Kena: Bridge of Spirits – Review

Kena Bridge Of Spirits

A quinta geração de consoles introduziu um tipo muito específico de adventures que só alcançou o seu auge na geração seguinte. Consagrado principalmente pela franquia Zelda, nesses jogos tínhamos total liberdade para explorar mapas grandes e abertos, explorar dungeons, procurar por colecionáveis e entrar em combates com aquele clássico sistema de “travar” a mira. Com a inevitável evolução da tecnologia, o gênero também evoluiu e esses jogos ficaram praticamente extintos… até agora!

Kena: Bridge of Spirits revive essa saudosa era dos adventures com todo o poder do hardware do PS5, nos colocando em uma belíssima aventura digna de uma animação da Pixar! Apesar do jogo não ser um mar de rosas, não dá para negar que é um dos títulos mais únicos e interessantes lançados este ano.

Entre a vida e a morte

Kena já chama atenção logo de cara pelo seu visual fofinho e animação de ponta, mas o tema abordado aqui é um tanto pesado. O jogo fala sobre morte e nele assumimos uma Guardiã de Espíritos, responsável por libertar espíritos que ainda estão vagando pela terra dos vivos e permitir que eles possam descansar em paz. Kena é a guardiã em questão e, com a ajuda dos Rot, criaturinhas extremamente fofas que vivem na floresta, deve salvar os espíritos dos habitantes de um vilarejo que foi amaldiçoado pelas decisões questionáveis de seu líder.

Apesar de todo esse papo de vida e morte, Kena infelizmente acaba apresentando um enredo superficial e pouco envolvente, que não consegue ser tocante como tenta o tempo inteiro e sequer traz algum tipo de mensagem para reflexão no final. Nenhum personagem que encontramos ao longo dessa história é carismático o bastante para nos importarmos com eles, inclusive a própria Kena, que é uma protagonista vazia e sem sal. O trabalho de dublagem também deixou a desejar, muitas vezes falhando em conseguir alcançar o ápice emocional que tanto busca nos diálogos (mas como é um jogo indie, dá para relevar).

O que acaba carregando o jogo nas costas é a aventura em si e não as motivações da personagem principal, infelizmente sendo um baita desperdício. Se Kena tivesse um enredo marcante, a qualidade do jogo seria incontáveis vezes maior e poderia até disfarçar seus outros defeitos, pois nos daria a impressão de estar de fato participando de uma animação. Nesse quesito já não tem do que reclamar, pois os gráficos são impressionantes do início ao fim e praticamente não existe diferença entre o visual na íntegra e o CG das cutscenes. Muda apenas o framerate, já que as cenas ficam à 30fps para manter o fator “cinema”.

Outro ponto elogiável é a trilha musical, que é simplesmente incrível. É até um desperdício ter músicas tão boas quando o próprio jogo falha em ser emocionante, mas cada faixa aqui consegue ser marcante ao seu próprio modo. As músicas tem um tom meio tribal que casa perfeitamente com a estética do jogo e ainda dá vontade de continuar ouvindo mesmo quando não estamos mais jogando.

Exploração à moda antiga

Já no quesito gameplay, Kena é um adventure bem decente que cumpre o que promete. Temos um mapa razoavelmente grande que está todo interligado, mas é dividido em distritos. Vamos liberando tudo gradualmente conforme avançamos na campanha, o que não demora muito caso você foque nos objetivos principais. Em menos de 10 horas dá para zerar o jogo, mas para limpar o mapa vai levar aproximadamente umas 15.

Dentre os objetivos paralelos disponíveis podemos encontrar Rots, chapéus para os nossos Rots, baús e outras coisinhas que não fazem nenhuma diferença para o jogo, mas estão lá para ocupar o jogador por mais algumas horas. No geral achei bem fácil encontrar as coisas e no final sobrou bem pouco para procurar, mas isso também é um ponto positivo, já que colocar colecionáveis demais nunca é bom negócio.

Já o combate é um tremendo divisor de águas. Não que seja ruim, pois ele funciona bem dentro daquele padrão de focar em um inimigo e sair batendo loucamente, mas a dificuldade certamente é algo que pegará muitos de surpresa. É inacreditável o quão esse jogo é difícil e não de um jeito legal ou estimulante, mas sim frustrante e completamente desbalanceado. Kena é muito frágil e morre com apenas três ou quatro golpes, então qualquer luta já apresenta um perigo constante. Mesmo jogando no Normal, eu perdi as contas de quantas vezes morri em qualquer chefe da campanha – e não se trata de um caso isolado, eu morri muito em todos eles!

Uma coisa decepcionante é a limitação dos movimentos de Kena. Mesmo podendo usar o cajado, um arco e bombas para atacar, as opções de ataque e combos ainda são bem baixas, já levando em consideração que você desbloqueou todas as habilidades disponíveis. Um outro defeitinho do combate é como a trava da mira é falha quando tenta focar em um inimigo, pois sempre que ele se aproxima da personagem, a mira destrava e você precisa se virar para escapar dos próximos golpes. Isso é péssimo especialmente contra chefes, então já se prepare para passar raiva.

Ainda assim, Kena: Bridge of Spirits é bem satisfatório como jogo e consegue divertir do início ao fim. Definitivamente está longe de ser tão promissor quanto aparentava nos trailers, mas não dá para desmerecer o trabalho da Ember Lab neste título, principalmente por se tratar de um jogo indie. Quem sabe um dia possamos ver uma sequência onde todos esses erros serão resolvidos e aí sim teremos um Kena redondinho e inesquecível.