Have a Nice Death – Review

have a nice death

Todo mundo tem medo da morte, mas ninguém é empático o suficiente para se colocar no lugar dela. Imagine como deve ser difícil dar conta sozinha de dezenas de milhares de almas para ceifar todos os dias! É um trabalho tão desgastante que até mesmo a dona Morte se viu obrigada a apelar para a terceirização – e é assim que começa Have a Nice Death, novo roguelite do Magic Design Studios.

Com uma temática sombria e repleta de humor, Have a Nice Death nos introduz a um mundo digno de desenhos animados, fazendo uma excelente sátira a respeito do meio corporativo moderno. Assumindo o papel da Morte, devemos adentrar a grande corporação do pós-vida a fim de solucionar todas as suas crises e finalmente ter uma chance de tirar merecidas férias… ou “morrer” tentando.

Um trabalho de matar

Em Have a Nice Death, somos apresentados a uma Morte cansada da rotina exaustiva de coletar almas. Em um certo momento, ela decide se tornar uma empresária e contratar funcionários para fazer seu trabalho, assumindo apenas as responsabilidades de CEO do seu empreendimento. O problema é que, com o passar do tempo, as coisas foram perdendo o controle e o desempenho questionável dos seus colaboradores acabou gerando uma quantidade infindável de papelada. À beira de um Burnout, nossa querida Grim Reaper decide resolver tudo por conta própria – afinal, se quer algo bem feito, faça você mesmo.

Tudo isso é contado através de uma belíssima cutscene animada que não perde em nada para os gigantes da indústria cinematográfica. A boa notícia é que os gráficos do jogo ainda seguem o mesmo padrão visto nessa cena, então podemos afirmar que o grande destaque deste título é a direção de arte. Tudo é lindíssimo, mesmo adotando uma estética gótica, que exagera nas cores escuras e pouco vivas. A sensação que dá é que estamos jogando um desenho animado interativo!

Quem já é experiente com roguelites provavelmente sabe muito bem o que vai encontrar aqui, então não espere nada inovador ou revolucionário dentro do gênero. Se fosse para comparar, eu diria que Have a Nice Death fica bem próximo de Dead Cells, devido a sua estrutura que visa recompensar o jogador em cada tentativa (mesmo que seja só um pouquinho). Dessa forma, você sempre consegue comprar algum upgrade que facilitará um pouco mais o próximo turno.

O principal objetivo do jogo é passar pelos cinco departamentos da empresa e enfrentar alguns chefes no caminho, para que assim a dona Morte consiga eliminar todos os funcionários tóxicos da sua corporação e retomar o controle das coisas. Ao longo dessa jornada, teremos o auxílio de diversos personagens que usam e abusam dos maiores estereótipos vistos no ambiente corporativo, então tudo não passa de uma grande piada a respeito dos empregos e das nossas vidas profissionais (alerta de gatilho).

Morra tentando

O gameplay de Have a Nice Death é simples e intuitivo, então eu diria que este é um roguelite mais acessível. Contamos com uma infinidade de armas e poderes diferentes para usar, tudo gerado aleatoriamente em cada tentativa. Apesar de cada um mudar nosso padrão de ataques e estratégias, não chega a ser algo tão complexo quanto o visto em jogos como Hades ou o próprio Dead Cells.

Contudo, não dá para ignorar algumas falhas de level design que costumam comprometer bastante nosso progresso. No geral, os ambientes gerados aleatoriamente são simples de explorar e trazem somente inimigos fracos, que morrem com apenas uma sequência de golpes. Sendo assim, o caminho até os chefes é fácil e não traz grandes desafios ao jogador. Quando finalmente chegamos nas “verdadeiras” batalhas, o salto de dificuldade é tão alto que chega a ser difícil de acompanhar.

Mesmo mantendo o dinheiro coletado e outros itens utilizados para upgrades, a progressão da personagem é muito lenta e exige incontáveis tentativas para se obter uma melhora significativa. É fato que decidiram fazer dessa forma para nos manter jogando por horas, sempre em busca de novas melhorias para finalmente alcançar o último andar da empresa. Por outro lado, esse formato torna o jogo cansativo e mais enjoativo a cada fracasso, então somente os mais persistentes conseguirão chegar até o fim.

Acho que a dificuldade desbalanceada acaba sendo o principal problema de Have a Nice Death, já que o combate é bem decente e oferece uma boa variedade de poderes e recursos. Infelizmente, nem sempre poderemos usufruir deles, já que muitas vezes a obtenção desses itens se torna escassa – especialmente se tratando dos suprimentos de cura. Você vai passar a maior parte do jogo sem nenhum item de HP, simplesmente porque eles não aparecem! Isso deixa as coisas mil vezes mais complicadas, já que não abre muitas brechas para erros.

Ainda assim, Have a Nice Death consegue oferecer uma experiência divertida, especialmente pelo cuidado que tiveram ao criar aquele mundinho sombrio e animado, que gira em torno de uma temática um tanto adulta. Como já enfatizado, não é um roguelite revolucionário, mas traz um gameplay bem sólido e empolgante o suficiente. Para os amantes do gênero, está mais que recomendado!