Coringa – Crítica

O que esperar de mais um filme da DC? O que esperar de um filme do Coringa? Depois de uma sucessão de erros da DC as expectativas não eram as melhores. Mesmo vendo trailers maravilhosos, o pé atrás estava lá mesmo, bem atrás, até mesmo porque geralmente os trailers tentam vender o filme a todo custo, ocultando e mostrando coisas que nem no filme estão e inúmeras estratégias para convencer o público. Nesse caso o que o trailer de Coringa te mostra é muito menos do que o filme realmente é, até achei a divulgação fraca e ineficiente, o que também me levou a crer que o filme seria bem mais do mesmo, porém a realidade é muito além do que se vê.  O diretor Todd Phillips não tinha em seu currículo o fisic du role esperado para um filme de um dos maiores vilões já criados, diretor de comédias como Se Beber, Não Case! e Um Parto de Viagem, Phillips foi capaz de ir além, assinando também o roteiro. Trouxe um filme de origem impecável, coerente e sóbrio, nem de longe percebe-se aquela estética genérica de filmes de heróis.

A fotografia é surpreendente, a atmosfera de Gothan City de Phillips é tão atraente que fica difícil tirar os olhos da tela, quase se pode comparar com os mundos criados por Guillermo del Toro. Tem até uma gotinha de filme francês. Aqui vemos o nascimento do Coringa como nunca poderíamos imaginar, vemos uma pessoa frágil, pobre, vulnerável e invisível para a sociedade, tentando sobreviver um dia de cada vez em uma sociedade que o faz correr na direção contrária, um personagem complexo em uma construção complexa perfeitamente bem delineada, um personagem concebido de tal forma que só Joaquin Phoenix poderia vivê-lo. E foi exatamente isso que ele fez, viveu o coringa! Phoenix não precisou enviar presentes bizarros para os colegas para chamar a atenção, ele fez isso com uma atuação brilhante e digna de todos os prêmios. Phoenix deu ao coringa a risada mais honesta e agridoce, a risada mais aberta, alegre e dolorosa, com toda certeza a cereja do bolo. Coringa coloca uma lente de aumento nas feridas abertas da sociedade e mostra as consequências cruéis desses problemas.

O filme está sendo dito por muitos como polêmico, como se alimentasse aquela velha ideia de Rousseau “O Homem nasce bom, porém a sociedade o corrompe” e nesse caso merece ser punido, existindo assim um medo coletivo da obra acabar incentivando a violência. Não entrarei nesse mérito, mas com toda certeza um filme que te faz refletir tão profundamente vale a pena ser visto. Prepare-se para sair do cinema extasiado, bom filme.