Far Cry 6 – Review

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Este review foi realizado com uma cópia disponibilizada pela Ubisoft

Há três anos, quando comecei a jogar Far Cry 5 para fazer sua análise, tive um misto de emoções quase que repentino, que foi do ápice da empolgação para o limite da decepção em pouquíssimo tempo. O jogo abordava um tema polêmico e atual, com uma introdução surpreendentemente tensa e digna de filmes hollywoodianos. Porém, quando a aventura de fato começa, vemos que a Ubisoft simplesmente não sabe como abordar esses temas de uma forma minimamente profunda e que agregue valor ao jogo. No final, Far Cry 5 era só mais um jogo de tiroteios intensos sem pé nem cabeça.

Por esses motivos, minhas expectativas para Far Cry 6 era zero. Nem mesmo a presença de Giancarlo Esposito como vilão conseguiu me empolgar, e quem assistiu Breaking Bad sabe que se tem uma coisa que esse cara saber ser, certamente é um grande vilão. De uma forma geral, é possível afirmar que Far Cry continua na mesma zona de conforto que se encontra desde o terceiro título, que foi o que levou a série ao patamar que ela se encontra hoje. Contudo, também é notável que houve um esforço mínimo de aprofundar um pouco mais os personagens e toda a trama abordada aqui e isso sim é uma grande surpresa.

Viva la revolución!

Far Cry 6 nos coloca no caos de Yara, um país fictício da América Central claramente inspirado em Cuba. Após sofrer décadas na mão de um governo que parou no tempo e colocou a nação em ruínas, Yara agora se encontra sob o comando do autoritário Antón Castillo, que instaurou uma ditadura militar através de um golpe de Estado. Seus opositores só possuem dois destinos possíveis: a morte ou o trabalho forçado na plantação e colheita de uma planta nativa do país, que possui propriedades curativas capazes de curar o câncer! O problema é que, para cultivá-la, é preciso utilizar agrotóxicos altamente letais, então no final tudo acaba em morte.

É claro que, onde existir um regime autoritário, sempre existirá uma revolução. Yara conta com um pequeno exército de guerrilheiros que, em sua maioria são muito jovens, incluindo sua líder, Clara García. A história começa quando nosso personagem, Dani Rojas (que pode ser um homem ou uma mulher), está tentando fugir para os Estados Unidos quando Antón intercepta seu barco e mata todos os tripulantes. Sendo o único sobrevivente, só nos resta se aliar à resistência para combater a tirania de El Presidente e trazer paz para Yara.

A introdução do jogo não chega a ser uma das mais marcantes que já experienciei na franquia – inclusive a do Far Cry 5 continua sendo a minha preferida. Entretanto, o restante do enredo é o que acaba surpreendendo, justamente porque Far Cry 6 tenta dar um passo além em termos de narrativa, nadando totalmente contra a maré do que já vimos até aqui. Boa parte disso foi alcançado com uma mudança muito simples: nosso personagem agora tem voz e as cutscenes não são mais em primeira pessoa, dando um rosto para ele. É incrível como isso faz tanta diferença, pois conseguimos nos sentir integrados à história e não um mero boneco sem vida ou relevância.

Os outros personagens também receberam um destaque muito maior e estão mais profundos. Por vezes nos compadecemos com sua causa e desejamos ajudá-los por vontade própria, não somente porque o jogo mandou. É bem legal ver essa evolução, já que do terceiro jogo para cá, Far Cry só deu a devida atenção para seus vilões e esqueceu completamente dos demais personagens. Aqui acontece até o contrário, pois mesmo com Giancarlo Esposito no elenco, Castillo acaba sendo um antagonista super genérico que aparece muito pouco.

O mesmo pode se dizer sobre o plot com seu filho, Diego, que resiste para não se tornar um tirano como o pai. Esse conflito entre os dois acontece muito timidamente na maior parte do jogo e por vezes esquecemos que aquilo teoricamente seria o acontecimento principal da história, pelo que nos foi vendido nos trailers. No final, você pouco se importa com aqueles dois, somente com seu objetivo principal: matar todos eles e libertar Yara.

Aquela velha receita de bolo

Já em termos de gameplay, Far Cry 6 é exatamente tudo aquilo que você já viu nos demais títulos da série. Agora em cenários tropicais e paradisíacos, temos de destituir o poder dos três generais de Castillo ao redor de Yara para que finalmente consigamos chegar no chefão principal. O resto se resume a muitos tiroteios, explosões e aquele caos bem característico da franquia.

Seguindo o que foi adotado nas últimas entradas da série, Yara é dividida em territórios determinados por level. O nível do seu personagem define se você está preparado ou não para aquele desafio, mas no geral não achei isso um impedimento tão grande. Dependendo da sua habilidade, é super possível entrar em uma área com dificuldade mais elevada e sobreviver lá sem grandes apertos.

A maior novidade fica a cargo de uma mochila improvisada chamada Supremo, que garante alguma habilidade única para seu personagem. É possível disparar mísseis em uma área determinada ou até mesmo usá-la de jetpack, o que é simplesmente bizarro, mas funciona. Esse é um adendo interessante ao gameplay, apesar de quebrar bastante o tom mais sério do jogo – mas convenhamos: não dá para levar tão a sério um jogo que te disponibiliza um crocodilo de roupinha ou um cachorrinho cadeirante como companheiros de aventura, não é mesmo?

Como jogo, Far Cry 6 continua divertido e empolgante até certo ponto, pois é claro que a rotina repetitiva imposta pela campanha acaba tornando tudo enjoativo rápido demais. Pelo menos dessa vez não existe nenhum bug ou problema de performance que atrapalhe a experiência, o que é ótimo. A única coisa que senti falta foi de uma maior interatividade com os recursos do Dualsense no PlayStation 5, pois eu particularmente não vi nenhuma e isso é um baita potencial desperdiçado.

Se você gosta dos outros Far Cry, sem dúvidas vai gostar do 6. É praticamente o mesmo jogo, só que com gráficos melhores, um novo local, um novo vilão e personagens mais bem desenvolvidos. Não dá para negar que ele é bem melhor que o combo Far Cry 5 + New Dawn, lançados praticamente juntos, mas é difícil imaginar o futuro dessa franquia sem algumas inovações de peso nos próximos títulos.