Frozen 2 – Crítica

A animação Frozen, lançada em 2013, foi uma das maiores surpresas do ano. Não só arrecadou mais de um bilhão de dólares mundialmente, como uma de suas músicas se tornou completamente viral. Uma continuação era apenas questão de tempo e, em dezembro de 2019 (janeiro de 2020 no Brasil), finalmente estreia Frozen 2.

Três anos após os eventos de seu antecessor, Elsa escuta uma voz misteriosa que a atrai para o interior de uma floresta encantada e, acompanhada por Anna, Kristoff, Sven e Olaf, decide deixar Arendelle para tentar descobrir de onde vem essa voz e a origem de seus poderes. Há uma clara tentativa de expandir o universo e a mitologia por trás da franquia, o que é bem-vindo; é o que uma boa sequência deve realizar.

Não só há um maior desenvolvimento dos personagens e do mundo, como o avanço tecnológico é enorme. Ainda que Frozen seja muito bem animado e tenha sido um marco na história de animações da Disney, as melhorias são visíveis, especialmente no que diz respeito aos efeitos de partícula, expressões faciais e texturas de objetos e vestimentas. Há uma cena em particular que envolve o mar, na qual é possível ver como a realização de Moana auxiliou o estúdio a atingir um altíssimo nível de qualidade na animação de água.

Estruturalmente, e também tematicamente, há outras semelhanças com aquela obra, principalmente ao se analisar a (não) utilização de um antagonista tradicional. De maneira similar a seu antecessor, Frozen 2 também mantém a subversão do papel masculino, aqui de forma preguiçosa, visto que o arco inteiro de Kristoff se resume a tentativas desastradas e espalhafatosas de pedir Anna em casamento, dando espaço às irmãs, fortalecendo sua relação. Outro personagem que tem mais momentos ruins do que bons é o boneco de neve Olaf, que assume novamente a responsabilidade do alívio cômico, muitas vezes acabando com qualquer peso emocional que o momento proporciona para dar espaço a uma piadinha. Há também um trecho que lembra bastante Shrek 2, quando os personagens estão a caminho da floresta, o boneco fica contando vários “fatos interessantes” (só para ele no caso), de forma similar ao Burro perguntando “a gente já chegou?”.

Entretanto, Olaf é o responsável pela melhor cena de cunho humorístico da projeção: a recapitulação do primeiro filme, interpretada por ele. Outro instante no qual o humor funciona bem é a música cantada por Kristoff, sendo uma referência tanto às power ballads dos anos 80 quanto às músicas de boy band dos anos 90 e 2000. Infelizmente, a versão que pude assistir era dublada em português, o que prejudica bastante o humor dessa música, bem como a qualidade das demais. A “nova Let it Go”, que é a canção que está sendo divulgada, chama-se “Into the Unknown” e, em sua versão original, é poderosa e impactante, não sendo o mesmo caso da versão brasileira intitulada “Minha Intuição”. (!) .Aqui tomo liberdade para recomendar o cover da banda americana Panic! at the Disco, que é inclusive reproduzido nos créditos finais. Ah, e há uma cena ao final deles, desnecessária e sem graça por sinal.

Nessa música, especialmente, é possível ver a limitação da dubladora brasileira Taryn Szpilman em alcançar as altas notas de Idina Menzel no original. Além disso, há também uma enorme perda na emoção das personagens na versão tupiniquim, o que não é problema exclusivo de Frozen 2, é um dos pontos negativos da dublagem em geral. Fábio Porchat como Olaf trabalha bem, ainda que quase todas as cenas com o personagem não funcionem e ele seja irritante. É um retrato similar à versão original, o problema está no roteiro, esse que, sim, às vezes conta com soluções extremamente fáceis e personagens surgindo do nada para trazer informações importantes de forma expositiva, mas é uma animação voltada para o público infantil, não escondendo isso em momento algum.

Frozen 2 explora mais a relação entre as irmãs Elsa e Anna e acrescenta localizações no mapa. Seu maior mérito é o mesmo do primeiro: é uma animação clássica da Disney, com toda sua magia, mas subvertendo o papel da princesa. O longa estreia nos cinemas brasileiros em 2 de janeiro de 2020.