Jogador Nº 1 – Crítica

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Admito que, antes de assistir Jogador Nº 1, uma preocupação martelava minha cabeça: será que eu teria o que é preciso para gostar desse filme? Será que saberia o suficiente de cultura pop para me imergir em seu contexto? Ou, em outras palavras: seria eu nerd o suficiente?

Meu medo não vinha por acaso. Jogador N º 1 é baseado no livro homônimo escrito por Ernest Cline, que é basicamente uma monumental ode à cultura pop dos anos 80. Isso significa que falar em referência aqui chega a ser redundante, já que a existência do filme por si só é uma referência.

Tanto no livro como no filme acompanhamos a jornada de Wade Watts (Tye Sheridan), um jovem que vive num futuro tão distópico que todo mundo prefere ignorar a realidade e passar o máximo de tempo possível em um jogo de realidade virtual: o OASIS. E sim, isso é muito Black Mirror.

Acontece que James Halliday (Mark Rylance), o criador esquisitão desse universo, morreu, deixando um último desafio que dará ao vencedor o controle de todo esse mundo virtual. Com ajuda de seus amigos, Wade parte numa aventura para conseguir encontrar o último Easter Egg deixado por Halliday e impedir que o controle do OASIS caia nas mãos de Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), um magnata CEO da EA Gam…OPS! Da Innovative Online Industries (IOI), que pretende inundar o joguinho com anúncios publicitários agressivos.

Como é perceptível já ao mencionar a sinopse, a trama de Jogador Nº 1 não se caracteriza pela inovação. Basta despir o filme de toda sua grossa camada de referências dos anos 80 para encontrarmos aquela velha história que já conhecemos: a do jovem humilde e sonhador que, junto de seus amigos, lutam contra o adulto frio e ganancioso, o business man.

Acontece que a trama não é previsível por puro desleixo ou preguiça de seus criadores. Uma vez que o filme se pauta na cultura pop oitentista, cada detalhe serve a esse propósito. Não por acaso a trama segue o mesmo modelo que se popularizou nos anos 80. O sentimento de familiaridade trazida por ela é só mais outra referência que te ajuda a se imergir no filme.

Da mesma maneira, a direção não poderia ser mais acertada. Spielberg não apenas é uma testemunha ocular da época, como ele próprio ajudou a moldar aquilo que o filme tanto usa como alicerce. Sua direção aqui não apenas é carinhosa, como alguém que encontra um brinquedo antigo e se diverte horrores.

Gigante de Ferro: certamente um dos brinquedinhos favoritos de Spielberg.

As sequências de Jogador Nº 1 acabam se tornando memoráveis não pela originalidade de sua montagem, que é bastante competente sim, mas que chamam atenção muito mais pelos elementos que a compõem. Rever certos jogos, interagir com certos personagens e voltar a certos cenários é o que acaba tirando nosso fôlego.

É verdade que as atuações tenham ficado desprestigiadas por conta dos avatares digitais, e que mesmo o roteiro não vai muito além daquilo que já esperamos. Mas é a roupagem que o filme dá à essa simplicidade que o torna especial. A todo momento um novo easter egg pula na sua cara, podendo ele se relacionar (ou não) com você. Nem tudo em Jogador Nº 1 irá funcionar com todo mundo, é verdade, mas passar o filme em branco é praticamente impossível.

Jogador Nº 1 é uma grande referência e, como toda referência, ele não funciona sozinho. Entretanto, aquilo que lhe serve de sustento já está longe de ser algo de nicho. Pode ser que ninguém seja nerd o bastante para Jogador Nº 1, mas acredito que todo mundo é aquele pouquinho de nerd que o filme precisa.