A Odisseia dos Tontos – Crítica

A Odisseia dos Tontos

Argentina, 2001. A comédia dramática A Odisseia dos Tontos (La Odisea de los Giles) se passa na época do histórico Corralito, quando o governo de Fernando de la Rúa interrompeu e limitou a retirada de dólares nas contas da população para evitar uma quebra financeira. E a escolha da data não foi aleatória: os protagonistas do longa acabaram extremamente impactados com a medida. E resolveram fazer algo sobre. 

O casal Fermín e Lídia Perlassi (Ricardo Darín e Verónica Llinás) chamam vários colaboradores para investir na construção de uma cooperativa numa província de Buenos Aires. Após unir uma boa quantia de dinheiro, levam o montante ao banco porém sofrem um golpe do gerente junto a um magnata logo antes do Corralito – deixando-os sem dinheiro. Os “tontos”, então, traçam um plano para conseguir a quantia de volta, contando com a ajuda do filho do casal, Rodrigo – interpretado por Chino Darín, filho de Ricardo.

Com direção de Sebastián Borensztein, o filme é baseado no livro “La Noche da la Usina”, de Eduardo Sachieri. Ele assina o roteiro junto ao diretor e ambos trazem paras as telas uma narrativa coesa e fácil de acompanhar. Já no início do longa o espectador é recebido com uma sequência eletrizante. Uma trilha épica e um tom de clímax muito forte, deixando ainda mais clara a calmaria da cidade nos momentos antecessores ao golpe. Uma boa escolha.

Apesar dos muitos motivos para tristeza e desânimo, os elementos cômicos podem ser observados desde o início da narrativa e tornam mais sutil o peso dos acontecimentos posteriores ao Corralito. Não é o tipo de humor para se gargalhar, porém consegue se sobrepor à seriedade do que se passa. A comédia e o drama seguem juntos por quase toda a história, contando com inserções de aventura e até romance. 

Os outros elementos audiovisuais fazem seu trabalho. Há diversas entradas de trilha sonora pós-silêncio, ditando um ritmo mais marcado para o filme. A decupagem é simples, porém dá espaço para o espectador perceber mais a ação dos atores, ao invés de se prender em grandes movimentos de câmera. A direção de arte e a produção representam os anos 2000 nos detalhes: roupas, carros e acessórios dos personagens – como se deve ser.     

Assim, A Odisseia dos Tontos é um filme para se assistir despreocupadamente. Não é o tipo de história para quebrar a cabeça tentando resolver um enigma e nem promete ser. É direta em sua intenção: a vingança dos tontos dará certo ou não? O longa entrega uma narrativa leve e quase utópica para um episódio sério ocorrido na vida dos argentinos. Dito isso, é uma obra divertida e que cumpre com o que propõe.