Com Amor, Simon – Crítica

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O filme conta a história de Simon, um jovem que está terminando o segundo grau e “tem uma vida igual à sua, com uma família normal, ótimos amigos e um típico colégio [americano]”, porém ele mantém em segredo ser homossexual. “Todo mundo merece uma grande história de amor” é o que diz o personagem principal no final da história e é exatamente por isso que esse filme precisou ser produzido. Estamos em 2018 e acredito que esse seja o primeiro filme adolescente de um grande estúdio em que o personagem principal seja gay. Crescemos sendo inspirados pelos grandes personagens dos filmes adolescentes de John Hughes e agora, adolescentes de todo o mundo, podem se identificar com Simon Spier (Nick Robinson). É um filme inovador e necessário em questão de representatividade, entretanto esse não é apenas o único motivo que deixa o filme tão atrativo.

“Com amor, Simon” é baseado no romance de mesmo nome escrito por Becky Albertalli. No filme, a trama se inicia quando um aluno anônimo – assinado como Blue – posta no site do colégio um texto e que diz ser gay e Simon retorna anonimamente confessando que também é. A partir de então, os dois começam a trocar mensagens sobre suas descobertas e experiências. Assim, o filme consegue se sair muito bem como um fenômeno contemporâneo, meios tecnológicos atuais como smartphones e computadores são integrados à narrativa. A ansiedade de Simon em aguardar impacientemente as notificações de e-mails de Blue em seu celular é facilmente identificável. O filme, na verdade, se sai muito bem nesses detalhes para fazer de Simon um personagem verossímil. São nos detalhes que o filme consegue ser tão atual e falar para adolescentes de sua época. Seja nas fantasias que o personagem e seus amigos vestem no Halloween, seja na vitrola em que ele ouve seus discos pessoais em seu quarto, o filme consegue colocar o público dentro da história.

Da esquerda para direita: Nick (Jorge Lendeborg), Simon (Nick Robinson), Abby (alexandra Shipp), Leah (Katherine Langford).

Esse é outro elemento muito significativo na história: suas referencias. O filme faz alusão a músicas dos anos 60 e 70, encontros de amigos à lá John Hughes e filmes dos anos 90, especialmente na cena que homenageia “10 Coisas que Eu Odeio em Você”, sendo assim divertido para vários públicos.

A história avança sempre de maneira bem elaborada e muitas vezes tentando (e conseguindo) fugir dos clichês de filmes de adolescentes e as vezes em que faz uso dos clichês, eles funcionam como devem ser, sem estragar a experiência. As cenas de drama pessoal e social estão presentes, mas é no humor que o filme se sai melhor. O humor de “Com Amor, Simon” é leve, sutil e atual. O relacionamento do personagem principal com os demais personagens é bem trabalhado e os adultos estão bem inseridos, com destaque para a professora de teatro (Natasha Rothwell) e o diretor (Tony Hale) que fazem a parte cômica e os pais (Josh Duhamel e Jennifer Garner) que ficam com as cenas mais dramáticas. Mesmo mostrando como os adultos estão despreparados para lidar com questões de aceitação e bullying (assuntos atuais que precisam ser mostrados), o filme não se perde e consegue carregar leveza e comicidade típicas de filmes de adolescentes, fator muito positivo para a construção dos eventos que se sucedem.

Ter uma comédia de “Sessão da Tarde” em que o personagem principal é gay, é um passo muito importante para dar representação na tela para aqueles que realmente precisam, além de oferecer empatia para aqueles que não viveram essa experiência. Além de existir por ser necessário, “Com Amor, Simon” é um incrível filme de adolescente que há muito tempo não se fazia e ainda mais: é atual, consegue retratar muito bem os relacionamentos de nosso tempo e será um impressionante registro de nossa época.

 

Nota 8,0/10