John Wick 3: Parabellum – Crítica

john wick 3 keanu reeves

Ao ver John Wick 2, em fevereiro de 2017, saí do cinema com um sentimento agridoce. Por um lado, as cenas de ação continuavam impecáveis, e a estética do filme havia dado um passo além. Por outro, o roteiro faz escolhas que mancham o passado do personagem, fazendo com que sua inconsequência o colocasse numa situação impossível de sair. Agora excommunicado, que chance teria um homem com a cabeça de 14 milhões de dólares?

Cinquenta porcento.

Em John Wick 3, vence o mais engenhoso

Para quem está preocupado se a ação do filme continua afiada, pode ficar tranquilo. O jeitinho Wick de brigar continua presente, embora de um jeito um tanto diferente. O terceiro capítulo da franquia aposta numa mais luta reativa, que prioriza a luta corpo a corpo, o improviso e o uso do cenário.

A direção de Chad Stahelski demonstra ter um pleno domínio dos elementos presentes em tela. Cada cenário parece ter sido escolhido a dedo, pensados a partir das possibilidades eles trariam ao filme. É quase como um exercício criativo. “E se John Wick brigasse numa biblioteca? E num celeiro? E em cima de uma moto?”

Perceba como o filme não perdoa nenhuma vidraça.

Wick, então, age como um verdadeiro homem da ciência, determinado a descobrir o potencial bélico de cada objeto à sua disposição. Carros, motos, cacos, lápis, livros, cintos, cachorros, cavalos… Em suas mãos, tudo se torna letal.

Uma briga improvisada (mas se quiser ensaiar pode)

Embora as coreografias continuem inspiradas, o mesmo não pode se dizer da sua execução. Em alguns momentos, as cenas simplesmente soam artificiais. E não se trata sobre ser crível ou não, mas sobre a atuação dos personagens. É como se os alvos soubessem que são alvos e só resistissem até o ponto em que fosse conveniente para a cena.

Não por acaso, esse capítulo não impressiona tanto como os outros dois. O estilo da ação continua aqui e eles até conseguem adicionar elementos novos. Entretanto, quem já conhece a franquia pode sair da sessão com o sentimento de quem gostaria de ter visto mais.

O neon e todo o resto

Saindo agora do quesito ação, a fotografia de John Wick 3 também merece um tópico à parte. O visual em neon, introduzido bem timidamente no primeiro filme e assumido no segundo, consegue dar um passo além no novo capítulo.

Aqui está seu novo papel de parede.

Em John Wick 3, as cores vibrantes vão além do neon. A fotografia de Dan Laustsen (A Forma da Água) consegue compor frames belíssimos, apostando em cores saturadas que passeiam entre o roxo e o laranja. Mesmo quando o neon não está lá, as cores estão. Seja no pôr do sol, no brilho da areia ou no reflexo da rua molhada.

Braço forte, cabeça dura

Se o principal problema de John Wick 2 era o roteiro, que mexia e manchava o passado do herói, o novo filme parece vir para consolidar esses erros. Cada vez mais, a franquia coloca Wick como um herói extremamente inconsequente e inconsistente com suas próprias decisões.

Nenhuma arma é mais forte que o sangue do nosso Senhor.

Neste novo capítulo, Wick precisaria solucionar o problema que causou no capítulo anterior. Acontece que a solução encontrada é… meio bunda mesmo. Para um herói tão hábil como Wick, temido e reconhecido por todos em seu universo, as atitudes tomadas pelo protagonista simplesmente não estão à altura de sua fama.

O mundo precisa de John Wick

Apesar de já haver um spin-off confirmado, Parabellum acaba servindo para mostrar como essa franquia não funciona sem John Wick. O terceiro capítulo da série não perde a oportunidade de se autorreferenciar, além de fazer reverência ao herói sempre que pode. A verdade é que, por mais profunda que a mitologia do Hotel Continental queira se passar, ela está lá para servir a apenas um propósito: John Wick.

“Ajoelhem-se, súditos.”

Quanto ao futuro do nosso herói, bem, sua resposta lhe aguarda ao fim do filme. O final de Parabellum reserva uma escolha que definirá o futuro da franquia. Talvez ela não agrade a todos, de fato, mas um filme que faz escolhas merece seu devido reconhecimento.

Por fim, apesar das duras críticas, não se deixem enganar: John Wick 3 – Parabellum é um excelente filme de ação e está a altura dos seus antecessores. Seu único problema é justamente não dar nenhum passo além disso. Para a nossa sorte, o arroz com feijão de John Wick já dispensa muito filé por aí.