Ilha dos Cachorros – Crítica

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Ilha dos Cachorros é um longa metragem de animação em stop-motion produzido e dirigido por Wes Anderson (Grande Hotel Budapeste, O Fantástico Sr. Raposo e Moonrise Kingdom). O filme conta com grandes nomes na dublagem, como Bryan Cranston, Edward Norton, Bill Murray, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson e muitos outros.

Em um futuro distópico não tão distante o prefeito de Megasaki, Kobayashi, assina um decreto que bane todos os cachorros para a Ilha de Lixo (literalmente uma ilha que é um lixão) devido a uma nova gripe espalhada através desses. Seis meses depois, o jovem Atari viaja até a ilha para encontrar seu cachorro Spots.

Antes de entrar na crítica propriamente dita, gostaria de tirar um parágrafo ou dois para destacar o estilo de animação utilizado no filme. O stop-motion é uma técnica que consiste em uma animação montada quadro a quadro, ou seja, é uma sequência de fotos ou imagens que constituem as cenas. Alguns dos filmes que fazem uso desse estilo são O Estranho Mundo de Jack (1993), A Fuga das Galinhas (2000) e O Fantástico Sr. Raposo (2009) do próprio Wes Anderson.

Dessa forma, todas as cenas de Ilha dos Cachorros foram construídas quadro a quadro com fantoches e cenários reais, é simplesmente incrível o trabalho e esforço que foram colocados nisso. Gostaria, também, de destacar uma cena de cerca de 40 segundos em que um personagem prepara sushi. É simplesmente hipnotizante a forma como a cena é construída.

Nos primeiros instantes, através de texto, o filme já deixa claro que os personagens humanos falam em japonês, seu idioma original, mas que os cachorros tiveram seus latidos traduzidos para o inglês. É uma escolha ousada mas boa do diretor, colocando o espectador na perspectiva dos cachorros de forma que os diálogos são compreendidos através de contexto e entonação. A maioria dos textos estão também em japonês, sendo alguns poucos simultaneamente traduzidos para o inglês por serem relevantes ao enredo.

A narrativa alterna entre eventos na Ilha do Lixo e em Megasaki, seguindo de forma não linear, com flashbacks, narração e sutis quebras da quarta parede. Enquanto um lado aborda o relacionamento de Atari com os cachorros, a trama em Megasaki tem um caráter mais político e social. Apesar de temas relativamente pesados, o filme apresenta momentos de leveza e um humor muitas vezes visual e sutil.

Um dos grandes acertos do filme é a caracterização dos cães, cada um tem seu estilo, sua história e sua própria personalidade, traços que são reforçados pelo excelente trabalho de dublagem de todos os personagens. Há também um desenvolvimento da sociedade que os animais construíram no tempo que passaram na ilha, com rumores, histórias e até mesmo um Oráculo.

A direção de fotografia é excelente, especialmente considerando o estilo do filme, seguindo os padrões já conhecidos dos filmes de Wes Anderson, com composições simétricas e uso de uma paleta de cores, não sendo do agrado de todos, assim dependendo dos gostos do espectador.

A trilha sonora é composta por Alexandre Desplat, último vencedor do Oscar de melhor trilha sonora original, majoritariamente constítuida de temas orientais, com tambores e outros instrumentos da cultura japonesa. Há também alguns poucos momentos com músicas não originais e ocidentais.

A conclusão do enredo é feita de forma um pouco apressada, sendo inclusive alguns detalhes um pouco forçados, como o pequeno elemento romântico que não acrescenta em nada à trama, ficando completamente fora de lugar ao final do filme. Além disso, não há tanta comoção ou identificação com os personagens humanos, visto que o foco é nos cães.

Ilha dos Cachorros é um filme tecnicamente impecável, trata de assuntos socialmente relevantes, como imigração e preconceito, sem perder momentos de leveza e tem como personagens principais, cachorros, quem não gosta de cachorros? Mesmo sem emocionar tanto é um ótimo filme, especialmente se você já gosta do trabalho de Wes Anderson.