Liga da Justiça de Zack Snyder – Crítica

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O universo cinematográfico da DC já se tornou uma incógnita há muito tempo e hoje contamos com diversos filmes que dificilmente conseguem se comunicar entre si. Liga da Justiça, dirigido por Joss Whedon e lançado em 2017, foi o longa que tentou unificar todos esses figurões e consolidar de vez a DC nas telonas, mas infelizmente tivemos uma sequência de trapalhadas que foi difícil ignorar.

Três anos se passaram desde então e, após uma insistente campanha nas redes sociais, os fãs finalmente conseguiram o que queriam: a versão de Zack Snyder (popularmente conhecida como Snyder Cut) já é uma realidade! Além de trazer a ótica deste controverso diretor, agora temos praticamente dois filmes em um só, com o dobro de duração (isso mesmo, QUATRO horas!), personagens inéditos e muita força de vontade para salvar este longa de uma vez por todas.

A duração do filme assusta, mas é bom poder afirmar que Snyder soube trabalhar bem com o tempo que teve e essa liberdade criativa foi essencial para que o produto final conseguisse atingir o resultado esperado. A história é dividida em sete atos, onde somente dois são realmente inéditos e os demais apenas complementam aquilo que já vimos no filme original.

Um dos grandes problemas do Liga da Justiça de Joss Whedon foi a falta de contexto daquele universo. Tínhamos ali uma história muito atropelada que seguia os passos de um filme que já não tinha dado certo (Batman vs. Superman, no caso), então somos introduzidos a heróis como Flash e Ciborgue sem tempo para respirar, muito menos para construir o menor dos laços com aqueles personagens e simpatizar com eles. Mesmo se tratando de personagens que todos já conhecemos de cabo a rabo, esse cuidado ainda é necessário para que nos acostumemos com suas versões no filme.

Snyder tenta consertar isso dando bastante destaque para ambos os personagens e suas vidas pessoais (com exceção do Flash, que foi tocado de lado novamente), mas principalmente para o Ciborgue, que na primeira metade do longa é bem destacado. Temos a oportunidade de conhecer melhor seu passado e, quem sabe assim, aceitá-lo melhor como membro daquela equipe. Ainda assim, uma cena de 20 minutos jamais conseguirá substituir um filme de duas horas focado em um único personagem, então mesmo que o ritmo de Snyder Cut ainda seja bem mais lento, as coisas continuam atropeladas.

O plot está muito mais desenvolvido, com a presença de mais de um vilão de respeito do universo DC, tudo de uma forma bem balanceada. Isso não significa que o Lobo da Estepe ficará em segundo plano, mas como o filme é muito longo, tem tempo de sobra para fazer bom uso de todos eles. Já as aparições inéditas de outros personagens são muito breves e eu diria até desnecessárias, pois raramente acrescentam qualquer coisa útil para a trama – principalmente se tratando de um personagem muito polêmico interpretado por Jared Leto, que até agora não entendi o que está fazendo ali.

O filme todo substitui o padrão widescreen (16:9) do cinema pelo bom e velho 4:3, aquele formato de tela quadrada que era utilizado em televisores antigos. Pode parecer estranho, mas essa decisão do diretor certamente foi um acerto, principalmente se tratando de um filme com muita ação. A diferença é que, ao invés de termos faixas pretas na horizontal, agora temos na vertical, dando a impressão de que existe mais “espaço” para a ação se desenrolar na tela. É muito comum sentirmos um certo desconforto em cenas agitadas no padrão 16:9, pois os takes são muito curtos e os cortes muito rápidos, então a solução de utilizar a tela 4:3 ajuda bastante a diminuir essa sensação.

Quanto ao restante da obra, vocês pediram Zack Snyder e eles te deram Zack Snyder! Cada gota do ego do diretor está neste filme, então temos aquela estética cinzenta, desbotada e extremamente melancólica, com slowmotions em excesso e uma trilha musical que deixa algumas cenas mais parecidas com um videoclipe do que com um filme (a adaptação de Watchmen mandou lembranças). Esses slowmotions são um grande problema, principalmente porque são muitos e não estão somente nas cenas de ação. O que irrita mesmo é a câmera lenta usada em trechos banais, como Lois Lane comprando café e andando pela rua, por exemplo. Acho que se o filme não tivesse tanto slowmotion, provavelmente teria metade da duração que tem.

Quem for insistente o bastante para ver até o fim se deparará com um final um tanto ousado, que questiona o próprio universo que foi construído até ali. É difícil não acreditar que se trata de um ultimato do diretor para a Warner enfim consolidar aquele como o próprio universo de Zack Snyder nos cinemas, mas também funciona perfeitamente como um desfecho para esse arco cinematográfico. No fim das contas, Snyder Cut está longe de ser perfeito e herdou muitos dos erros do Liga da Justiça original, mas com toda certeza é muito melhor que o filme de 2017.