Digimon Survive – Review

digimon survive

Desde seu anúncio inicial até aqui, Digimon Survive sempre foi um jogo fora da caixinha. Já faz tempo que quem é fã da franquia espera pacientemente por um novo título que seja realmente bom e, quem sabe, consiga resgatar as raízes da melhor era de Digimon nos games. Porém, não é de agora que Survive já dava indícios de que tinha alguma coisa errada: o jogo foi adiado por um total de três anos e, durante todo esse tempo, a Bandai Namco nunca deixou claro sobre o que exatamente ele era. Tudo era muito enigmático, não foram revelados gameplays muito precisos e quem fosse curioso o bastante para sair garimpando por entrevistas com os devs não encontrava quase nada a respeito do que estava sendo feito, de fato.

Eis que finalmente Digimon Survive chegou como uma caixinha de surpresas para todo mundo, afinal a gente não fazia ideia do que esperar. Já dizia o velho ditado que a expectativa é mãe da decepção e talvez tenha sido o maior problema aqui, pois a reação do público e da crítica especializada não mente: está todo mundo pegando muito pesado com o jogo. Eu comecei a jogar de peito aberto, já esperando algo que provavelmente não me agradaria – mas tentei muito gostar, pois sou fã de Digimon desde pequeno. Infelizmente, não rolou, e isso é um sinal mais do que claro que já passou da hora da Bandai Namco escutar mais os seus fãs.

A paciência é uma virtude

Vamos resolver esse mistério de uma vez: Digimon Survive é um visual novel com combate de RPG tático, uma combinação que definitivamente ninguém esperava. Para quem não está familiarizado com o gênero, visual novel é um tipo de jogo extremamente nichado que é realmente para poucos, sendo apreciado em sua maioria pelo público japonês. Trata-se de uma história interativa onde você não joga, apenas senta no sofá e assiste cenas com horas de duração, acompanhando diálogos imensos e, vez ou outra, respondendo alguma coisinha.

Jogar Digimon Survive é como assistir a um novo anime da franquia. Ele possui algumas cenas em animação e o melhor: está tudo legendado em português e muito bem localizado, diga-se de passagem. Isso foi um acerto e tanto, já que qualquer um pode aproveitar este título e 90% dele é composto por diálogos e mais diálogos. Contudo, na maior parte do tempo você só acompanhará cenas estáticas com as falas dos personagens passando em uma caixinha de texto, do jeito que todo visual novel costuma ser. O ritmo é lento, o jogo não flui e você passa literalmente horas esperando alguma coisa acontecer.

Após jogar uma batalha no tutorial, que acontece logo no comecinho, não espere mais nenhuma ação por pelo menos duas horas. Sim, serão duas horas inteirinhas só assistindo diálogos, e isso se repete diversas vezes ao longo do jogo. Alguns capítulos podem chegar a ter quatro horas de cenas! Quem tem pouco tempo para jogatinas certamente não vai querer investir seu precioso período de lazer em uma coisa dessas, pois existe uma infinidade de jogos melhores e mais divertidos para se jogar – isso mesmo, JOGAR, não assistir.

Daí vocês vão perguntar: se o jogo tem foco em narrativa, então provavelmente a história é muito boa, não é? Em partes, sim. Aqui acompanhamos um grupo de colegiais que vão para um acampamento de verão um tanto esquisito, em uma região meio abandonada que venera os Digimons como deuses mitológicos. É uma abordagem até então inédita dos monstros digitais, mas as coisas demoram tanto para engrenar que é bem capaz que muita gente nem sequer vai chegar ao ponto em que os Digimons finalmente começam a aparecer.

O time de personagens também não colabora. Todos são extremamente estereotipados com aquele tipinho que já estamos cansados de ver em animes shounen, então pelo menos para mim, foi bem difícil me importar com qualquer um deles. Dependendo das respostas escolhidas, você vai reforçando os laços de amizade com alguns e mudando sua moral, mas no final pouco importa o que você fala ou deixa de falar. Os Digimons carregam a história nas costas, mas infelizmente o destaque está nos humanos – nisso, já dá para ver que temos um problemão.

E o combate?

Quando o jogo finalmente começa a nos deixar lutar, assumo que o alívio é grande. Digimon Survive segue todos os clichês dos RPG táticos, com batalhas aleatórias, movimentações em células, um ataque por turno e por aí vai. Quem já jogou qualquer jogo do gênero vai começar a jogar esse bem inteirado no sistema de combate; infelizmente, ele não fica mais complexo do que isso e a impressão que dá é que enfiaram as mecânicas lá de qualquer jeito, sem muito tempo para incrementá-las, o que é simplesmente bizarro.

Como um jogo que passou anos em desenvolvimento tem um sistema de combate que parece ter sido implementado às pressas? Não quero ser injusto, então que fique claro que ele é bastante funcional e até consegue ser legal para quem curte o básico do gênero, mas o principal atrativo aqui acaba sendo o sistema de captura de novos monstros, uma pequena herança de Digimon World. Os confrontos são aleatórios e nós nunca sabemos qual Digimon vamos enfrentar, então a graça está nesse fator surpresa de encontrar novos monstrinhos e ter a sorte de conseguir recrutá-los.

Dito isso, agora você já sabe tudo que pode ser feito em Digimon Survive: assistir diálogos com horas de duração e lutar. Nós ainda temos a liberdade de entrar nos combates quando desejarmos, então quem for paciente o bastante para desbloquear isso poderá balancear um pouco o jogo, lutando quantas vezes desejar até ter coragem o bastante para assistir mais algumas horas de cenas. De qualquer forma, não tem como escapar do fato de que tudo neste jogo vai depender unicamente da sua paciência e vai exigir tempo de sobra, então é realmente muito difícil conseguir defender.

Digimon Survive é um jogo muito difícil de recomendar. Eu não recomendaria para quem é fã de Digimon, nem para quem é fã de RPG tático; o único público para quem eu realmente recomendaria são os fãs de visual novel, porque daí sim esse aqui pode ser um baita jogo. No final, é triste ver que a Bandai Namco segue perdida com a franquia, sem saber o que fazer e nem para onde direcioná-la, sendo que a resposta é muito simples: vamos voltar para as origens. Toda a série Digimon World era fantástica e ela merece ter um retorno que faça jus ao seu legado!