que de fato aconteceu durante aquele episódio em sua infância. Até mesmo porque essa cena é relembrada por diversas vezes – em flashbacks – durante o filme.

O diretor não quis apenas, assim como em CORRA, trabalhar em uma narrativa que afete apenas o psicológico dos personagens (como vemos no início do filme) mas foi além e usou o terror físico para incrementar a trama.
O que foi uma escolha muito delicada, pois ao mesmo tempo que acrescentou uma tensão a mais à história (pois de fato os personagens corriam risco de vida), ele se tornou mais cômico e “trash” em algumas cenas.

A tentativa de acrescentar humor ao enredo não deu muito certo, por vezes você se depara com piadas fora de hora e que não cumpriu com exatidão o recurso de alívio cômico.

Apesar do roteiro abordar um conflito não muito casual, ele se mostrou muito previsível e óbvio. Não precisava muito esforço pra saber quem iria aparecer, o que iria fazer. Você até mesmo é capaz de desvendar todo o conflito ainda na metade do filme, sem a necessidade de assistir 2 horas de filme com tantos diálogos expositivos.

Com um orçamento de 20 milhões de dólares, o longa foi produzido com extrema qualidade e cautela em sua direção de fotografia: com ângulos, perspectivas e movimentos inteligentes. Mas também, não podia se esperar menos do que isso do diretor de fotografia Mike Gioulakis.

NÓS é um filme intrigante, repleto de críticas sociais – características de produções do diretor Jordan P. – e que promete ser referência neste cenário de filmes deste gênero. O longa será lançado dia 21 de março. Espero que o brilhante e talentoso diretor continue produzindo filmes deste gênero e inserindo um pouco mais de terror e mais humor inteligente.