Crítica – Shazam!

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Desde o lançamento de “Homem de Aço” em 2013, a Warner Bros. Pictures e a DC Films têm tentado encontrar o estilo ideal para o Universo Estendido DC nos cinemas. Com a boa recepção de “Aquaman” e, agora, com a estreia de Shazam!, os estúdios parecem ter encontrado seu caminho, sem levar as obras com muita seriedade, dando um tom muito mais leve a esses. Shazam! é, até então, o filme mais “Marvel” da DC, o que é curioso, já que o personagem, conhecido anteriormente como “Capitão Marvel”, é originário da concorrente.

Na Filadélfia, Billy Batson, um garoto de 14 anos que está à procura de sua mãe, é detido pela polícia e, consequentemente, adotado pela família Vasquez. Simultaneamente, o mago Shazam busca alguém puro de coração para tornar-se o seu Campeão, recebendo seus poderes e lutando contra os Sete Pecados Capitais, liberados pelo Dr. Thaddeus Sivana. Não é nenhum tipo de spoiler dizer que, obviamente, Billy é escolhido, ganhando diversos poderes. O enredo aborda a dinâmica entre Billy e sua nova família e como ele se relaciona com seus poderes recentemente adquiridos.

No geral, o elenco trabalha bem, sendo o protagonista interpretado por Asher Angel, como Billy, e Zachary Levi, como Shazam. Angel convence nas diferentes camadas do personagem, desde seus problemas internos, relacionados ao seu passado, até como ele se comporta ao descobrir seus super poderes e como isso pode afetar o mundo ao seu redor. Já Zachary Levi, que tem um pé no humor desde “Chuck”, passa muito bem a imagem de um adolescente dentro de um corpo de adulto com super poderes, especialmente no que diz respeito à sua fisicalidade e seu timing cômico. Jack Dylan Grazer interpreta Freddy, o irmão adotivo e melhor amigo de Billy ao longo do filme, sendo muito importante para o desenvolvimento da trama e convencendo na relação entre os dois personagens.

A qualidade de um super herói e, consequentemente, de seu filme normalmente se relaciona à de seu vilão. Em Shazam!, o personagem de Mark Strong, Dr. Thaddeus Sivana, recebe bastante atenção em seu desenvolvimento, tendo uma motivação clara e convincente. Além disso, o filme estabelece desde o principio que se trata de uma batalha entre o bem e o mal, sendo o mago Shazam e seus poderes a personificação do bem e Os Sete Pecados Capitais a representação física do mal. Dessa forma, Strong interpreta Sivana como um vilão caricaturado, parecendo até mesmo genérico em alguns momentos, como, por exemplo, em recorrentes momentos nos quais o personagem tira os óculos escuros para efeito dramático. Ainda que isso possa incomodar, o vilão funciona para a proposta do filme, especialmente por se tratar de uma história de origem.

A direção é do sueco David F. Sandberg, esse que tem origem no cinema de terror, tendo dirigido “Annabelle 2: A Criação do Mal” e “Quando as Luzes se Apagam”. O diretor usa de seu background em algumas composições visuais e mostra um bom controle da cena de modo geral. Ele sabe, também, dosar momentos impactantes para que eles sejam, de fato, memoráveis como, por exemplo, um plano em que Billy se transforma em Shazam em meio a um pulo. As cenas de ação são filmadas de forma a se entender o que está acontecendo na tela, entretanto, elas são interrompidas para o filme mostrar seu lado cômico frequentemente, o que se torna cansativo ao longo das mais de duas horas de filme. Vale ressaltar que esse é o filme mais leve da DC, usando muitas vezes de um humor autorreferencial e, também, brincando com várias menções à cultura pop (a minha favorita é uma brincadeira com Street Fighter).

Como o filme bebe muito da mesma fonte que os filmes da Marvel, acaba incorporando alguns dos problemas desse universo, como, por exemplo, o uso da trilha sonora. É difícil que alguém se lembre da maioria das músicas desses filmes, sendo o tema de Vingadores talvez a exceção, e isso é observável em Shazam!. Raramente a trilha sonora evoca algum tipo de emoção, sendo majoritariamente genérica e esquecível, o que é ressaltado pelo fato de os únicos momentos em que se lembra da música serem pelo uso de canções já conhecidas. Além disso, outro problema do filme, já supracitado, é a inclusão de piadas às vezes excessivas e forçadas, quebrando o ritmo da cena. Finalmente, algumas cenas poderiam ter sido diminuídas e até mesmo cortadas sem prejuízo narrativo.

Shazam! é, talvez, o maior acerto da DC até aqui desde a trilogia do Cavaleiro das Trevas. O estúdio parece ter encontrado o tom de seus filmes, deixando muitos ansiosos para os próximos lançamentos. O longa estreia no dia 4 de abril de 2019 nos cinemas.